Dom Cappio só encerra greve de fome se governo parar transposição
O bispo de Barra, dom Luiz Cappio, revelou, em encontro com o deputado Misael Neto (DEM), estar decepcionado com o governador Jaques Wagner e com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Há 12 dias em greve de fome contra o projeto de transposição do rio São Francisco, Cappio retomou protesto feito em 2005 e que só foi interrompido após compromisso firmado naquele ano com o presidente Lula, por intermédio de Jaques Wagner, então ministro das Relações Institucionais. “Ele se disse decepcionado com o governador Wagner e o presidente Lula, pois encerrou sua greve anterior com a promessa de que haveria diálogo, que logo após a eleição foi suspenso e o processo de transposição seguiu em frente”, relatou o parlamentar, que esteve com o religioso intregrando comissão da Assembléia Legislativa.
O frei Luiz vem recebendo mensagens de apoio de todo o país e até do exterior, como o do Nobel da Paz de 1980, Adolfo Péres Esquivel. As manifestações em apoio a dom Cappio chegaram ontem a Salvador, em ato do Fórum Permanente em Defesa do Rio São Francisco realizado no Chafariz do Terreiro de Jesus. Segundo Lucedalva Xavier, membro do fórum e presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos da Bahia, cerca de cem pessoas participaram da mobilização. “Em grande parte, estamos de preto para simbolizar a morte do São Francisco. O rio está morrendo. Estamos protestando contra isso e a posição do governo de agravar a morte do São Francisco”, disse.
Lucedalva Xavier avisou que o protesto em Salvador só não atraiu mais pessoas porque muitas se preparam para a romaria em adesão à luta de frei Cappio, amanhã, em Sobradinho, moradia do bispo durante o jejum. Seis ônibus vão partir da capital. “Conclamo toda a sociedade a participar desta luta, que é de todos”, defende ela. “Com a morte do rio, vão morrer as pessoas do rio. Ribeirinhos, quilombolas, índios, pescadores, todos aqueles que vivem do rio”.
Há uma previsão da romaria atrair cerca de dez mil pessoas. Só o MST, que publicou carta de apoio ao jejum, promete levar cinco mil pessoas. O movimento deve permanecer mais tempo em Sobradinho, pois está prevista para segunda-feira uma mobilização da Via Campesina, que congrega diversas entidades ligadas à luta pela terra.
O líder do governo na Assembléia Legislativa, deputado Waldenor Pereira (PT), afirmou que o governador Jaques Wagner “acompanha com preocupação” a greve de fome do bispo. O bispo apenas bebe água e soro caseiro, para controlar a anemia e a desidratação. Mesmo com dificuldades de saúde, o religioso mantém-se firme no sentido de só suspender o jejum com o engavetamento definitivo do projeto e a saída do Exército do canteiro da obra. “As tropas do exército no eixo norte e no eixo leste é um absurdo, parece uma coisa de guerra”, comentou.
Hoje, a atriz Letícia Sabatella vai a Sobradinho prestar solidariedade ao bispo. Ela faz parte do movimento Humanos Direitos – criado pela atriz Dira Paes –, que reuniu assinaturas de diversos artistas em apoio a dom Luiz Flávio Cappio. “Me sinto muito forte, muito sadio, me sinto muito cheio de vida, e mesmo que às vezes o corpo fique assim, um tanto combalido, mas o espírito está muito fortalecido. Ele está de pé e eu acredito que nós vamos prá frente”, disse dom Luiz, em comparação ao jejum de 2005. “Eu até entendo essas pessoas que nem sempre se deixam levar pela verdade dos fatos, quem sabe pelos interesses próprios, pelos interesses do grupo que fazem parte”.
Um grupo de deputados sergipanos, capitaneados pelo ex-governador João Alves Filho (DEM), e a ex-senadora Heloisa Helena (Psol) estiveram ontem em Sobradinho para se associar ao gesto do frei. João Alves Filho ressaltou a “coragem” do bispo na “defesa dos mais humildes”. “Estamos unidos pelos ideais e pela fé”, afirmou. “Quem está precisando de misericórdia divina, diante de tantas mentiras sobre a transposição, é o ministro (da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima)”, disparou Heloisa Helena.
Fonte: Correio da Bahia