Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - O diagnóstico não é do PT, muito menos do presidente Lula, de seus ministros e dos partidos da base oficial. Por incrível que pareça, colhe-se no ninho dos tucanos, ainda que em surdina. Falamos da repercussão dos ataques feitos ao governo e ao seu chefe pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Só pode ser desespero, como justificativa do destempero.
Ao declarar no encerramento da Convenção Nacional do PSDB que "não podemos ser liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria", entre mil outras expressões de virulência, o sociólogo dá mostras de estar desesperado. Além, é claro, de haver apresentado demonstrações de senilidade.
A começar por José Serra, Aécio Neves, Cássio Cunha Lima e outros governadores do partido, o Alto Tucanato rejeita os vitupérios do ex-presidente, para os quais só há uma explicação, fora o peso da idade: o seu ego dimensionado ao infinito não aceita estar sendo a próxima sucessão presidencial equacionada sem ele.
Fernando Henrique Cardoso julga-se o maior e mais competente de todos os presidentes da República. Nesse aspecto, iguala-se ao Lula, mas com uma diferença fundamental: o atual presidente é e até poderá continuar sendo, caso adote a estratégia do antecessor, de mudar as regras do jogo depois do jogo começado. O ex-presidente foi e jamais voltará a ser.
Magalomania, esquizofrenia, paranóia - tanto faz o rótulo que a psicologia possa encontrar, mas a verdade é que agredindo o presidente Lula por não haver freqüentado a universidade ou sequer o ensino de segundo grau FHC ofendeu mais de 80% dos brasileiros. Dividiu o País em duas categorias: ele e os que possuem diploma universitário, e o resto.
Em especial os governadores de São Paulo e de Minas, candidatos óbvios à sucessão de 2010, o Alto Tucanato inteiro torceu o nariz ao ouvir o bestialógico elitista do antigo companheiro. Porque fazer oposição, mesmo dura e contundente, é uma coisa. Discriminar, outra bem diferente.
Transformou-se em perplexidade a Convenção Nacional do PSDB, quando poderia ter marcado o início de uma nova etapa rumo ao poder. Deram os tucanos, sem querer, argumentos de sobra para o presidente Lula e o PT sedimentarem a maioria do eleitorado em seu favor: de um lado, a nação dos doutores presunçosos e arrogantes; de outro, o povo.
As semanas também
Mestre Helio Fernandes escreveu, faz muito, que no Brasil o dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera. Pois com as semanas parece acontecer o mesmo, com ênfase para os seus finais. No que passou, assistimos o PSDB desligar-se ainda mais do sentimento nacional ao sustentar que só poderão governar o País aqueles que possuem diploma universitário, praticam uma gramática escorreita e falam mais de uma língua.
Para o próximo, anuncia-se a Convenção do PT, imaginando-se o que sairá do diálogo entre os companheiros. Pode ser até a reafirmação da proposta de extinção do Senado, da instituição da democracia direta através de plebiscitos e referendos permanentes, quem sabe até a defesa do terceiro mandato.
Salvo inusitados, Ricardo Berzoini será reeleito presidente do partido, valendo lembrar que sustenta cada uma das posições referidas, com maior ou menor entusiasmo. Dirão os otimistas que o PT não é o Congresso, instância exclusiva para a adoção das barbaridades acima relacionadas, mas uma simples tomada de posição formal ou expressa através de aplausos retumbantes funcionaria como detonador da confusão.
Ainda que não venham a reconhecer, estão os companheiros cientes da inexistência de um nome, em seus quadros, capaz de vencer as eleições de 2010. Apenas se milagres acontecerem tornar-se-ão viáveis Marta, Dilma, Tarso, Jacques ou Patrus. No âmbito do partido, só existe uma solução, o próprio Lula, que continua negando a hipótese de disputar o terceiro mandato.
Obstáculo igualmente intransponível será o do PT aceitar, no primeiro turno, apoiar a candidatura de um aliado, seja Ciro Gomes, Sérgio Cabral, Roberto Requião ou mesmo Nelson Jobim. Aceitar o conselho do presidente Lula de que apenas em 2009 devem cuidar da sucessão equivalerá para os petistas a desprezar a sabedoria do provérbio árabe, de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte.
Não há, entre eles, um só que desde já não se dedique a ilações e estratégias. Sendo assim... Sendo assim, importa aguardar com ansiedade a reunião dos companheiros, de preferência com o auxílio de um "palmômetro" e de um "bobajômetro" para aferir as tendências.
Fonte: Tribuna da Imprensa