sábado, dezembro 08, 2007

Prova da negligência

Laudo da Polícia Técnica mostra que Fonte Nova não tinha condições de suportar público dos jogos do Bahia


Jairo Costa Júnior

O Departamento de Polícia Técnica (DPT) divulgou ontem laudo sobre o desastre ocorrido na Fonte Nova em 25 de novembro, quando morreram sete pessoas, vítimas do desabamento de parte da arquibancada situada no anel superior. Segundo a perícia, a área onde aconteceu a tragédia não tinha condições de suportar o esforço a que vinha sendo submetido durante os jogos da Série C do Campeonato Brasileiro.
O laudo assinado pelos engenheiros Roberto Ventin e Edmundo Rodamilans, do setor de estudos de criminalística do DPT, afirma que a área onde ocorreu o desabamento apresentava fissuras, infiltrações, oxidação irreversível das ferragens, aço corroído e desprendimento de pedaços de concreto devido à falta de aderência. De acordo com o documento, a estrutura do local apresentava alto índice de debilidade, o que tornava insegura a permanência de torcedores.
Até o momento, a análise técnica do DPT é a prova mais importante no inquérito criminal que apura as responsabilidades sobre a segunda maior tragédia da história do futebol brasileiro, conduzido pela delegada Marilda Marcela da Luz, vice-diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom). “A perícia desqualifica a empresa que emitiu o laudo liberando todo o estádio para o jogo (entre o Bahia e o Vila Nova, válida pela penúltima rodada da terceira divisão do campeonato)”, avaliou.
Contudo, Marilda atesta que ainda não recebeu tal laudo, apesar de já ter solicitado o documento à Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). “Quem assinou a análise que possibilitou a abertura do anel superior deixou de observar os problemas apontados pela perícia, já que a Sudesb é obrigada a contratar especialistas para realizar estudos de viabilidade relativos à segurança das pessoas”, assinalou a delegada.
Depoimentos - A partir da próxima segunda-feira, a Polícia Civil ouvirá autoridades e pessoas envolvidas direta ou indiretamente na gestão da Fonte Nova. Entre eles, o superintendente da Sudesb, Raimundo Nonato, o Bobô, além de representantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Federação Baiana de Futebol (FBF), Vigilância Sanitária, Superintendência de Uso, Controle e Ordenamento do Solo do Município (Sucom), Polícia Militar (PM) e dirigentes do Esporte Clube Bahia.
Ao longo da semana, foram colhidos depoimentos de parentes dos sete mortos e de sobreviventes da tragédia. O prazo final para conclusão do inquérito se esgota em 25 de dezembro, quando o acidente completará 30 dias. Em seguida, o caso será acompanhado pelo Ministério Público Estadual (MPE), que decidirá se abrirá ou não ação criminal contra os acusados. O Correio da Bahia tentou falar sucessivas vezes com Bobô, para comentar o resultado da perícia do DPT e buscar informações sobre a empresa que emitiu o laudo liberando o anel superior, mas não obteve sucesso.
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Busca de parceiros
O grupo de trabalho (GT) montado pelo governo do estado para viabilizar a candidatura de Salvador como uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 se reuniu ontem, na Secretaria de Indústria Comércio e Mineração, situada no Centro Administrativo da Bahia. No encontro, os integrantes do GT definiram janeiro de 2008 como data-limite para elaboração de um protocolo de intenções, no qual serão identificados possíveis parceiros interessados em construir um novo estádio no mesmo local da Fonte Nova.
Em nota distribuída no fim da tarde de ontem pela Agência de Comunicação do governo (Agecom), o chefe do gabinete de Jaques Wagner, Fernando Schimidt, disse que os interessados deverão cumprir dois requisitos básicos: garantir a capacidade de 60 mil torcedores no estádio que será erguido e obedecer os padrões da Federação Internacional de Futebol (Fifa) relativos a acesso, estacionamento, segurança e conforto.
Ainda não há um cronograma definido para os trabalhos do GT, mas os integrantes do grupo esperam finalizar o edital para construção do novo estádio dentro do prazo estabelecido pela Fifa. O próximo passo, segundo a nota da Agecom, é discutir com a Procuradoria Geral do Estado (PGE) os aspectos legais relativos ao modelo ideal para execução do serviço: a opção pela parceria público-privada (PPP) ou através de regime de concessão pública.
O GT também dá como certa a construção de um centro de convenções em área anexa ao novo estádio. Contudo, o grupo garantiu estar aberto a sugestões enviadas pelos futuros parceiros, a exemplo da probabilidade de erguer um shopping center no local. Segundo a Agecom, os dirigentes dos times baianos também serão convidados a opinar sobre o projeto.
Fonte: Correio da Bahia