Apesar do baixo nível do reservatório que alimenta a usina, Chesf ainda descarta risco de ‘apagão’
Graciela Alvarez
Os reservatórios da região Nordeste se encontram com os níveis de água reduzidos, principalmente o de Sobradinho, na Bahia, que atualmente está com apenas 26% da sua capacidade. Os que vivem às margens do lago revelam que a baixa está gerando muitos prejuízos, essencialmente para quem vive da pesca e da agricultura. No entanto, o superintendente de Operações da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), João Henrique Franklin, garante que esse percentual é considerado normal para a época, pois o período de seca termina agora, com o início das chuvas previsto para este mês. Segundo ele, apesar do nível menor do reservatório, não há risco de ‘apagão’ para a região.
O superintendente afirma que a capacidade total da região está em torno de 41%, número que, segundo ele, deve subir com a chegada do período úmido, que vai de novembro a maio. “A nossa expectativa é que a chuva volte a cair e que conseqüentemente se tenha um incremento na vazão”, diz, acrescentando que a vazão de chegada de Sobradinho está em torno de mil metros cúbicos por segundo e a de saída de 2,5 mil metros cúbicos por segundo, ou seja, está saindo mais água do que entrando. Ele ressalta ainda que a capacidade instalada no Nordeste é de 10,7 mil megawats e a carga máxima, atingida nos horários de picos, é de 9 mil megawats, por isso ainda não há motivos para alarmes.
Problemas - Mas, enquanto o período úmido não chega, os ribeirinhos têm enfrentado problemas com a baixa da capacidade do reservatório. O período de seca está prejudicando os pescadores e fazendo com que os agricultores percam sua produção por não terem como irrigar a plantação. “De uns 20 dias para cá, o rio está baixando muito rápido, causando uma série de transtornos para nós que sobrevivemos da pesca. Muitos peixes, que ficaram presos dentro das baixadas, devem estar neste momento servindo de comida para urubu”, declara o presidente da Colônia de Pescadores de Sobradinho, Valdício Rodrigues da Silva.
Ele, que também sobrevive da atividade pesqueira, afirma que ainda não tem como mensurar os prejuízos gerados para a categoria, mas garante que são incalculáveis. “Só não consigo entender como a Chesf, que dispõe de tanta tecnologia, não consegue prever uma coisa dessa. Ou eles liberam uma quantidade de água grande demais, que inunda tudo, ou soltam uma quantidade grande num período de seca no lago”, opina Silva. O representante do Fórum de Defesa do Rio São Francisco, Cícero Felix, concorda com o presidente da colônia e afirma: “Não tenho dúvidas de que a Chesf está causando distúrbio na comunidade. Quando ela não consegue perturbar com a enchente, perturba com a seca”.
O diretor executivo da Cooperativa Agrícola Juazeiro da Bahia (CAJ), Avoni Pereira, diz que está recebendo muitas queixas dos agricultores que vivem às margens do lago, pois eles estão tendo que deslocar as bombas, já que o lago está chegando ao leito do rio.
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Térmicas afetam oferta de gás
SÃO PAULO - O corte no fornecimento de gás natural promovido pela Petrobras ontem para distribuidoras da região Sudeste foi provocado especialmente pela entrada em operação de algumas termoelétricas determinadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Desde sábado, oito usinas térmicas de posse da Petrobras e de outras empresas entraram em funcionamento e passaram a agregar ao sistema elétrico em torno de 1.960 megawatts médios (MW). A medida visa preservar o nível dos reservatórios das barregens de hidrelétricas, prejudicadas pela falta de chuvas. Ao serem chamadas para operar, essas usinas exigiram uma quantidade elevada de gás natural.
Como essas térmicas não funcionam 100% do tempo, o gás estava sendo destinado para outros mercados. Foi assim até que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) resolveu firmar um termo de compromisso com a estatal. Nesse documento, a Petrobras garante o fornecimento do combustível quando as térmicas tiverem de entrar em funcionamento.
O problema, dizem especialistas, é que, na prática, a mesma quantidade de energia foi destinada para dois mercados diferentes. Quando tudo precisa entrar em operação ao mesmo tempo, não há gás suficiente. “A melhor coisa a fazer neste momento é o governo aceitar que existe uma crise. Não se pode ter vergonha disso. É preciso encarar e resolver”, diz o comissário geral da Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE), Zevi Kann. Além disso, é preciso começar a pensar em mudar esse modelo de funcionamento das térmicas. “Se não temos gás, temos de priorizar aquelas usinas movidas a óleo combustível e a diesel”, diz. (AE)
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Justiça garante fornecimento
RIO - Uma liminar judicial obtida pelo governo do estado restabeleceu ontem o fornecimento de gás a indústrias e postos de gás natural veicular (GNV) no Rio, apenas um dia após a redução de 17% no suprimento imposta pela Petrobras. Segundo cálculos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o PIB fluminense perdeu pelo menos R$19 milhões na terça-feira. “Estamos ainda levantando as perdas de cada uma das empresas e certamente este valor deverá aumentar”, disse o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
Os setores de vidro, químico e siderúrgico estão entre os prejudicados pelo corte. Há informações de que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) teve um corte de 20% no fornecimento de gás à usina de Volta Redonda. A empresa não se manifestou sobre o assunto. Vieira afirmou que foi procurado pelos dirigentes das siderúrgicas Gerdau e CSN, “perplexos” com o corte. Também a Bayer teve um corte de 10% de sua produção. “Em nenhum momento as empresas foram avisadas, e esta atitude unilateral surpreendeu a todos”.
“Gás não é uma coisa que se compre em supermercado. A questão do gás é uma questão de contrato”, reagiu o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, em entrevista concedida ontem em Londres. Ele disse que a estatal recorrerá da decisão judicial que a obrigou a restabelecer o fornecimento à CEG e à Comgás. A alegação do executivo é de que há contratos que têm de ser respeitados, com térmicas, distribuidoras e com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). (AE)
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Bahiagás nega racionamento
O racionamento de gás natural feito pela Petrobras no Rio de Janeiro e São Paulo não afetará a Bahia. A garantia foi dada, ontem, pela Bahiagás, que é a distribuidora do produto no estado. “Não temos nenhuma relação com a rede de suprimento do Sul do país”, informou o diretor presidente da empresa, Davidson Magalhães.
Através de um comunicado à imprensa, a Petrobras informou que se viu obrigada a limitar temporariamente a entrega de gás natural às distribuidoras CEG, CEG-RIO e Comgás ao volume estabelecido nos contratos assinados com estas companhias. As empresas vinham realizando, há mais de um ano, segundo a estatal, retiradas do produto superiores ao volume total estabelecido em contrato.
A Petrobras informa estar em negociação, há vários meses, com estas distribuidoras para atender aos volumes retirados pelas empresas acima do que está contratado, utilizando outras modalidades contratuais de longo prazo. Desta forma, busca atender aos diversos segmentos de mercado destas companhias do eixo Rio-São Paulo.
Fonte: Correio da Bahia