Alexandre Carauta
O corte no fornecimento de gás natural impôs aos empresários fluminenses prejuízo proporcional à perplexidade com que reagiram ao racionamento-surpresa. Perderam, por baixo, R$ 19,6 milhões, contabiliza estimativa preliminar da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Cada empresa terá de cobrar na Justiça o ressarcimento às respectivas perdas. Como afetaram o consumo, a fatura pode ser apresentada à Petrobras, à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e à União.
Em vez de buscar culpados, a prioridade é criar uma força-tarefa contra a ameaça de apagão: o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira propôs ao presidente Lula uma reunião emergencial com representantes do governo federal, dos Estados, dos distribuidores e da Petrobras, para avaliar alternativas ao gás natural - que supre 25% do consumo energético da indústria fluminense.
- Os empresários foram induzidos, com a política de preços do governo, a substituir o óleo combustível pelo gás natural. A mudança exigiu investimentos em adaptação. Agora fecham a torneira sem nos avisar. É preciso sentar com o governo e a Petrobras para repartir o ônus, que não pode ficar só com as empresas - argumenta Gouvêa Vieira.
Os setores químico, siderúrgico (leia-se Gerdau e CSN) e de vidro, mais dependentes dos 7,5 milhões de metros cúbicos fornecidos diariamente ao Estado do Rio, foram as principais vítimas do corte de 1,3 milhão de metros cúbicos. A Bayer, por exemplo, perdeu 10% da produção diária.
- Questões como esta devem ser avaliadas com cuidado. O racionamento é só a ponta do iceberg. O problema revela-se mais profundo. Não pode ser reduzido a um conflito contratual entre a Petrobras e os distribuidores. Exige uma busca compartilhada de soluções - enfatiza o presidente da Firjan.
As vacinas contra o apagão sujeitam-se a variáveis políticas, técnicas e econômicas. Do primeiro grupo fazem parte as estratégias energéticas federais, que sustentam com uma política de preço o incentivo ao uso do gás. Em 2005, o insumo passou a custar o dobro do óleo combustível.
O segundo grupo abriga as alternativas ao gás natural, como a energia térmica, o óleo combustível e o GLP. O terceiro grupo representa a capacidade estrutural e econômica de as empresas trocarem a fonte energética. De se adaptarem - operacional, jurídica e financeiramente - à substituição.
Surpreendidos pelo que consideraram um sinal do apagão, empresários fluminenses começam a estudar saídas conjuntas para a falta de gás natural, cuja oferta insinua-se insuficiente para cobrir a demanda crescente. Desde 2002, o Rio consome aproximadamente 7,5 milhões de metros cúbicos por dia, volume superior aos 5,2 milhões previstos no contrato entre a Petrobras e os distribuidores Ceg e Ceg-Rio. Como o compromisso com a Aneel obriga a Petrobras a suprir as térmicas - fontes complementares de energia em épocas de estiagem - o risco de não sobrar gás no Rio torna-se mais do que razoável.
Além de articular o encontro com agentes do governo, da Petrobras e da Aneel, para avaliar as alternativas técnicas ao gás natural, os empresários fazem contas. Contabilizam, em detalhes, o prejuízo do corte da terça-feira - que pode superar os R$ 19,6 milhões estimados inicialmente - e de um racionamento mais pesado. Terão de negociar quem dividirá a eventual fatura.
Fonte: JB Online