terça-feira, novembro 27, 2007

300 anos da tradição do acarajé

A vestimenta branca, de saia rodada, batas de renda, brincos, colares de conta e o torso na cabeça caracterizam a resistência de uma cultura que perdura há quase 300 anos. Maquiadas e com um sorriso no rosto, centenas de baianas lotaram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Centro Histórico, para agradecer mais um ano de luta e perseverança. A comemoração faz parte dos festejos do Dia da Baiana, 25 de novembro, data escolhida para manter viva a tradição do acarajé. A atividade, inicialmente feminina, surgiu no Brasil colonial, quando as escravas negras libertas começaram a vender as iguarias do candomblé para garantir o sustento familiar. Recentemente, em 2005, a Baiana de Acarajé foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial do Brasil, motivo de orgulho para a presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Maria Leda Marques. “Hoje esquecemos as dificuldades e os problemas e nos reunimos para comemorar a luta. Porque o maior exemplo de perseverança é a baiana”, exclama. Como no Brasil colonial, até hoje a atividade de baiana serve para sustentar famílias. “70% das baianas não têm marido e são as únicas fontes de renda da casa. Criam filhos, netos e sobrevivem da venda do acarajé”, revela Marques. Segundo ela, em Salvador existem cerca de cinco mil pessoas vendedoras de acarajé, entre homens e mulheres. Mas lamenta a expansão do comércio, já que muitos desconhecem a simbologia e história do acarajé. Aos 72 anos, Raimunda Machado de Oliveira não se deixou abater pelo cansaço provocado pela idade. Vestiu sua roupa de baiana e compareceu à missa. Toda de branco com colares coloridos, não esqueceu o batom para colorir os lábios. “Venho sempre! Sou devota de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Não trabalho mais por causa da idade, mas me sinto satisfeita”, afirma. Desde que sua mãe faleceu, Raimunda assumiu a vida dupla de vender acarajé e assumir o cargo de auxiliar de disciplina em uma escola. “Nunca tive ponto, sempre trabalhei em eventos. Hoje em dia estou parada porque tenho dificuldades para me locomover na cidade”, revela. Ela conta que sempre quis o emprego com carteira assinada, mas mesmo depois de aposentada não parou com a atividade de baiana. (Por Maíra Portela)
Um sonho que mantém a família
Apesar das dificuldades enfrentadas pela maioria dos vendedores de acarajé, alguns ainda conseguem uma boa renda com a profissão. Com dois carros na garagem e seis casas em diferentes pontos da cidade, Tereza Conceição Santos, 55 anos, sustentou os quatro filhos, hoje formados. “Ser baiana era a última coisa que queria na vida. Hoje em dia me arrependo de não ter entrado no ramo há mais tempo”, desabafa. Com duas irmãs e uma prima na atividade, Tereza conta que sempre teve vergonha dos familiares e nunca quis assumir um tabuleiro ou despachar clientes. Após deixar a área hoteleira, a qual trabalhava, ela pensava em abrir um restaurante. Mas ao sonhar que estava vendendo acarajé, vestida de baiana, sua vida mudou e há 22 anos mantém um ponto no Hiper Bompreço do Iguatemi. “Sou apaixonada pelo que faço. Quando estou no tabuleiro prefiro bater a massa e fritar. É satisfatório ver as pessoas apreciarem o acarajé”. A missa atraiu olhares curiosos dos turistas, que com máquinas fotográficas e filmadoras registravam cada momento do sincretismo religioso. Na entrada do templo católico estava montado um tabuleiro com as comidas típicas oferecidas as divindades do candomblé: acarajé, abará, cocadas e bolinho de estudante. Ao som de atabaques, pandeiros e cavaquinho o cântico de louvor era entoado pelos fiéis, que com as mãos para o alto batiam palmas e moviam o corpo no ritmo da melodia. Com lágrimas nos olhos, a assistente social, Bruna Cardiano, 30 anos, não escondia a emoção. Pela primeira vez em Salvador, afirma