sábado, dezembro 08, 2007

Heloísa Helena visita bispo em greve de fome

SOBRADINHO (BA) - Ao entrar no 11º dia de jejum em protesto contra as obras de transposição do Rio São Francisco, em Sobradinho (BA), 554 quilômetros a noroeste de Salvador, o bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, recebeu a visita da presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, e de uma comitiva de deputados de Sergipe, capitaneada pelo ex-governador do Estado João Alves Filho (DEM).
Visivelmente abatido e apresentando sinais de anemia e desidratação, d. Cappio não deixou de conversar com os visitantes, que foram enfáticos em mostrar apoio ao protesto do religioso. "Vim prestar minha solidariedade", repetia Heloísa Helena, que aproveitou para atacar o projeto de transposição e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), responsável pela obra.
"Quem está precisando de misericórdia divina, diante de tantas mentiras sobre a transposição, é o ministro", dispara. "Antes de ser ministro, ele era totalmente contrário ao projeto, depois mudou de opinião. Isso mostra o balcão de negócios que é aquilo (o ministério)". Já Alves Filho ressalta a "coragem" do bispo na "defesa dos mais humildes". "Estamos unidos pelos ideais e pela fé", afirma.
Ao entrar no 11º dia de greve de fome, d. Cappio lembrou que, da primeira vez que fez o protesto contra a transposição, dois anos atrás, o jejum durou também 11 dias - a manifestação foi concluída por um acordo com o governo federal, que garantiu que ampliaria os debates sobre a transposição antes de tocar as obras.
O bispo ressaltou, porém, que acredita que, desta vez, haverá uma "batalha mais longa, de fim imprevisível". "Eu até entendo essas pessoas que nem sempre se deixam levar pela verdade dos fatos, quem sabe pelos interesses próprios, pelos interesses do grupo que fazem parte", diz d. Cappio. "O que nos indigna é a mentira, a propaganda enganosa que foi construída para que o projeto fosse aceito, quando eles dizem que essa água é pra matar a sede dos pobrezinhos do semi-árido."
Ingerindo pelo menos três litros de soro caseiro por dia, para evitar o avanço mais rápido da desidratação, e com aparência cansada, d.Cappio descarta a possibilidade de desistir do protesto. "O apoio que estou recebendo torna irreversível a decisão de manter o protesto até o fim", garante. "Mas me sinto muito forte, muito sadio, muito cheio de vida. Mesmo que às vezes o corpo fique um tanto combalido, o espírito está muito fortalecido."
A próxima grande manifestação de apoio a d. Cappio está prevista para ocorrer amanhã: uma romaria que, segundo a organização, deve reunir 10 mil pessoas, provenientes de vários estados, em Sobradinho. Na cidade, será realizado um ato ecumênico em defesa do Rio São Francisco.
Preocupação
Líder do governo baiano na Assembléia Legislativa, o deputado estadual Waldenor Pereira (PT), afirma que o governador Jaques Wagner (PT) "acompanha com preocupação" a greve de fome do bispo. Foi Wagner, à época ministro de Relações Institucionais, quem intermediou o acordo entre governo e o bispo que selou o fim da primeira greve de fome do religioso.
O governador evita comentar a greve de fome, alegando que esse assunto é da alçada do governo federal, mas determinou à Secretaria da Saúde que providenciasse todo o suporte para atendimento de emergência do bispo, em caso de necessidade. Uma ambulância com profissionais de Saúde de plantão foi posta à disposição de d. Cappio. Além disso, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) disponibilizou um avião com UTI móvel para o caso de ele ter de ser transportado com urgência para Salvador.
Fonte: Tribuna da Imprensa