quarta-feira, maio 24, 2006

Empresário denunciado por atentado violento ao pudor

Por: Cimoni Oliveira (Folha do Amapá)

Salomão Alcolumbre Júnior, empresário da comunicação e dos combustíveis, levou a força uma professora até a rampa do Santa Inês e a obrigou a praticar sexo oral sob ameaça de morte. Ele foi denunciado pelo MPE ao juiz da 3ª Vara.Está tramitando em segredo de Justiça desde novembro do ano passado na 3ª Vara Criminal do Fórum de Macapá um processo cujos detalhes do crime beiram a delinqüência e a sordidez. Envolve o empresário Salomão Alcolumbre Júnior, o Salomãozinho — de família rica, tradicional, e poderosa, dona de uma rede de postos de combustível, um império de comunicação (rádio e televisão), além de lojas de produtos importados — e uma moça pobre, de 28 anos, casada, mãe de um garoto, universitária e professora. Ela o denunciou por tê-la seqüestrado e obrigado a fazer sexo oral em maio do ano passado e a ameaçado de morte, caso registrasse queixa e levasse o caso a público. Acusado pela vítima, Salomãozinho foi indiciado pela Delegacia das Mulheres por atentado violento ao pudor e denunciado pelo Ministério Público Estadual, no dia 16 de novembro passado, no mesmo crime, mas até agora o juiz Décio Rufino não se manifestou.Oito meses depois, a vítima, W.L.R.N., temendo que o processo durma na gaveta da Justiça, pelo fato do autor ser rico e influente, resolveu levar sua história a público e revelar todos os detalhes do crime que, segundo ela, a traumatizou para o resto da vida e a transformou numa mulher assustada, que não dorme direito e vive sobressalta, sensível a qualquer movimento. Até hoje, W.L., que pediu para não divulgar seu nome, faz acompanhamento psicológico, toma calmantes e tem crises constantes de choro e ânsia de vomitar, quando relembra o episódio, que teve origem numa coisa banal. O pivô da história, segundo ela, foi uma suposta amante de Salomãozinho. Elas estudavam juntas e se desentenderam por causa de nota de trabalho. A partir daí, Tatiana Rocha Farias começou a provocá-la, usando o nome do namorado e afirmando insistentemente que ele era poderoso, por isso W.L. iria arrepender-se de ter se metido com ela.No relatório do promotor Marco Antônio, ele aponta fortes indícios contra Salomãozinho. Foi detectado esperma humano na calça da vítima, mas ele se negou a fazer exame de DNA, o que para a Promotoria chamou a responsabilidade para ele. Outro indício que o incrimina é o resultado da perícia no celular de W.L. Comprovaram-se as ligações recebidas e o número realmente pertence a Salomão Alcolumbre Júnior. Constam ainda nos relatórios da polícia e do MPE, as contradições nos depoimentos dele. Em primeiro momento, negou o fato e disse não conhecer a vítima. Entretanto, quando o promotor disse que havia sido comprovado esperma humano na calça dela e pediu exame de DNA, ele se negou a fazer e contou uma história diferente. Disse que tinha acontecido o fato, mas com consentimento de W.L., que o estava assediando há algum tempo por telefone. Alegou que ela o ligava, dizendo estar apaixonada, queria marcar encontro e ele sempre a dispensava e naquele dia resolveu marcar o encontro.A delegada Josimária Jorge, que presidiu o inquérito, não quis falar sobre o caso, porque — segundo alegou — faz parte da política interna da Delegacia de Mulheres e o promotor que denunciou o empresário está de férias. Ao final de sua decisão, ele observa que o juiz deve ouvir as testemunhas da vítima, o marido e uma colega de faculdade e o denuncia por atentado violento ao pudor, cuja pena é de 6 a 10 anos de reclusão em regime fechado, pois de acordo com a nova lei, é considerado crime hediondo.Suborno - W.L. afirma que houve tentativa de suborno por parte dos advogados do empresário. Um deles telefonou para seu marido oferecendo dinheiro para eles acabarem com essa história. Dias depois, ele, que é policial militar, foi procurado pelo delegado Claudionor, que também pediu em nome do empresário para que o caso fosse abafado e perguntou quanto eles queriam para parar tudo.