
Moro fez duras críticas ao juiz federal Eduardo Appio
Fausto Macedo
Felipe de Paula
Estadão
O senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) disse na última sexta-feira, 12, que o juiz Eduardo Appio, que o sucedeu na 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, é um ‘ladrão aloprado’ que foi ‘escolhido pelo sistema’ para ‘prejudicar a Lava Jato’. A acusação de Moro foi postada em sua conta no X com base no Processo Administrativo Disciplinar (PAD) conduzido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, que afastou Appio por tempo indeterminado das funções – ultimamente, exercidas na 18.ª Vara Federal de Curitiba.
O processo disciplinar foi aberto com base em um boletim de ocorrência da Polícia Civil de Santa Catarina que atribui a Appio o furto de garrafas de champanhe Moët Chandon em um supermercado de Blumenau. “Esse ladrão aloprado foi o juiz escolhido pelo sistema para atuar na 13.ª Vara Federal de Curitiba, prejudicar a Lava Jato, mentir sobre colegas e beneficiar corruptos. Era o herói do Prerrogativas. Estranhamente, ainda correm inquéritos no STF instaurados a partir de suas fantasias caluniosas”, escreveu Moro. O Grupo Prerrogativas é um coletivo formado essencialmente por advogados.
ESQUEMA – Crítico declarado da Lava Jato, Eduardo Appio ganhou notoriedade ao assumir os processos remanescentes da investigação na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba após a promoção de Luiz Antônio Bonat – primeiro sucessor de Moro – ao cargo de desembargador. A 13.ª Vara foi ocupada por um longo período pelo então juiz Sérgio Moro. Em março de 2014, sob sua tutela, a Lava Jato foi às ruas e pôs abaixo um sólido esquema de corrupção e cartel de empreiteiras na Petrobras, vítima de um rombo de R$ 6 bilhões a partir de 2003.
Moro renunciou à toga em 2018 – pediu exoneração do cargo de juiz federal para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, com quem rompeu um ano depois. Ao longo dos três meses em que esteve à frente da Vara de Curitiba, Appio revisou decisões e retomou denúncias de corrupção e abusos direcionadas a antigos protagonistas da investigação.
Sobre as declarações de Moro, Appio afirmou em nota que ‘ao contrário de Sérgio Moro, não é político e jamais cogitou deixar a magistratura, onde atua com absoluta imparcialidade e retidão profissional’.
TELEFONEMA – O afastamento de Appio pelo TRF4 é o segundo de sua carreira. Em 2023, ele foi alvo de outro processo disciplinar relacionado a um telefonema em que teria feito ameaças ao filho do desembargador Marcelo Malucelli, o advogado João Malucelli, que é genro e sócio do escritório de advocacia do senador Sérgio Moro. Na ocasião, Appio admitiu que sua conduta foi ‘imprópria’.
Nas investidas de Moro contra Appio, o senador afirma que ‘estranhamente, ainda correm inquéritos no STF instaurados a partir de suas fantasias caluniosas’. Moro está se referindo às apurações sob a guarda do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou no dia 3 de dezembro buscas na 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, berço da Lava Jato.
Toffoli determinou que o diretor da Secretaria da 13.ª Vara concedesse acesso à equipe policial aos processos mencionados nas acusações do empresário e ex-deputado Tony Garcia. Ele afirma que Moro o coagiu a produzir gravações ilegais contra autoridades.
INFILTRADO – Garcia afirma ter atuado como infiltrado de Moro desde o caso Banestado, no fim de 2004, até a Lava Jato, encerrada em 2021, após 80 fases ostensivas. O desafeto de Moro reuniu detalhes dos bastidores da Lava Jato e da 13.ª Vara de Curitiba nas páginas do livro de sua autoria ‘Tudo por dinheiro: a ganância da Lava Jato’.
Ele afirma na obra que Moro instaurou uma ‘política de terror’, um ‘clima de perseguição implacável aos acusados’ durante a operação que estancou a distribuição de propinas milionárias a políticos que lotearam diretorias estratégicas da petrolífera, entre 2003 e 2014.
