quinta-feira, novembro 01, 2007

A Copa das reeleições

Leandro Mazzini
Brasília. A Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil será a Copa das Reeleições de 2010. É o que se vê nos sorrisos dos 12 governadores na pose oficial para foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Zurique. No anúncio do evento esportivo mundial mais importante para o Brasil em 64 anos, as artimanhas históricas de Pelé e os fenômenos "Ronaldinhos" não conseguiram driblar os políticos aliados de Lula. Do grupo, só Romário - e mesmo assim, contratado da Confederação Brasileira de Futebol - apareceu. Os flashes foram todos mesmo para os governadores que mandaram o recado eleitoral.
Do grupo, nove são candidatos à reeleição - oito aliados de Lula - e dois são potenciais sucessores dele no Planalto. O que está em jogo são pelo menos 37 milhões de votos - ou um quarto do eleitorado nacional. Esse é o somatório de pessoas que alçaram ao poder os governadores em questão, que não estão a fim de abrir mão desses "torcedores" daqui a três anos. Para tanto, já anunciam reformas milionárias em estádios e brigam entre si para conquistar a simpatia do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o homem da Fifa no Brasil. É Teixeira quem dará o aval, junto à instituição internacional, para a escolha de oito a 12 cidades-sedes dos jogos.
A confirmação de uma capital como sede não significa apenas partidas de futebol. Entra em jogo a divisão do bolo de meio milhão de turistas estrangeiros que chegarão ao Brasil. Sem falar em recursos adicionais do governo federal, via ministérios do Turismo e do Esporte.
- O governador tem se encontrado muito com Teixeira. Quando não pessoalmente, falam por telefone - revelou um secretário de um deles, que preferiu o anonimato.
Até que o primeiro apito de um juiz soe, as equipes políticas travam o embate diplomático. E tudo começou em Zurique. Lá, os governadores confirmaram o que já haviam divulgado nos redutos: investimentos em infra-estrutura nas capitais e reformas nos estádios.
É o caso do Maracanã no Rio, que pode passar por novas mudanças. O governador Sérgio Cabral (PMDB) quer a partida final no templo em que Pelé fez o gol mil. Num trato informal, combinou com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que ele faça lobby para São Paulo abrir a Copa. Entre eles, o mineiro Aécio Neves (PSDB), que concorre com Serra à indicação do partido para disputar a presidência da República, não deixou barato. Quer disputar o privilégio de levar uma dessas partidas para Belo Horizonte. Anunciou que o Mineirão estará novo em 2010. Por fora correm os governadores do Nordeste. Quatro deles foram para a Suíça (veja quadro ao lado). E todos têm chances. A amigos, dois anos atrás, quando começou a alimentar o sonho de fazer do Brasil novamente sede da Copa, Ricardo Teixeira revelara:
- Quero fazer a Copa do Mundo no Nordeste.
Um desses amigos é ninguém menos que o presidente Lula. Teixeira aproveitou as oportunidades, e está cobrando, agora, um preço dos governadores. Quer a interferência de cada um deles sobre as suas bancadas no Congresso para barrar a CPI do Corinthians, que pretende investigar falcatruas na gestão do clube. Dependendo da repercussão, o caso pode chegar à CBF. Os governadores atenderam de pronto. Da Suíça, começaram a disparar telefonemas para deputados e senadores que assinaram o documento. Ontem, o senador Adelmir Santana (DEM-DF) atendeu ao pedido do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), e retirou sua assinatura, criticou o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), autor do requerimento da CPI.
Fonte: JB Online