BRASÍLIA - Minutos depois de ser denunciado pelo procurador da República, por envolvimento com o mensalão mineiro o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, pediu demissão do cargo. A sua saída foi acertada, na noite de quarta-feira, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em carta endereçada a Lula, Mares Guia diz que "a acusação é injusta e improcedente", que isso "vai ficar provado no curso do processo" e que sai "para se defender" e "não causar embaraços à sua gestão".
Na conversa com Lula, tanto na noite de quarta-feira quanto no final da tarde de ontem, Mares Guia estava "indignado" com a atitude do procurador, que considerou que, ao denunciá-lo, sem provas, teria lavado suas mãos. Ontem, Walfrido fez um pronunciamento com uma veemente defesa dele, dizendo que "recebeu com indignação" a denuncia, que jamais foi ouvido nos nove anos de processo, argumento que repetiu ao presidente.
Ao conversar com Mares Guia na noite de quarta-feira, Lula deixou o ministro mineiro "à vontade" para agir como melhor entendesse e disse que ele "pensasse direitinho" antes de decidir apresentar seu pedido de afastamento. Mas, na verdade, o presidente se sentiu "aliviado" com a decisão de Walfrido.
Na verdade, a rapidez incomum em afastar o "problema" do Planalto foi impulsionada pela necessidade do governo evitar a agenda negativa que prejudicasse a aprovação da CPMF no Senado. Lula, segundo fontes, não cansou de fazer elogios à sua postura e ao seu desprendimento, evitando maiores desgastes ao seu governo, justamente agora que está na reta final da votação da CPMF.
A auxiliares diretos, ao elogiar Walfrido, o presidente comparou a sua situação com a de Silas Rondeau, que era ministro das Minas e Energia, e deixou o cargo depois de ser bombardeado com o que o Planalto chama de "frágil" denúncia vazada pela Polícia Federal que, insistia, até agora, não ficou comprovada.
O presidente Lula ao comentar o episódio Mares Guia, chegou a reiterar o seu desejo de trazer de volta Rondeau para o cargo, assim que for concluído o seu processo pelo procurador, cuho processo é considerado no Planalto "inacreditavelmente demorado" Nelson Hubner, desde então, 23 de maio, está interinamente no cargo de Minas Energia.
Na noite de quarta-feira, assim que foi informado pelos seus advogados que iria ser denunciado pelo procurador, Mares Guia foi ao gabinete de Lula "espumando". Ele relatou a Lula que estava sendo denunciado por "peculato" por que bancos estatais teriam patrocinado um enduro em Minas, que ele sequer tomou conhecimento.
"Nunca participei disso", se defendia Mares Guia diante de Lula, se queixando de nunca ter sido ouvido sobre este caso. "Estão inventando pretexto para me atingir", desabafou o ministro, informando que, por isso, ia preparar sua carta com pedido de afastamento, porque não queria causar embaraços a ele, já que, no cargo, não ia conseguir se defender.
E prosseguiu: "um homem pode ser acusado por nada, mas um homem público não". Mares Guia chegou a lembrar que, antes de aceitar o convite, preveniu Lula sobre a denúncia, voltando a assegurar que "se tivesse um milímetro de dúvida" sobre sua história, não assumiria o cargo. Na época, o presidente ouviu tudo, concordou e reiterou o convite. Ontem, Mares Guia deixou o governo.
Fonte: Tribuna da Imprensa