COM A PALAVRA, EDUARDO APPIO
“O exemplo que Cristo nos ensinou recomenda dar a outra face quando somos agredidos gratuitamente em nossa vida privada. Sérgio Moro agrediu a mim e a minha família sem necessidade.
Infelizmente não existe direito de resposta no Instagram e, bem por isso, recorro à imprensa e aos amigos que hoje me prestaram solidariedade.
A agressividade verbal de Sérgio Moro não encontra precedentes na boa tradição do povo paranaense que o elegeu. Em respeito a seus eleitores e aos interesses maiores do Estado do Paraná, que ele representa, não farei nenhuma crítica à sua notória incapacidade de ser um senador de verdade. Se assim fosse, investiria seu tempo e energia em projetos concretos para o Paraná.
A sua atuação durante estes três anos de mandato no Senado tem sido, na melhor das hipóteses, tímida. Depois de destruir por completo a indústria nacional gerando desemprego em massa no setor, conseguiu um bom emprego para si e também ajudou a eleger familiares.
A imunidade parlamentar não foi criada para incentivar difamadores contumazes.
Sérgio Moro será processado criminalmente por meus advogados.
O exemplo cristão de dar a outra face não se aplica ao debate público. Ao contrário de Sérgio Moro não sou político. Sou juiz federal e professor. Jamais cogitei deixar a magistratura e o serviço público onde atuo há 31 anos com absoluta imparcialidade e retidão profissional.
A difamação, especialmente quando baseada em fake news e imagens fraudadas, é sintoma de um novo tempo. Trair amigos e companheiros de luta se converteu em verdadeiro mantra desde que Sérgio Moro saiu atirando do governo Bolsonaro.
O senador Álvaro Dias seguramente não guarda as melhores lembranças de Russo. Constantemente embriagado pelo poder e nem bem recuperado da grande ressaca que significou a Vaza Jato, agora investe na difamação digital em vez de trabalhar pelo Paraná.
Os quase 5 bilhões de reais desviados dos cofres públicos da 13.ª Vara Federal de Curitiba, no passado geridos por Moro, foram devidamente auditados (a meu pedido) pelo Egrégio Conselho Nacional de Justiça, o CNJ que, na figura de seu então corregedor-geral, ministro Luís Felipe Salomão, tanto fez pelo país.
Nos autos da ADPF 568 do Supremo Tribunal Federal, relator ministro Alexandre de Moraes, também pende análise judicial sobre o destino que seria dado a estes bilhões oriundos de multas e acordos de leniência com grandes construtoras do país.
Segundo o próprio CNJ, relatório aprovado em 2024, estes bilhões iriam para os Estados Unidos e boa parte retornaria a Curitiba para criação de uma fundação privada, fundação Lava Jato.
O CNJ disse que os membros desta organização praticaram um sistema de cash back. São fatos, crimes em tese e auditorias que precisam ser apurados até em respeito aos muitos eleitores de Sérgio Moro, os quais defendem a nobre bandeira contra a corrupção.
Atacar gratuitamente minha honra não apagará o rastro destes 5 bilhões desviados para os Estados Unidos de sua destinação legal, cofres do contribuinte brasileiro.
Estes valores não ajudaram a Petrobras. Muito pelo contrário, desacreditaram a maior empresa do Brasil na época, levando-a a pagar multas estratosféricas para o governo americano.
E os brasileiros, senhor Sérgio Moro? Como ficam? E as centenas de milhares de bons empregos perdidos por conta de sua desastrada atuação como juiz federal na época? O STF corrigiu suas ilegalidades comprovadas pela Vaza Jato.
A sua má conduta como juiz dos processos, diversas vezes já julgada pelo Egrégio STF, levou a dezenas de investigações anuladas.
Este contexto todo, comprovado, demonstra que o senhor Sérgio Moro deixou, desde muito tempo, princípios morais de lado para se converter em um político profissional e difamador contumaz.
A sua agressão gratuita não passará impune e Vossa Excelência será processado e seguramente condenado na área criminal.”