— Disse que por dinheiro nenhum a gente iria se vender e íamos levar o caso até o final — afirmou o marido da vítima.Empresário não fala - A reportagem procurou o empresário Salomão Alcolumbre Júnior e pediu entrevista, mas ele não deu retorno. No primeiro contato, há cerca de duas semanas, com sua secretária, Diana Maciel, ela informou que ele estava viajando para Boa Vista (RR), a negócios, e não tinha previsão de retorno, anotou o recado e os contatos e prometeu repassar-lhe. Entretanto, ele não retornou. Esta semana, a Folha o procurou novamente e a secretária informou que o chefe havia retornado de viagem, anotou mais uma vez os contatos e prometeu retorno, o que não aconteceu.Um trauma para o resto da vidaAgora eu já consigo contar, mas é muito difícil... Tudo começou quando eu fui até a professora saber porque a nota da Tatiana foi maior, se a gente estagiou e ela não fez o estágio. Ela ficou com raiva de mim porque fui reclamar e começou a me ameaçar, dizendo que o amante dela era empresário muito rico e que eu ia me arrepender, porque ninguém mexia com ela. No dia 28 de maio de 2004, eu estava indo a um seminário e fui abordada por ele, que violentamente fechou o meu carro, na orla do Santa Inês. Eram mais ou menos seis e meia da tarde. Ele foi até simpático, disse que era o Salomãozinho, namorado da Tatiana, encostou na porta do carro e disse que queria falar comigo, porque queria acabar com nosso desentendimento, pois era um homem público, casado e muito conhecido e a preocupação dele era com a esposa dele. Pediu para eu me retirar do carro e conversar em outro lugar, porque ali tinha muita gente. Saí do meu carro, meio assustada e fiquei encostada, ele também desceu e disse que queria resolver aquela situação. Foi nessa hora que ele me agarrou pelo cabelo, me engasgou e me empurrou para dentro do carro dele e travou as portas. Ele entrou no carro, eu fiquei apavorada, chorava e comecei a empurrá-lo. Ele falava: Te acalma que eu não vou fazer nada contigo, eu só quero conversar... Me levou lá para a rampa; procurei me acalmar para que nada acontecesse. Ele pediu que eu contasse tudo o que estava acontecendo e não se mostrou violento. Contei, inclusive que ela dizia na sala de aula que ele fazia depósitos de 20 mil na conta dela, que ia a São Paulo só cortar o cabelo. Pedi que ele voltasse, disse que não e estacionou na rampa, com a porta do carro para a beira do rio. De repente começou a engrossar, disse que era muito rico, que tinha muito poder e que todos os juízes, promotores aqui de Macapá eram amigos dele, colocavam combustível no posto dele de graça; que ele tinha dinheiro para comprar qualquer um e que se eu fosse na Justiça ou na imprensa não iam dar razão para mim, porque a Justiça do Amapá é três P (só pune pobre, preto e prostituta) e eu sou pobre e insignificante e até se ele me matasse nunca iam dizer que era ele. Nisso eu estava muito nervosa, com medo. Aí ele disse para mim chupar o pênis dele... (pára e começa a chorar).E me dizia: aqui tu vai me pagar o que fizeste com a Tatiana. Eu pedia para ela não fazer isso. Ele, muito violento, falava para mim: tu escolhe chupar o meu pênis ou então eu vou estourar tua cara. Fiquei com muito medo e chorando pedi pelo amor de Deus que não fizesse isso comigo porque tenho um filho. Ele começou a arrancar minha calça e minha blusa, passava as mãos nos meus seios, na minha bunda...Eu chorava, ele mandava eu pegar no pênis dele e me chamava de prostituta, dizia que queria comer minha bunda, dizendo: vou fazer tu chupar meu pênis para a gente ficar quite e você pagar o que fez com a Tatiana.Aí ele tirou o