Karla Correia BRASÍLIA
Acostumado a mover sua base parlamentar como um rolo compressor para aprovar matérias no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o núcleo político do governo e mais um mutirão de governadores de todo o espectro político passam esse fim de semana pendurados no telefone batalhando para conquistar nada mais do que três votos no Senado. É o que falta, nas contas do governo, para conseguir cravar o mínimo de 49 votos necessários para aprovar a prorrogação da CPMF e evitar a empreitada de ter que repensar o Orçamento da União para 2008 com R$ 40 bilhões a menos no lado da arrecadação. Desde a última quarta-feira, os cálculos feitos e refeitos no Palácio do Planalto encalharam na soma de 46 votos. Piora o cenário o fato de cinco dos senadores que se declaram contrários à manutenção do tributo pertencerem à bancada governista.
O quadro que se desenha a poucos dias da peleja que será travada no plenário do Senado coloca boa parte das chances do governo nas mãos de seus adversários políticos. Os principais negociadores do governo ficaram em Brasília no fim de semana, em um plantão à caça de votos. De viagem marcada para a Argentina, Lula encarregou-se de ligar para senadores aliados e de oposição todos os dias, ouvindo demandas e propondo soluções. Da mesma forma, a oposição fará vigília na capital federal.
Segundo o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), apesar do discurso inflexível dos tucanos no Senado, a bancada do PSDB ainda está aberta ao diálogo. Falta o governo fazer uma proposta que permita ao partido mudar de posição em relação à CPMF sem comprometer sua imagem, depois dos senadores tucanos passarem mais de um mês criticando a manutenção do tributo.
Mãos vazias
- Depois desse tempo todo, o partido precisa de um avanço muito concreto na negociação da CPMF para permitir que senadores da bancada votem livremente, sem o prejuízo político da mudança de opinião - pondera o governador, encarregado de conquistar o voto do companheiro de legenda Cícero Lucena (PB). A maior dificuldade, acredita Cássio, será superar os erros de estratégia cometidos pelo próprio governo, que tentou pressionar o PSDB fazendo barulho em torno de cada reunião marcada para conversar com o partido e acabou de mãos vazias.
- No final das contas, acordo mesmo só vai acontecer na undécima hora, na madrugada da terça-feira. Em uma conversa desse porte, os dois lados esticam ao máximo as possibilidades, para evitar qualquer risco de recuo. Isso é do rito da negociação.
Sensível à necessidade de deixar de lado a negociação no varejo e fazer ofertas que dêem aos adversários motivo razoável para estender a mão ao governo, o Planalto acena com a possibilidade de uma ampliação de vulto na parcela da CPMF destinada à saúde. Hoje, dos 0,38% cobrados sobre o valor de cada cheque e cada transferência bancária, 0,20% vão para o financiamento da saúde pública. Na sexta-feira, o governo lançou como isca para os partidos da oposição a hipótese do aumento dessa parcela para 0,30%. Da mesa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a idéia foi transmitida ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) e aos governadores.
- É uma promessa de vulto que, certamente, vai ajudar a converter alguns votos - acredita o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), recentemente beneficiado com o aval da Secretaria do Tesouro Nacional para que seu Estado renegocie sua dívida com a União, estimada em R$ 5,7 bilhões. Blairo conversa diariamente com os senadores da bancada matogrossense Jayme Campos e Jonas Pinheiro, ambos do DEM.
Na disputa voto a voto, a possível adesão dos dois oposicionistas reluz como ouro aos olhos do Planalto. Os simpatizantes da CPMF, como diz o governador, temem a retaliação do partido. Ciente do potencial político da conversão, Blairo promete tudo. Até abrigo político, no caso dos dois senadores serem expulsos do DEM.
Fonte: JB Online