Por: Paulo Augusto
As evidências confirmam que a atividade política no Brasil degenerou-se ao ponto do irreversível. O administrador da riqueza pública perdeu as características originais, a ponto de não se reconhecer mais neles qualquer representatividade. Fora com a farsa dos políticos.
Políticos. O que fazer com eles? Paulo Augusto pagurn@gmail.com Todas as evidências confirmam que a atividade política no Brasil degenerou-se ao ponto do irreversível. Há muito que a função do administrador público, do gerente da riqueza e do patrimônio da população perdeu suas características originais, ganhando uma crosta apodrecida, a ponto de não se reconhecer mais no homem público e na mulher que pretende atuar como representante da população qualquer representatividade. Eles perderam por completo sua razão de ser. Com perdão dos genuínos honestos e dos lídimos bem-intencionados, exceções que confirmam a regra, mas o povo não se ilude mais com o palavrório lustroso de candidatos e políticos carreiristas. Já de muito tempo a população passou a perceber que aquela “pessoa que exerce cargo público ou atua indiretamente na política”, como representante por ela escolhida de seus interesses na esfera pública, tornou-se um estranho absoluto. Alguém que efetivamente nada tem a lhe dizer, que, ao contrário, vem lhe prejudicando total e absolutamente e, portanto, não merece nem sua consideração nem o salário que este povo lhe paga. Pergunta-se, muito justamente, por que continuamos a votar, se todos nós, o povo potiguar e brasileiro, passamos a ver, na claridade do dia, na luminescência dos comportamentos, nas dobras e fissuras das máscaras, que a política é o meio mais rápido, e no nosso Estado do Rio Grande do Norte, o único e mais eficiente meio de enriquecimento, de acúmulo de benesses, prestígio e patrimônio, via e trampolim do alpinismo social mais deslavado, tanto de grupos de malfeitores quanto de elementos que traçam suas carreiras individuais, flagrados como arrivistas – que se determinaram a triunfar a qualquer preço, mesmo em prejuízo de outrem –, como aventureiros e mesmo vigaristas confessos, cafajestes e velhacos. Agora mesmo, neste mês de maio, permitiu-se que tenhamos mais um aumento da tarifa de ônibus, com um salto espetacular no preço das passagens, de R$ 1,45 para R$ 1,60, sem que houvesse consulta à população, sem que nos fossem comunicadas as vantagens que teremos com tal reajuste, e principalmente sem que tivéssemos qualquer adequação salarial, já que continuamos com nossos míseros ordenados, sem aumento há mais de 12 anos. São roubos freqüentes e continuados, seja não apenas na passagem de ônibus, mas no salário que não aumenta, na roupa, na compra de alimentos, no dentista, no remédio, no convênio médico, no conserto da geladeira, na compra da gasolina. Aumenta a cada dia a sensação de que só entramos em roubadas, em frias e golpes baixos, sem qualquer esperança de sermos encarados com dignidade e respeito. Sem que sequer nos respeitem como eleitores. E quando o fazem, como nos lembra o escritor Rubem Alves, é como se nos prestassem um favor. “Político não faz favor”, lembra Rubem, em sua santa insubmissão. “Político cumpre a obrigação. Para isso ele é eleito. Para ser servo, isso mesmo, servo, empregado, serviçal, do povo. Tinha de haver um jeito simples e rápido de despedir os políticos que não se comportam como serviçais do povo”, enfatiza o escritor para nos lembrar nosso papel e considerar: “Eu até posso dizer ‘obrigado’, da mesma forma como digo ‘obrigado’ ao frentista do posto de gasolina que me atendeu bem”, uma relação difícil de ser entendida por nossa população, mantida na escuridão da ignorância pelos coronéis da política, que se refestelam com nossa magnanimidade. Finalmente, lembra o escritor, parecendo que está falando do RN: ”Há esses lugares em que os políticos se consideram ‘césares’ romanos com poderes para distribuir favores a quem quiser, na esperança, é óbvio, de serem reconduzidos ao cargo pela gratidão servil e estúpida dos eleitores. Como os eleitores são estúpidos! Elegem cada deformação...” Por aqui a gente tem mais do que razão para limpar e renovar por completo os lugares reservados aos “nossos representantes”, tanto na Câmara quanto na Assembléia, tanto no Executivo como em Brasília, onde os deputados federais e senadores cagam e andam, para usar uma linguagem compatível com seus desempenhos. Representantes? Será que temos algum? Há as exceções, para a salvação da lavoura. Mas veja-se o exemplo da Câmara de Vereadores, onde os eleitos, assim que chegaram, foram corrompidos imediatamente. E numa atitude que envergonha tanto a nós quanto a eles. E comprados para quê? Para eleger o presidente da Câmara, tendo cada um dos vereadores, novos e velhos, ganho dos dois candidatos – Renato Dantas e Rogério Marinho – nada menos que R$ 100 mil – sendo R$ 30 mil de um e R$ 70 mil do outro. Por isso que no primeiro mês todos nós pudemos ver os novos vereadores a bordo de Hilux, Suzukis e Rangers, caminhonetas-fortalezas, cujos preços são verdadeiras fortunas. No Executivo, os crimes se sucedem, com a presença do Ministério Público, evidentemente, e o registro da mídia, como se estivéssemos condenados a uma repetição maquinal e maligna de uma sina que é maldição. Sucedem-se os crimes, escândalos, roubos, saques, enfim, toda espécie de violência devastadora, sem conseguir mais provocar a indignação, sem ferir mais os bons costumes, a moral, o recato, simplesmente sem chocar mais. Uma vez que “faz parte” do espetáculo da