Por: MALU DELGADO
da Folha de S.Paulo
Um dia antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajar em campanha pelo sul do país, o governo federal anunciou ontem a liberação de recursos que beneficiarão os três Estados da região. Serão injetados R$ 600 milhões nos setores de movelaria, máquinas e implementos agrícolas --recursos do FAT/giro setorial, administrado pelo Banco do Brasil-- e R$ 12,4 milhões do Funpen (Fundo Penitenciário Nacional) no Rio Grande do Sul.
Hoje, Lula fará dois comícios no Estado, em São Leopoldo, e em Porto Alegre. Amanhã, participa de comício no centro de Florianópolis. Em seguida, almoça com empresários da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).
O pior desempenho eleitoral de Lula é na região Sul, onde está empatado com o candidato do PSDB Geraldo Alckmin. Conforme a última pesquisa Datafolha, ambos têm 31% das intenções de voto. O tucano, em maio, chegou a liderar na região, por 37% a 30%.
A destinação de verbas para programas federais não é vedada pela legislação eleitoral. Os ministros que anunciaram a liberação dos recursos negam qualquer conotação eleitoral.
A Folha apurou que, na quinta-feira, o próprio Lula solicitou ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que viajasse às pressas para Florianópolis para anunciar a liberação de verbas a setores moveleiro e madeireiro. Bernardo participou de encontro com empresários na Fiesc ontem.
"Estamos anunciando essas medidas em resposta a reivindicações que nos foram levadas por esses setores. Eles foram a Brasília há um mês e meio, fizeram audiências, reivindicaram, cobraram, mostraram os problemas. E nós estamos anunciando. Não vejo problema nenhum", disse o ministro.
Ação de governo
Segundo Bernardo, os ministros foram orientados a separar ação de governo de campanha. "Essas medidas que estamos anunciando são ação de governo e foram tomadas para atender uma determinada reivindicação que havia", afirmou.
Bernardo, que é do Paraná, vai acompanhar Lula na incursão pelo sul. Também estarão junto do presidente os ministros gaúchos Tarso Genro (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil).
O anúncio de liberação de verbas, na avaliação de Tarso Genro, "é absolutamente legítimo". "A separação do presidente do candidato é jurídica e formal. Não existe na esfera da política", justificou o ministro, enfatizando que o primeiro escalão segue rigorosamente as ordens para não misturar ações de governo com campanha.
Para o ministro, não há "nenhuma determinação legal, nem ética, nem moral" que impeça a liberação de recursos. Esse procedimento só deve ser evitado, diz ele, quando se tratar de uma "medida artificial", para uma região que não precisa de recursos. Nesse caso, observa, "é errado e condenável".
Um interlocutor do presidente Lula, ligado à coordenação da campanha, afirma que o eleitor não define o voto por conta da liberação de recursos. "Ainda mais no Sul, onde o eleitorado é ultrapolitizado", disse. Esse auxiliar disse que a liberação de verbas antes das viagens de Lula não será praxe na campanha. Como exemplo, cita as últimas viagens de Lula a Minas Gerais e Pernambuco. "Não anunciamos nada. Não acreditamos que o voto se dê em função disso."
Anúncio oficial
A ministra Dilma Rousseff convocou ontem a imprensa, em Brasília, para anunciar a linha de crédito com recursos do FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador) a empresários gaúchos. Nos últimos dias, a assessoria da Casa Civil disse que Dilma receberia jornalistas para conversas informais.
O bate-papo se transformou em pronunciamento oficial, na sala de briefing do porta-voz da Presidência. Para anunciar o pacote, Dilma viajou ao Rio Grande do Sul, onde se encontrou com empresários.
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