nunca ter visto uma comemoração igual. “Essa mistura de uma igreja católica celebrar uma missa ao som de atabaques me transmitiu uma emoção muito forte. Estou chorando desde que começou”, dizia. Natural do Rio de Janeiro, ela foi até a Igreja a convite de uma baiana de acarajé. “Ia viajar hoje (ontem), mas acabei transferindo a passagem para a próxima semana, tenho que ficar mais tempo aqui. Com certeza vou voltar outras vezes”, afirmava entusiasmada. Com a câmera filmadora nas mãos, Cardiano registrou o festejo e pretende mostrar para os amigos. O acarajé surgiu como oferenda para as divindades do candomblé Iansã e Xangô. O alimento não era consumido pelas pessoas. Mas as dificuldades financeiras possibilitaram a comercialização da iguaria dos deuses. “Nessa época apenas quem era ligado à religião podia vender o acarajé”, explica a presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Maria Leda Marques. As mulheres negras do Brasil colonial eram obrigadas a vender as iguarias do candomblé para conseguir a alforria do marido e filhos e conseguir sustento para a família após a abolição da escravatura. Atualmente, pessoas que não são da religião possuem tabuleiro, mas a expansão do comércio não é bem vista por Marques. “Muita gente vende o acarajé e não sabe a simbologia que o acarajé tem e desconhece sua história”.
Começam parcerias com camarotes
Com a novidade da Boate Smirnoff, uma pista para 300 pessoas, o Camarote Expresso 2222 (circuito Barra/Ondina), do cantor/compositor e ministro da Cultura, Gilberto Gil, e a empresa de vodca confirmam a parceria, pelo terceiro ano consecutivo, para o Carnaval 2008. A Smirnoff lança embalagens especiais alusivas ao Carnaval e ao 10º aniversário do 2222., que serão comercializadas em Salvador e São Paulo, em janeiro e fevereiro. A empresária Flora Gil, esposa do ministro, fala da novidade com entusiasmo e se refere à parceria de três anos como um namoro, que teve aquela paixão desenfreada à primeira vista, namoro, noivado e casamento. “ E por que não festejar este casamento em uma boate?” Indaga brincando a empresária que convidou para a festa, animada por famosos DJs, artistas nacionais, a exemplo de Lulu Santos, Jorge Bem Jor, Cláudia Leite, Toni Garrido, Sandra de Sá, Margareth Menezes, Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Preta Gil e uma atração internacional ainda surpresa. Sobre o camarote Flora afirmou que “não tem venda de camisetas, é um camarote para convidados. Infelizmente tem um limite para 1 mil pessoas por dia e a gente faz o que pode para convidar, mas não consegue agradar todo mundo”. A empresária ressalva que o Espaço Smirnoff na pista vai agradar as pessoas que querem brincar o Carnaval, de forma mais reservada, sem a agitação dos trios elétricos. “Vai ser um lugar fechado e esta parceria também com a Central de Carnaval é excelente”, pontuou. Para Flora “ quem foi no carnaval da Bahia e não foi no Expresso, então não foi no Carnaval”, resume. Este espaço será localizado no térreo do camarote, em ruínas, mas remodelado com as cores da Smirnoff, com a assinatura de Cláudio Peixoto do Amaral. De acordo com o diretor de marketing da Diageo, fabricante da Smirnoff, Eduardo Bendzius, “a empresa cresceu no Nordeste cerca de 82 por cento do mercado nacional, em 28 por cento de participação no mercado nacional e esta parceria faz parte de um investimento de 8 milhões só na região Nordeste por ter a cultura de grande potencial, muitas festas e eventos e a região também na região há o maior consumo do país”. O empresário não soube precisar exatamente o valor a ser investido no Carnaval da Bahia, mas reconheceu que a festa é um dos focos principais da empresa, por ser uma das maiores do País. A empresa também patrocina os trios Camaleão, Nana Banana, Voa Voa e dos camarotes Ondina Tower, Nana e Central do Carnaval. (Por Noemi Flores)
Fonte: Tribuna da Bahia