pênis, segurou no meu cabelo e me empurrou para fazer sexo oral nele, aquele homem, imundo, nojento, que eu odeio com toda minha força... (chora compulsivamente e faz longa pausa para continuar). Ele mandou eu engolir todo o esperma dele e disse para eu não deixar melar a calça e o carro. Falou: se isso acontecer, eu te mato...Ele fez tanta força empurrando minha cabeça pra baixo, que fiquei machucada. Foi humilhante... Depois mandou eu enxugar o resto do esperma com meu rosto e meu cabelo. Fiquei com vontade de vomitar, pedi para ele abrir a porta do carro, mas não fez. Então, não agüentei e vomitei na minha mão e limpei na minha calça, sem saber que iria me beneficiar de uma prova contra ele na Justiça...Depois ligou o carro e disse: vou te deixar perto do teu carro. Estava chovendo muito e não conseguia andar, tremia muito e não conseguia falar, porque tenho problema de nervo e tomo remédio controlado. Me largou no meio da rua e me disse: agora estamos quites e se você contar alguma coisa, no outro dia vai amanhecer morta, te reduzo a pó. E insistiu várias vezes que era amigo de juiz, de promotor, que os juízes e promotores aqui de Macapá são corruptos, que não podem ver dinheiro e que ele comprava todos.A muito custo cheguei no meu carro. Chorei e vomitei muito. Se eu tivesse uma arma tinha me dado um tiro naquele momento. Pensei no meu marido, no meu filho... Fiquei com nojo de mim...Consegui chegar em casa, mas quase capoto o carro, porque estava em estado de choque...E você contou ao seu marido o que aconteceu?Não, não tive coragem de imediato. Liguei para ele, falei que o Salomãozinho Alcolumbre tinha me ameaçado, dei o número do celular dele, porque até então ele já tinha ligado várias vezes para mim, pedindo para conversar de novo.Você foi logo na delegacia?Não. Foi numa sexta-feira, estava muito atormentada e fiquei com medo do que ele me falou. Liguei para uma professora minha e perguntei se realmente os juízes eram corruptos, se ele comprava todos eles. Ela falou que isso não existia, que deve existir pessoas ruins em todo lugar, mas sempre tem pessoas boas e compromissadas com seu trabalho e com a justiça e me orientou a ir à delegacia.Fui somente na segunda-feira e registrei ocorrência, foi quando meu marido ficou sabendo, ficou revoltado e me apoiou. O caso foi investigado, aberto inquérito e a promotoria pegou o caso.Antes dele saber que eu tinha registrado ocorrência, me seguia, parava o carro perto da minha casa, na saída da faculdade, estava lá, ria e debochava da minha cara, porque achava que eu não iria fazer nada.E depois que ele foi chamado na delegacia, continuou ameaçando?Não. Depois, nunca mais o vi, a Tatiana trancou a faculdade e um dia estava na praça com meu marido e meu filho e fiquei esperando eles no carro, passou um Siena várias vezes por mim, depois parou e saiu a Tatiana e uma irmã e avançaram para me bater, corri e consegui fugir. Quando chegamos em casa, o portão estava arrombado e os vizinhos disseram que duas mulheres e dois homens tentaram arrebentar o portão. A gente prestou queixa na delegacia contra ela, porque pelas características que os vizinhos deram era ela e a irmã.Depois ficou rondando minha casa, meu marido um dia a seguiu, mas ela correu para o Ciosp e ele chamou a PM. Ela foi presa e todos fomos ouvidos, quando eu e meu marido fomos para a sala de espera, tinha um monte de gente lá e um tio dela espancou meu marido dentro da delegacia.O trauma é muito grande?Tenho medo, nojo de mim. Não tenho vontade mais de fazer sexo. E não esqueço o que ele falou sobre a Justiça. Será que é assim mesmo?Estou com muito medo. Quero deixar claro que se eu for espancada ou assassinada, você já sabe que o suspeito é Salomãozinho Alcolumbre, Tatiana Rocha e o tio dela, que já é um homicida.

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