A presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, disse ontem, no Rio, que o partido aumentará a pressão pela criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o relacionamento de empreiteiras com autoridades do governo federal e do Congresso.
Heloísa quer que uma única CPI aprofunde a investigação de casos como os que envolvem a construtora Gautama, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Genival Inácio da Silva, o "Vavá".
"São casos semelhantes: tráfico de influência, intermediação de interesse privado e exploração de prestígio", argumentou, no encerramento do 1º Congresso da legenda, na capital. "A CPI poderia discutir a triangulação do 'propinódromo' no Executivo, no Legislativo e em setores empresariais."
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que a sigla fará uma campanha para divulgar os nomes de parlamentares que retirarem as assinaturas do requerimento da CPI da Navalha.
A presidente nacional do PSOL evitou opinar sobre o envolvimento de "Vavá" com a máfia dos caça-níqueis, mas manifestou preocupação com os indícios de que o compadre de Lula Dario Morelli Filho foi alertado sobre a ação policial que terminou com a prisão dele.
"É muito grave. Se o presidente da República ou um ministro informa alguém que é investigado o que lhe acontece, isso dá todas as condições para que ele obstaculize as investigações, escondendo provas. O Executivo prevarica e obstrui a investigação, o que já daria até crime de responsabilidade", disse.
Autora da representação contra Renan no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, a agremiação pretende, a partir de hoje, aumentar a pressão pela convocação da jornalista Mônica Veloso, que desmentiu o depoimento do suposto lobista da Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, sobre o pagamento da pensão da filha que tem com o senador. Por meio do senador José Nery (PSOL-PA), o partido enviará ao relator do processo de Renan, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), uma lista com sugestões de nomes que deveriam ser convocados encabeçada por Mônica.
"Continuamos acreditando que o Conselho de Ética possa viabilizar as oitivas de todos e todas que foram citados no ocorrido. Esperamos que haja um resultado à luz da legislação e o que espera a sociedade", afirmou Heloísa, acrescentando que a legenda prepara ações judiciais para o caso de arquivamento do processo. Chico Alencar disse que Nery e a sigla defenderão o afastamento do presidente do Congresso do cargo durante a apuração.
Reeleição e aborto
A presidente nacional da agremiação foi reeleita ontem, durante o 1º Congresso do PSOL, partido criado em 2004 por dissidentes do PT. O congresso ocupou por quatro dias o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na Praia Vermelha, Zona Sul da capital fluminense. Cerca de mil filiados dormiram em colchonetes nas salas de aula e freqüentaram as tendas de debates, comércio de livros e camisetas com inspiração socialista e até DVDs piratas com filmes políticos.
A chapa de Heloísa venceu outras três. Além de não ter conseguido formar chapa única, ela foi derrotada na posição contra o aborto. Heloísa discursou manifestando a "convicção espiritual e científica", mas a sigla aprovou uma moção de apoio à legalização.
"Sei que é uma causa preciosa para os movimentos de mulheres, mas o partido entendeu que não poderia me impor uma decisão que atenta contra concepções acumuladas ao longo da vida", disse Heloísa, que é católica.
"Não é justo pôr esse tema como uma luta entre reacionários e progressistas. Há conservadores contra a legalização do aborto e há reacionários capitalistas favoráveis, pois dizem que as mulheres pobres vão deixar de gerar meninos pobres, que podem virar bandidos mais tarde", afirmou.
A presidente do PSOL foi vaiada quando disse não acreditar nos dados sobre a mortalidade de mulheres em interrupções clandestinas de gravidez.
Os líderes do partido usaram o episódio como exemplo de democracia interna. Segundo a deputada federal gaúcha Luciana Genro, "este não é um partido de caudilhos". "Não existe nenhum outro partido de esquerda no Brasil e no mundo que tenha a democracia interna do PSOL", ampliou Heloísa.
Esse perfil resultou numa surpresa para a ex-senadora, que pretendia montar chapa única. Mais três chapas foram inscritas e, embora Heloísa pudesse ser reeleita presidente sem estar vinculada a uma delas, preferiu se integrar à que reuniu os três deputados federais e o senador do partido.
A chapa recebeu 467 votos (63,7%). Em segundo lugar, com 174, ficou a dos ex-deputados federais Plínio de Arruda Sampaio e Babá, que representaram a maioria dos chamados grupos mais radicais do partido.
Para antigos militantes de esquerda, o 1º Congresso do PSOL lembrou o PT dos primórdios, com muitas e barulhentas correntes e um clima de quermesse. Uma barraca vendia camisas com o rosto de Che Guevara (R$ 15), boinas (R$ 8) e DVDs piratas de filmes de esquerda (R$ 10). (Com Folhapress)
Fonte: Tribuna da Imprensa
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