Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Milagres são raríssimos, ainda mais em política, mas um deles pode acontecer. Pedro Simon aceitou o lançamento de seu nome como candidato à presidência do Senado. Em poucas horas, vinte senadores assinaram lista de adesão à sua candidatura, sendo sete do PMDB e os demais, de diversos partidos.
É claro que pelos usos e costumes cabe à maior bancada indicar o candidato, quer dizer, o PMDB. Mas com a intransigência de José Sarney em aceitar apelo até do presidente Lula, o partido fracionou-se. Já são sete, nenhum deles com o peso do ex-presidente da República e, da mesma forma, sem a estatura de Pedro Simon.
Todo mundo tem medo de Simon, tornando-se provável que ele venha a dispor de menos da metade dos votos de sua bancada, mas, em contrapartida, a quase totalidade dos votos das oposições. Resta saber se aceitará assumir o racha. Se aceitar, estará eleito.
Por que a resistência ao representante do Rio Grande do Sul? Porque, até mais do que Sarney, botaria ordem na casa. Já disse mais de uma vez, no passado, que se fosse presidir o Senado marcaria sessões deliberativas, de votação, às sextas e segundas-feiras, e até nos sábados, se necessário.
Cortaria pela raiz mordomias de toda espécie, a começar por viagens desimportantes ao estrangeiro, custeadas por verbas parlamentares. Retiraria das gavetas embolorados projetos de importância nacional que, por isso mesmo, encontram-se paralisados. Dialogaria com independência com o Executivo e jamais permitiria ser a ordem do dia decidida no Palácio do Planalto.
Em suma, um candidato para ninguém botar defeito, e, por isso mesmo, só por milagre capaz de ser escolhido. Mas milagres em política, vale repetir, às vezes acontecem...
Polícia sim, Police, não
Uma fotografia escandalizou os cariocas, esta semana: o estádio do Maracanã tendo sua grama revolvida e esburacada para a implantação de palanques e penduricalhos para a apresentação do grupo de rock inglês The Police, aliás, um grupo de velhos barulhentos especializados em agredir multidões. E nem se tem a certeza delas comparecerem.
Aqui para nós, estádios de futebol deveriam ser como catedrais. Jamais prestar-se a espetáculos destituídos de sentido esportivo, como as catedrais obrigam-se a abrigar cerimônias sempre com aura religiosa. O futebol, para nós, é uma religião, mais uma vez agredido e aviltado pela entrada em campo de bandas turbulentas e até, no caso atual, ultrapassadas.
O Maracanã precisa de polícia, nas arquibancadas e nos pátios externos, para garantir cada vez mais segurança aos assistentes. Prescinde, porém, de "police", mesmo num fim de ano sem atividades esportivas. Num período em que deveríamos estar preparando a longínqua Copa do Mundo de 2014, torna-se inexplicável ceder o maior estádio do planeta para tremeliques dessa ordem.
O Plano "B" pode ser o Plano Burro
Prepara-se o governo para, amanhã, enfrentar uma de suas maiores provas de choque, desde que o presidente Lula assumiu o poder. Tratou-se de uma sucessão de erros que o Palácio do Planalto, agora, tenta açodadamente corrigir. A prorrogação da CPMF deveria ter sido armada desde o começo do ano, sem açodamentos. A pretensão de onipotência dos companheiros foi empurrando com a barriga a votação de emenda imprescindível ao bom desempenho governamental no segundo mandato. Imaginaram o governo, o PT e seus aliados que prorrogar o imposto do cheque seria mera rotina, dependendo apenas do rolo compressor montado desde os tempos do mensalão.
Importa menos a surpresa de que os criadores da CPMF, tucanos, democratas e penduricalhos, tornaram-se agora ferrenhos defensores do bolso do cidadão comum, empenhados em extinguir essa abominável e obrigatória contribuição. Também não interessa lembrar a metamorfose ambulante que conduz os companheiros e seu chefe à sustentação daquilo que negaram não faz muito.
Do que se fala é da falta de coordenação e do excesso de soberba tão comuns aos atuais detentores do poder. Descuidaram-se e agora só dispõem do dia de amanhã para garantir 40 bilhões de reais no orçamento do ano que vem.
O pior de tudo está na falta de alternativas para o caso da derrota. Inexiste um Plano "B", ou seja, faltando da noite para o dia recursos tão vultosos, farão o quê? Ameaça o ministro Guido Mantega com o aumento de impostos e o corte em investimentos sociais e materiais. Trata-se do Plano Burro, precisamente para onde as oposições conduzem a situação, num ano de eleições municipais, ante-sala ou ensaio-geral das eleições gerais de 2010.
Fonte: Tribuna da Imprensa