política. Voltaire, que morreu há mais de 200 anos, já dizia que a fonte da política está mais na perversidade que na grandeza do espírito humano. Isto enuncia uma verdade indiscutível quando se trata de governos totalitários, como a gente vê no Rio Grande do Norte, onde um pequeno número de atores, rebentos de uma elite das mais depravadas, assaltou o poder, (des) governando a seu bel prazer. A finalidade da política, em estados mais pobres e mais desguarnecidos da justiça como o nosso, fica claro para os que ainda têm resignação para observar o teatro local, se resume, ou pelo menos está mais centrada, em monopolizar o poder, enquanto prioridade máxima dos grupos dominantes. Para o juiz José Augusto Peres Filho, estaríamos vivendo não numa democracia, onde o poder é exercido pelo povo e por seus representantes, mas numa cleptocracia, que é “o poder dos que tiram, o poder dos ladrões”. Explica José Augusto Peres: “Observe-se que não é a corrupção pura e simples. A corrupção é apenas uma parte do exercício dessa forma degenerada de governo. A cleptocracia se instaura quando o ato de roubar deixa de ser algo isolado dentro de um governo, e se transforma em uma atividade, ou seja, um conjunto concatenado, encadeado e constante de atos similares, quer dizer, quando o roubo vira a tônica. Em uma cleptocracia, o roubo (em suas mais diversas modalidades) é o normal. É aceito por uma considerável parcela dos que exercem o poder e, se nem todos roubam, muitos acobertam os roubos dos demais, com a finalidade de se beneficiarem posteriormente – em uma campanha eleitoral, por exemplo. Os cleptocratas (ou os ladrões no poder), possuem uma cultura própria, com seus códigos, seus costumes, com uns encobrindo as falcatruas dos outros, impedindo que fatos sejam investigados ou fazendo com que as investigações sejam meras formalidades, sem o mínimo interesse no aprofundamento da busca pelos responsáveis por golpes aplicados contra a Nação. E mais, quando alguma instituição tenta fazer, de modo independente e correto a investigação, ela é tolhida pela pronta intervenção dos asseclas plantados em núcleos importantes do poder. A cleptocracia gera problemas os mais diversos. Desestabiliza as instituições responsáveis por fazer cumprir a lei. Prejudica a estabilidade da economia e o crescimento econômico. Corrói valores éticos e sociais, desgasta a autoridade, afeta a credibilidade dos órgãos de poder e impede o verdadeiro exercício da democracia.” Ao lado desse desvario, o desalento e a apatia da sociedade só não é absoluta por conta da revolta nos presídios, nas masmorras onde se encontra grande número de pessoas oriundas do povo miserável e escorraçado, como se viu com os atentados do PCC em São Paulo. Sabe-se que os presos refletem uma parcela da população mais pobre que se viu encarcerada por razões as mais diversas na luta pela sobrevivência e ao serem excluídos esses presos sabem que perderão, praticamente, boa parte de suas vidas. Mesmo nas prisões, contudo, onde pagam uma pena privativa de liberdade profundamente humilhante e destrutiva, a capacidade crítica de alguns degradados vem se afinando, aflorando uma violência que cresce no mesmo ritmo do crescimento da corrupção política impune de nossos homens públicos. Os que sofrem todo tipo de sevícias nas penitenciárias e prisões horrivelmente degradantes, diferentemente de nós aqui fora, que gozamos de toda a liberdade para votar na gente ordinária e boçal que elegemos, não vislumbram nenhuma esperança de que um dia serão aceitos de volta nessa sociedade, não lhes restando, por isto mesmo, nenhuma outra alternativa, do que organizar-se e reunir suas forças para enfrentar a opressão do Estado. “O Brasil não agüenta mais a calamidade moral que se abateu sobre a nação, com a sucessão de escândalos de corrupção dos últimos dois anos. A resposta a esse mar de lama precisa ser dada no voto consciente da cidadania brasileira nas próximas eleições.” São afirmações do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, no último dia 5, no Maranhão, quando esteve na abertura do XI Encontro Nacional dos Dirigentes de Caixas de Assistência dos Advogados (Concad). Segundo Busato, o pensamento da sociedade brasileira foi explicitamente demonstrado no discurso de posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio de Mello, ao sustentar que “o Brasil está se tornando o país do faz-de-conta e onde se criou um fosso ético e moral, que divide o país nos segmentos da corrupção e da massa comandada”. O presidente da OAB referiu-se à apatia da sociedade brasileira diante da sucessão de escândalos, mencionada pelo novo presidente do TSE, segundo quem, a população estaria agindo como se tudo fosse natural e como se todos os homens públicos fossem igualmente desonestos. Para Busato, a OAB tem manifestado sua preocupação com o crescente desalento dos cidadãos e com o descrédito geral nos homens públicos que vai tomando conta do sentimento popular no País, diante do exposto pela crises e escândalos sucessivos. Ele é de opinião que as eleições precisam funcionar como mola propulsora para acabar com essa apatia. “A OAB e a CNBB vêm pregando a necessidade de o País ter uma cidadania ativa; é preciso lutar e participar contra esse estado de coisas para que o Brasil vença, definitivamente, essa grande massa antiética que existe dentro da função pública brasileira”. Paulo Augusto é jornalista e escritor. Assina a coluna Radar Potiguar no Jornal de Natal (Natal / RN) E-mail – pagurn@gmail.com
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