hojeVasconcelo Quadros
Brasília. A Polícia Federal apreendeu ontem em Cumarú do Norte, próximo a Redenção, no Sul do Pará, um arsenal de armas de uso restrito das Forças Armadas e desarticulou uma milícia montada por fazendeiros supostamente para enfrentar a onda de invasões de terra que nos últimos tempos resultou na ocupação de nove propriedades na região. O alvo da ação foi a Fazenda Estrela de Maceió, que pertence a Construtora Lima Araújo Ltda, de Alagoas, onde dois homens foram presos junto com 19 armas de grosso calibre - fuzis, pistolas e espingardas calibre 12. Na sede da fazenda também foram apreendidos fardamentos de camuflagem, coletes à prova de balas, capuzes, algemas de plástico, silhuetas de tiro ao alvo, equipamentos de rádio transmissão e de comunicação via satélite e mais de 1.600 munições, entre balas de fuzis e cartuchos.
-É um arsenal normalmente usado por grupos de assalto. Aparentemente não era apenas para a proteção da fazenda - disse o delegado Marco Aurélio Bezerra, da Polícia Federal em Redenção. Um dos homens presos, Aloísio Santana Ferreira, é procurado por assassinato em Alagoas. O outro, Márcio Bezerra Santana, também se apresentou como segurança da fazenda. A polícia vai investigar agora se há relação entre milícias com vários assassinatos na área rural no ano passado. A Polícia Federal chamou a ação de Constelação, uma referência ao nome da fazenda, e explicou que ela faz parte da grande operação desencadeada na segunda-feira em todo o Sul do Pará para evitar derramamento de sangue entre seguranças contratados por fazendeiros e militantes de um grupo de sem terra que se apresenta como Liga dos Camponeses Pobres (LCP), responsável pela invasão de várias propriedades na região de Redenção. - O clima estava muito tenso -, explicou o delegado Alberoni Lobato, chefe da Delegacia de Conflitos Agrários do Pará, designado pelo governo estadual para coordenar a Operação Paz no Campo. Nos últimos três dias foram presas mais de 30 pessoas, entre militantes e dirigentes da LCP.
- Nas últimas semanas o grupo havia invadido várias fazendas, entre elas, a Forquilha, Rancho de Deus e Mirim - todas nas cercanias de Redenção -, onde foram praticados uma série de crimes: derrubada ilegal de madeira em áreas de preservação, destruição de sede da propriedade, matança de gado, cárcere privado e extorsão. Na fazenda Mirim, segundo a polícia, homens que chegaram encapuzados e armados, tomaram a sede e, para desocupá-la, exigiram do proprietário R$ 50 mil - resgate que chegou a ser pago. A mesma exigência também estava sendo feita a outros proprietários rurais.
Antes que a Operação Paz no Campo fosse deflagrada, a presidente do Sindicato Rural de Redenção, Rosângela Hanemann, em vários comunicados enviados à governadora do Pará, Ana Julia Careppa, havia denunciado o clima de terror e os riscos de um conflito que parecia inevitável no Sul do Pará. A governadora também havia sido avisada pela polícia e Ministério Público, mas mantinha a ordem para que as forças de segurança do Estado (Polícia Militar e Polícia Civil) não acatassem as determinações judiciais para reintegração de posse.
O assunto só poderia ser resolvido pela Departamento de Polícia Civil através da Delegacia de Assuntos Agrários, que acabou respondendo com a operação desencadeada na segunda-feira. Segundo Rosângela Hanemman, nas propriedades invadidas atualmente se encontram cerca de 100 mil cabeças de gado que não estão sendo vacinadas contra a febre aftosa porque os fazendeiros ou funcionários do Ministério da Agricultura não podem entrar nas áreas ocupadas pelos sem terra. Ela afirmou que havia inclusive o risco de, passado o período de vacinação, a região de Redenção deixar de ser considerada área livre de aftosa, o que provocaria elevados prejuízos à economia estadual.
Fonte: JB Online