As primárias de Iowa iniciam o processo que levará à escolha dos candidatos democrata e republicano à presidência
Cristiano Dias
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Em novembro de 2008, os americanos escolherão um novo nome para comandar o país mais rico do mundo. Quem assumir essa tarefa terá um salário de US$ 400 mil, poderá gastar como quiser outros US$ 2,7 trilhões do orçamento federal e controlará a maior máquina militar do planeta. A briga por esse emprego começa na quinta-feira, com o início das primárias que definirão os dois candidatos, democrata e republicano, à presidência dos EUA.
A disputa está mais acirrada no Partido Republicano. O ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani liderou a maior parte da campanha, mas nas últimas semanas perdeu espaço para o pastor evangélico Mike Huckabee. O prefeito da maior cidade do país durante os ataques de 11 de Setembro tentou capitalizar votos com o drama vivido pelos nova-iorquinos em 2001, mas encontrou resistência entre os conservadores, que não toleram o fato de ele ser a favor do aborto e do casamento gay.
Em novembro, Giuliani tinha uma vantagem folgada, superior a 10 pontos porcentuais, mas caiu de 31% para 21% nas intenções de voto. Huckabee, que dialoga mais facilmente com a direita religiosa do partido, subiu de 6% para 18%, praticamente empatando a disputa."Huckabee prega um populismo gospel, que rejeita qualquer forma de conservadorismo ortodoxo, principalmente o econômico", disse por e-mail ao Estado o analista Eugene Dionne Jr, do Brookings Institution, de Washington. "Ele está mais preocupado com a proibição do aborto do que com o andamento da economia. E é por isso que ele mete medo em boa parte dos republicanos."A trincheira republicana ainda tem outros três nomes de peso. Colado em Huckabee está o mórmon Mitt Romney, seguido pelo herói de guerra John McCain - os dois estão em ascensão - e pelo ator Fred Thompson, que chegou à vice-liderança em outubro, mas que entrou em queda livre desde então.
ANO DEMOCRATA
O lado democrata está menos dividido. A ex-primeira-dama Hillary Clinton lidera com folga e pode tornar-se a primeira mulher presidente do país. Correndo por fora está o senador negro Barack Obama, que andou minando a larga vantagem de Hillary, mas ainda permanece bem atrás. Toda eleição americana sempre guarda surpresas. Em 2004, John Kerry derrotou o favorito Howard Dean, tornou-se candidato, mas acabou derrotado pelo presidente George W. Bush. Zebras à parte, quase ninguém duvida que 2008 será um ano democrata.
O Partido Republicano, atormentado pela impopularidade de Bush, não sabe para que lado correr. A disputa acirrada entre os candidatos republicanos, segundo analistas, seria uma prova dessa indecisão.
A crise de confiança refletiu-se em todos os fronts da campanha. Até outubro, os democratas haviam arrecadado 70% mais dinheiro do que os rivais e quase dois terços dos eleitores acreditavam que o próximo presidente sairia da oposição.
Além disso, alguns Estados-chave, fundamentais na reeleição de Bush, como Ohio, Virgínia e Colorado, estão mudando de lado. Portanto, quem vencer as primárias do Partido Democrata, parte como favorito a ocupar a Casa Branca pelos próximos quatro anos.
Antes mesmo da largada, a eleição presidencial, marcada para 4 de novembro, já bateu pelo menos dois recordes. Primeiro, será a que teve a campanha mais longa. A razão foi um movimento generalizado de antecipação das primárias. Durante décadas, Iowa abria o processo de escolha, em janeiro, e era seguida pelas primárias em New Hampshire.Entretanto, Estados com menos importância passaram a adiantar suas próprias primárias para atrair a atenção dos eleitores e servir de tendência para o restante do país. Em tese, esses Estados cresceriam em importância e passariam a receber candidatos em campanha. O resultado, porém, foi uma corrida frenética que bagunçou o calendário eleitoral.
A confusão começou na Flórida, que em maio adiantou suas primárias de 5 de fevereiro para 29 de janeiro. Isso tirou da Carolina do Sul o status de ser o primeiro Estado do sul a escolher seus delegados.
Assim, para não ficar atrás, a Carolina do Sul também anunciou em agosto que anteciparia seu processo para 19 de janeiro. Isso gerou um efeito dominó, espremendo o calendário de primárias no início do ano e deixando a campanha mais longa.
O segundo recorde será o de campanha mais cara de todos os tempos. Enquanto em 2004 Bush e Kerry arrecadaram cerca de US$ 500 milhões, em 2008 a estimativa é a de que seja gasto US$ 1 bilhão.
FATOR IOWA
As primárias de Iowa, que abrem o processo, são consideradas chave para a nomeação de um candidato porque dão fôlego aos vencedores. O resultado também serve como termômetro para que candidatos que estão se arrastando nas pesquisas desistam da corrida e negociem um apoio que pode ser decisivo para outros concorrentes.
O dia D para todos eles será o 5 de fevereiro, batizado de "Superterça", quando 40% dos delegados serão escolhidos em 22 Estados. Se ainda assim não sair a nomeação, o processo segue até junho e encerra-se com as primárias de Montana, Dakota do Sul e Novo México.PERFIL DOS CANDIDATOS
DEMOCRATAS Hillary Clinton - 60 anos, pode ser a primeira mulher presidente dos EUA. É senadora por Nova York e foi primeira-dama do país quando seu marido, Bill Clinton, foi presidente, de 1993 a 2001. Promete levar o sistema de saúde para 47 milhões, mas é criticada pelos adversários em razão de sua pouca experiência política. Lidera com folga a corrida do lado democrataJohn Edwards - 54 anos, ex-senador pela Carolina do Norte e vice-presidente na chapa de John Kerry na eleição de 2004. Sua principal bandeira é o combate à pobreza. Reconheceu que errou ao votar pela autorização da ação militar americana no Iraque e agora pressiona pela retirada das tropas
Barack Obama - 46 anos, senador por Illinois, pode ser o primeiro presidente negro dos EUA. Foi um dos poucos que, desde o início, se opôs à guerra do Iraque. Nas últimas semanas, embora ainda esteja longe de Hillary, subiu muito nas pesquisas, principalmente depois que conseguiu o apoio da apresentadora de TV Oprah Winfrey
REPUBLICANOS Rudy Giuliani - 63 anos, ex-prefeito de Nova York, faz questão de lembrar, a toda hora, de sua liderança à frente da maior cidade do país durante os ataques de 11 de Setembro. Amplamente rejeitado por muitos eleitores republicanos por ser a favor do aborto, do controle de armas e dos direitos dos gays. Tem liderado as pesquisas, mas sofreu uma queda brusca nas últimas semanas Mike Huckabee - 52 anos, ex- governador de Arkansas e pastor evangélico. Usa a religião para ganhar os eleitores mais conservadores. É contra o casamento gay e o aborto. Conhecido pelo bom humor, mas criticado pela falta de conhecimento em política externaJohn Mccain - 71 anos, senador pelo Arizona, foi baleado no Vietnã em 1967, onde ficou cinco anos e meio como prisioneiro de guerra. Apóia tanto a guerra no Iraque que defende, inclusive, um aumento das tropas para conter a violência no país
Mitt Romney - 60 anos, ex-governador de Massachusetts. Tentou lançar-se como a alternativa conservadora do partido, opondo-se ao casamento gay e ao aborto - embora no passado tenha apoiado ambos. Se eleito, Romney seria o primeiro presidente mórmon
Fonte: Estadao