Por: Jair Donato (A Gazeta)
Minha experiência como docente tem me permitido ouvir diversas respostas sempre que pergunto sobre ética aos acadêmicos dos cursos que ministro aula. Questiono isso independente da disciplina aplicada, por se tratar de um tema que deve ser tratado de maneira transversal.
Dentre as várias definições, muitas são repetidas e esperadas, miradas no conceito formal do assunto. Mas, outro dia ouvi a resposta de um estudante que me chamou a atenção por dois motivos. Primeiro, pela naturalidade que ele teve ao responder. Segundo, pelo conteúdo que ele expôs.
A opinião dele me fez refletir sobre como está o inconsciente coletivo do nosso povo. Ele simplesmente disse que o significado que melhor se dá para ética é "utopia".
Utopia? Sim. Pensei por instantes no que aquele jovem havia dito e antes de ouvir os demais da sala, resolvi provocar o início de uma discussão. Estaria aquela definição errada? Aquele rapaz falou algo sem pensar?
Certamente não. Vi naquele momento uma profunda distância entre a realidade de um mundo ético e a postura dos líderes atuais, seja nas áreas da política, da administração, da religião, ou outra qualquer, que provavelmente são os referenciais para a afirmação daquele acadêmico.
O que o estudante afirmou certamente o disse pautado nos exemplos cotidianos apresentados à sociedade, por meio das instituições corporativas, governamentais e demais organizações. Ele não se valeu do conceito, ou seja, da teoria acerca do que deveria ser ética. O que seria apenas coerente e agradável de ouvir, mas, incongruente com o comportamento da maioria das pessoas que repetem definições elaboradas.
Realmente, ética não pode e nem deve ser um conceito, modismo ou uma resposta pronta, como aquelas que são fixadas nas paredes de muitas empresas ou nos gabinetes dos políticos que praticam canalhices todos os dias. E olha que não são poucos.
O delírio pelo poder, pela competitividade e a visão superficial sobre valores e princípios morais, que são comuns ao mundo contemporâneo, se dá continuamente pela incongruência entre discursos e práticas. Como centenas de políticos, por exemplo, que dançam com incontida alegria e vibram, em altas horas da madrugada, quando um colega, evidentemente antiético, não é cassado, sem ao menos se importar que deveria ser exemplo de ética para uma nação inteira.
Ética, afinal, tem de ser comportamento. É necessário que resida na consciência do cidadão. Defendo a idéia de que seja ensinado antes mesmo de chegar na escola. Ética precisa fazer parte da educação intra-uterina. Ou seja, o ser humano, desde a barriga da mãe, já deveria receber as primeiras noções sobre ética.
Somente após a década de 1960 é que estudiosos começaram a compilar estudos sobre ética e apresentarem ao mundo acadêmico, assim como a importância dela no mundo dos negócios, na política e nas relações interpessoais. Se comparada à antropologia e a filosofia, por exemplo, a disciplina de ética ainda é um bebê. Talvez seja essa uma das causas do ponto de vista utópico e posturas incongruentes que existem atualmente.
No entanto, para garantir uma sobrevivência social saudável, será preciso o indivíduo, que já não está mais na barriga da mãe, rever urgente a distante visão que possui sobre comportamento ético. E isso se faz somente por meio de atitude.
Na verdade, o maior debate no futuro não será sobre ciência ou tecnologia. Será sobre ética e a moralidade humana. Pense nisso!
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