SALVADOR - Três quilos mais magro em razão dos oito dias de jejum que já enfrentou em seu protesto contra a transposição do Rio São Francisco, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, recebeu, ontem, a visita do cardeal dom Geraldo Majella, arcebispo primaz do Brasil, na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA), 554 quilômetros a Noroeste de Salvador.
Segundo d. Majella, a visita foi apenas uma forma de levar apoio religioso a d. Cappio. "Viemos conversar e rezar um pouquinho com ele", afirmou o cardeal, que foi acompanhado, na visita, pelo presidente da regional Bahia e Sergipe da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Ceslau Stanulla.
Dom Majella e d. Cappio tiveram uma reunião a portas fechadas durante ontem durante a manhã. De acordo com ambos, não houve tentativa de convencer o bispo a deixar a greve de fome. "A decisão está a cargo da consciência dele", afirma o cardeal. "Mas mostramos a ele que é importante que ele permaneça vivo e com saúde".
Dom Cappio respondeu que se sente bem, com saúde e "cheio de vida". "A visita foi como uma vitamina", brincou. "Foi uma grande demonstração de solidariedade". No fim da tarde, cerca de mil pessoas, entre religiosos, pescadores e trabalhadores rurais, participaram de um ato público de apoio ao protesto do bispo.
Coordenador e ministro discordam sobre transposição
BRASÍLIA - Para o coordenador do movimento Articulação Popular pela Revitalização do Rio São Francisco, Ruben Siqueira, o projeto do governo federal, de transpor as águas do rio, atenderá somente a interesses econômicos que requerem infra-estrutura hídrica para uso intensivo de água, como a fruticultura integrada, a criação de camarão e a siderurgia. "Por trás do projeto está a intenção de estabelecer no Nordeste, e daí para todo o Brasil, o pagamento da água bruta. Porque a água que chega lá é cara, e para a produção econômica com essa água precisa haver um subsídio que não será público, mas pago pela população nas contas domésticas".
Segundo ele, a transposição não tem a ver com a seca e nem com a sede: trata-se de um projeto econômico e não social. "A água não vai ser subsidiada para a população sedenta, que enfrenta as dificuldades da seca. Os canais vão passar muito longe dos sertões mais secos e das populações difusas. A água vai se concentrar em direção aos grandes açudes e das áreas de potencial econômico. Então, não é um projeto social, não tem o objetivo de minimizar os efeitos da seca, esses continuarão."
O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, cuja pasta é responsável pela condução das obras, rebate as declarações e afirma que o projeto vai atender "prioritariamente" ao abastecimento de água para humanos e animais. "Respeito a posição daqueles que eventualmente, até por falta de conhecimento, discordam do projeto, que é ambientalmente sustentável, economicamente justo e socialmente importante", disse.
"Ao contrário de alguns, eu não tenho preconceito nenhum de que o excedente de água possa ser utilizado na produção. Até porque, as pessoas do Nordeste precisam de água, de emprego, de produção para ter renda e de dignidade para criar suas famílias".
Fonte: Tribuna da Imprensa