Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Tudo depende de hoje. Caso o governo consiga os 49 votos de senadores para prorrogar a CPMF, todos os planos e projetos oficiais se desenvolverão em ritmo vertiginoso. O sorriso do presidente Lula só não será maior do que a porta do tesouro nacional, então aberta para a liberação de recursos os mais variados. Porque dinheiro sempre tem, ou se arranja.
No reverso da medalha, se as oposições conquistarem 33 votos, terão derrotado o Palácio do Planalto, que em represália fechará torneiras, cortará propostas já empenhadas e estenderá a carência e o sofrimento a quem nada teve a ver com a votação no Senado, ou seja, a população.
A disputa pela continuidade do imposto do cheque transformou-se numa tertúlia essencialmente política. Passa a quilômetros de distância da falta que farão, ou não farão, os tais 40 bilhões de arrecadação previstos para 2008. Virou questão parecida com aquela dos dois meninos que traçam uma linha no chão e convencionam que as respectivas mãezinhas serão pouco sérias caso o contendor dê um passo à frente.
Fazer previsões é arriscado. O jogo parece decisão de campeonato na última partida, onde vale gol com a mão no minuto final. De sábado para cá subiu a cotação das ações contrárias à prorrogação, como se registrou um certo conformismo nas hostes oficiais, admitindo alguns ministros falar em plano "B", ou seja, em punir a sociedade pelo que poderá ser uma decisão de seus ditos representantes.
Mesmo assim, não dá para concluir nada. Senadores existem à espera das derradeiras benesses, nomeações, favores e liberações de verbas prometidas em troca de votos. Melhor aguardar, sem prognósticos de qualquer espécie.
Oportunidade perdida
Também hoje o presidente interino do Senado, Tião Viana, reunirá os líderes dos partidos para saber se haverá ou não consenso para a escolha do sucessor de Renan Calheiros. Tudo depende do PMDB, maior bancada, com vinte senadores. José Sarney seria um denominador comum, se voltasse atrás na disposição de não se candidatar. Nesse caso, mesmo com o senador Artur Virgílio estrilando, estaria garantida a vitória do ex-presidente.
O plano "B", ainda na esfera do PMDB, chama-se Garibaldi Alves, ex-governador do Rio Grande do Norte, com chances de eleger-se, mesmo sem a unanimidade da bancada e com certa má vontade dos demais partidos.
É claro que na teoria existe o plano "P", de Pedro Simon, lançado por senadores de outras legendas e contando com apenas oito companheiros do PMDB. Ele mesmo reconheceu que jamais sua bancada o indicaria, mas, se indicasse, estaria consagrado. Como sua ascensão à presidência do Senado envolveria o fim das viagens supérfluas de senadores ao estrangeiro, mais a realização de sessões às segundas, sextas-feiras e até sábados, com o inflexível corte nos vencimentos dos faltosos, conclui-se que o PMDB só por milagre o escolherá.
Será de apenas um ano o mandato do novo presidente do Senado, prazo apontado como motivo principal da recusa de José Sarney, cujos planos envolvem sua eleição para o biênio 2010-2011, com direito a permanecer no cargo em 2012-2013, por tratar-se de uma nova Legislatura.
Apesar de atento à movimentação dos senadores, o presidente Lula não pretende interferir. A menos, por certo, que se firmasse a candidatura de Pedro Simon. Porque também o Palácio do Planalto tem medo dele...
É preciso mais atenção
Eventuais leitores desta coluna não andam prestando atenção no que vai publicado. Já pela segunda vez fui acusado de estar pregando o terceiro mandato para o presidente Lula. Pelo amor de Deus!
Jamais poderá significar apoio o fato de haver divulgado primeiro do que alguns colegas o perigo de a Constituição ser alterada para permitir que o presidente Lula dispute mais um mandato. Pelo contrário, alertar nunca foi demais, diante do fato de o PT não dispor de outro candidato eleitoralmente viável, como demonstram as pesquisas. Como os companheiros abominam perder o poder, poderiam partir para a solução.
É esse o perigo, de as regras do jogo serem mudadas depois dele ter começado, sem tirar nem pôr a mesma estratégia do sociólogo, anos atrás.
Porque uma coisa é certa: se Lula puder candidatar-se, estará automaticamente eleito. Coisa que caracterizaria um desastre institucional, mais ou menos como a nossa transformação numa Venezuela inchada.
Imaginei desnecessária essa explicação, mas, pelo jeito, tem leitor por aí que não entende nada. Talvez sintam necessária a utilização de adjetivos de botequim, de virulência desmedida para reagir ao terceiro mandato. Não é preciso. A própria tese fala por ela mesmo, mas, para encerrar o assunto, trata-se de uma hipótese abominável, ditatorial e indigna de quem a propuser ou vier a promovê-la.
Por; Carlos Chagas