domingo, novembro 04, 2007

Mitos e verdades sobre a TV digital

Alexandre Carauta
Aguardada com pompa e circunstância, a tevê digital inspira expectativas e dúvidas na mesma proporção. Quando estrear no Brasil, dia 2 de dezembro, provavelmente só um centésimo dos 11 milhões de paulistanos aproveitará a tecnologia. Para consumi-la, não basta ter um televisor de plasma ou LDC (tela de cristal líquido), equívoco comum entre os que correm às lojas. Um equívoco de três mil reais.
O ingresso no admirável mundo novo depende de três condições básicas: conversor de sinal (set-top box), uma caixinha comprada à parte; alta resolução (HDTV), de preferência máxima (Full HD, com conversor incluso); e tela larga (proporção 16:9). O pacote parte de R$ 7 mil, aproximadamente.
Tamanho não é, em princípio, documento. A chave para a imagem perfeita está na resolução, não nas polegadas.
A maioria dos televisores tradicionais tem, no máximo, 500 linhas, 200 a menos do nível mínimo exigido para alta resolução - sem a qual é impossível reproduzir a imagem superior da tevê digital. Fidelidade integral, só com Full HD: 1.080 linhas.
- À medida que as telas crescem, precisam de resoluções maiores. O espectador só verá uma imagem 100% fiel à original se o aparelho tiver 1.080 linhas de resolução - explica o engenheiro de computação Helio Sinohara, sócio da Feature Home, especializada em automação doméstica.
Outro requisito para assegurar a qualidade digital é a tela larga, com proporção de cinema (16:9). No formato quadrado predominante (4:3), característico da tevê analógica, a imagem fica achatada.
- Os fornecedores devem informar com clareza essas características, para que o consumidor não escolha um aparelho incompatível à tecnologia digital - alerta Rodrigo Terra, promotor de Justiça do Ministério Público do Rio .
Ao aumentar de dois para cinco canais, ou mais, a troca do padrão analógico pelo digital representa também um avanço de som. Principalmente se as caixas forem adequadas à tecnologia e ao sistema surround 5.1 (seis canais, um para graves); harmonizadas (suportem potências equivalentes); e ajustadas às dimensões do ambiente.
As gerações mais recentes das engenhocas sonoros (a caçula 7.1 ainda é rara por aqui) foram desenvolvidas para criar o que os técnicos chamam de "sensação de realidade". Afinada com a freqüência digital, a combinação de canais autônomos transporta o espectador para cena do filme ou o lance do jogo. Dependendo do grau de sofisticação, o aparato chega a R$ 20 mil.
Para abrir as portas à qualidade superior de áudio e imagem, o consumidor encara uma sopa de letras: set-top box, Full HD, widescreen, HDMI. Num intervalo de seis meses a dois anos, tais dispositivos estarão plenamente integrados ao televisor.
- A tendência é o equipamento incorporar o conversor e outros dispositivos importantes para captar melhor o conteúdo da tevê digital. A integração talvez não seja ampliada por uma conveniência de mercado: é estratégico vender alguns aparelhos separadamente - ressalva Sinohara.
Para mergulhar na interatividade, outro cartão de visitas da tevê digital, o espectador precisa de ingredientes fornecidos pelas emissoras. Tecnicamente, terá o mundo aos pés: poderá comprar em lojas virtuais, escolher o ângulo pelo qual vai acompanhar a partida de futebol, montar a ordem da programação etc. Mas na fase inicial, até meados do próximo ano, só parte destas aplicações interativas será possível.
Quando estiver em ponto de bala, a tevê digital vai aposentar o modelo de grade idealizado por Walter Clark, prevê o coordenador de rádio e televisão da Universidade Estácio de Sá, o jornalista Sérgio Carvalho: "o telespectador escolherá ao que assistir, quando assistir e como assistir. Vai virar editor. Poderá ver uma corrida toda como se estivesse no carro de Felipe Massa, por exemplo".
Fonte: JB Online