domingo, novembro 04, 2007

Vinte e três presos fogem da delegacia de Itinga

Grupo passou a noite no pátio de banho de sol e serrou três grades para alcançar a rua


Bruno Wendel
Opéssimo estado de conservação da carceragem, a superlotação das celas e uma possível conivência dos policiais de plantão resultaram, ontem de madrugada, na fuga em massa de 23 presos de uma mesma ala da 27ª Delegacia (Itinga). Depois de serrarem três grades, os detentos atingiram a sala de custódia e saíram do prédio. Para chegar à rua, pularam o muro da área externa. De acordo com um agente, num procedimento incomum, os reclusos haviam passado a noite no pátio usado para o banho de sol, em vez de ficarem nos xadrezes, como de hábito.
No início da manhã, policiais civis e militares realizaram buscas na região, mas não conseguiram capturar nenhum dos foragidos. A maioria dos fugitivos responde por assalto e foi transferida de outras delegacias. Com capacidade para 16 presos, a 27ªDP abrigava 35. Pouco mais de um mês atrás, em 29 de setembro, dez outros detentos também escaparam da unidade serrando algumas grades. Até ontem, segundo informações de agentes, nenhum deles havia sido localizado.
A fuga aconteceu entre as 3h30 e 4h30, mas os quatro agentes e o delegado Nilton José Costa Ferreira, que estavam de plantão, só descobriram o fato por volta das 5h, quando um deles foi à custódia e percebeu que uma das grades estava cortada. A 52ª Companhia Independente (Lauro de Freitas) foi acionada e uma guarnição auxiliou na revista da ala de onde os presos se evadiram. As celas 1, 2 e 3, antes ocupadas pelos detentos, não possuíam qualquer sinal de arrombamento, uma vez que a debandada aconteceu a partir do pátio, onde eles haviam passado a noite.
Oportunidade - Segundo um agente, os bandidos aproveitaram a circunstância de estarem no pátio para fugir. Cortaram uma grade da carceragem e outra da sala de custódia, arrombando depois o cadeado da porta. Serraram mais uma grade e chegaram à área em volta do prédio, de onde pularam o muro. Questionada sobre o porquê de os fugitivos terem pernoitado fora das celas, a agente de prenome Graça, coordenadora do plantão posterior à fuga, disse: “Só quem pode responder é o delegado”. E arrematou que “no meu plantão, lugar de preso é no xadrez!”.
Os delegados Nilton José e a titular da unidade Maria Dirce Ribeiro não foram encontrados para comentar o fato, assim como o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana, delegado Ruy da Paz, e o delegado-chefe Antônio Laranjeira. Os foragidos são: Claudionor Rufino Santos, Wellington de Santana, José Roberto Guedes de Jesus, o “Nazaré”; Marcos Vinícius Santos Sacramento, conhecido como “Bum”; Adriano Sena de Santana, Bruno de Oliveira Santos, apelidado de “Bruninho”; Gleidson Fonseca dos Santos, José Carlos Santos Filho, Magnildo Pinheiro Nunes, Jackson Reis dos Santos, Agnaldo Souza de Jesus, Jonas Eckson dos Santos Cruz, Jessé Andrade Santos Mateus, Lucas Pinto Silva, Alisson Oliveira Santos, Edvandro Silva Santos, Emanoel Messias Caldas Moreira, Jefferson Gonçalves Pereira, o “Ninoboc”; Luís Carlos Bispo Santos, conhecido como “Carlão”; Alex Amorim dos Santos, Renato Silva da Cruz, Carlos Alberto Santos de Oliveira e José Henrique de Oliveira Neto.
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Evasão abortada no Complexo dos Barris
Algumas horas antes da evasão em massa da 27ªDP, a polícia conseguiu frustrar a fuga de presos da 1ª Delegacia e da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, ambas localizadas no Complexo dos Barris. Depois de serrarem seis grades, eles usaram uma “teresa” (corda improvisada com lençóis) para subir ao nível da rua, uma vez que a carceragem fica no subsolo do prédio, mas logo foram descobertos pelos agentes de plantão. O Centro de Operações Especiais (COE) foi acionado e enviou uma equipe ao local.
A tentativa de fuga aconteceu por volta da 1h30, depois que presos serraram quatro celas da DH e duas da DTE. A carceragem do complexo é em formato de círculo e abriga detentos da DH, DTE e da Delegacia de Homicídios. Em seguida, eles tiveram acesso ao pátio do banho de sol e fizeram uma espécie de escada humana para chegar ao teto. Dali, depois de cortar outras grades, usariam a “tereza” para ganhar a liberdade.
Um dos agentes de plantão da 1ªDP terminou abortando a fuga. Teve a atenção despertada por um barulho que vinha da carceragem e, com um colega, resolveu vistoriar a área externa da unidade. Descobriram a corda improvisada e, logo depois, flagraram um dos presos que tentava cortar uma grade. Imediatamente, os policiais atiraram para o alto, levando os reclusos a retornarem às celas.
Durante revista aos xadrezes, foram recolhidas três serras e algumas facas improvisadas. Durante toda a manhã de ontem, policiais militares do 18º Batalhão (Centro Histórico) ficaram de prontidão defronte as duas unidades, enquanto soldadores consertavam as grades.
Durante o serviço, uma faísca de solda caiu sobre algumas peças de roupa e houve um princípio de incêndio, que gerou pânico entre os detentos. As chamas foram extintas pelos policiais do complexo, antes mesmo da chegada de uma equipe do Corpo de Bombeiros. Um preso passou mal devido à fumaça e foi socorrido ao Hospital Geral do Estado. Projetada para abrigar 32 reclusos, a 1ªDP está com 87. Com capacidade para 35 pessoas, a DTE está com 80.
Fonte: Correio da Bahia