Bispo recebe parlamentares mas afirma que mantém greve de fome
Opresidente da Comissão Especial do São Francisco da Assembléia Legislativa, deputado Misael Neto (DEM), visitou ontem o bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, que está em greve de fome desde terça-feira em protesto contra o projeto de transposição das águas do Velho Chico, em Sobradinho, a 554km de Salvador. Acompanhado do deputado Roberto Carlos (PDT), Misael ficou impressionado com a determinação do religioso de levar o protesto até as últimas conseqüências.
“Ele está mesmo decidido, e isso nos preocupa. Colocamos a comissão como um instrumento de intermediação entre o bispo e o governo do estado, afinal foi o atual governador, Jaques Wagner (PT), que, quando ministro das Relações Institucionais, negociou com dom Cappio o fim da primeira greve de fome”, disse Misael Neto, representante de Juazeiro no Legislativo baiano, município banhado pelo São Francisco.
O deputado contou que a comissão já solicitou uma audiência com o governador por meio do líderes do governo, o petista Waldenor Pereira, e do PT, Zé das Virgens. Também foi enviado um ofício à Governadoria. “Nosso objetivo não é o de constranger o governador, pois a comissão tem uma posição neutra sobre a questão da transposição. O que queremos é contribuir para solucionar o problema. Não vamos tomar partido de ninguém”, assegurou Misael Neto.
Na conversa com os deputados, o bispo disse que vai manter o jejum até que o projeto de transposição seja definitivamente arquivado pelo governo federal. O projeto é tocado pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que também está irredutível. Dom Cappio disse aos deputados que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mentiu quando o religioso encerrou a primeira greve de fome, por intermédio do então ministro Jaques Wagner, em 2005.
“O bispo disse que lhe foi prometido que a transposição não seria levada adiante, não sem uma ampla discussão com a sociedade”, salientou Misael Neto. O presidente da Comissão Especial do São Francisco quer a realização de uma audiência pública na Assembléia para debater o assunto, com a presença do religioso. “Mas isso vai depender do que vai acontecer daqui para lá”, declarou.
Médico - Ontem, quarto dia de greve de fome, o bispo afirmou que “muito mais importante do que a minha pessoa é o problema do rio, o problema do povo”. Durante todo o dia, a movimentação foi intensa, tanto da população local como de pessoas de outras cidades. Ele chegou a ser atendido por um médico que garantiu o bom estado de saúde do religioso.
O clínico geral Edil Santos chegou acompanhado por uma nutricionista e pelo secretário de Saúde de Juazeiro, Armando Soares. Ele examinou o bispo a portas fechadas, mas afirmou que tanto o batimento cardíaco como a pressão estavam normais.
O bispo continuou a comentar a carta encaminhada ontem ao povo do Nordeste. Ele disse que “existe uma propaganda enganosa” porque “esse projeto não tem nenhuma preocupação com os pobres”. Durante a visita do bispo da diocese de Petrolina (PE), dom Paulo, houve uma leitura da carta no gramado ao lado da igreja. Amanhã, o religioso celebra uma missa campal em frente à igreja de São Francisco, ao lado de padres da região.
Fonte: Correio da Bahia