
Contato entre Moraes e Galípolo ocorreu em um momento crítico
Pedro do Coutto
A revelação de que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes procurou o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar da venda do Banco Master antes de sua liquidação judicial lançou luz sobre um episódio delicado da relação entre o Judiciário e o sistema financeiro.
O contato ocorreu em um momento crítico, quando a instituição já enfrentava sinais claros de deterioração e quando o órgão regulador analisava uma operação de transferência que acabou sendo barrada por razões técnicas.
VÍNCULO – O que causou maior surpresa nos bastidores políticos e jurídicos não foi apenas a existência das conversas, mas o contexto em que elas se deram. Moraes integra, por vínculo familiar, um escritório de advocacia que mantinha contrato com o Banco Master para atuação junto a órgãos de controle e regulação.
Embora não haja comprovação de atuação formal do escritório nesses órgãos, o simples entrelaçamento entre interesses privados e a iniciativa pessoal de um ministro do Supremo acendeu alertas sobre possíveis conflitos de interesse e sobre os limites da interlocução institucional.
A reportagem de Malu Gaspar no O Globo trouxe o caso a público é extensa e minuciosa, reunindo versões de diferentes fontes e reconstruindo uma sequência de contatos que antecederam a decisão do Banco Central de vetar a operação de venda. O ponto nevrálgico está no fato de que os telefonemas e os encontros ocorreram antes da negativa formal da autoridade monetária, quando a análise técnica ainda estava em curso.
PESO POLÍTICO – Em um sistema que preza pela autonomia do regulador, qualquer gesto que possa ser interpretado como tentativa de influência — ainda que informal — ganha peso político imediato.
Do lado do Banco Central, a versão é de que não houve pressão e de que a decisão de barrar a transação decorreu exclusivamente da identificação de irregularidades graves, incluindo indícios de fraudes que tornariam a aprovação inviável. O próprio ministro, segundo relatos, teria reconhecido que, comprovadas essas irregularidades, não haveria como sustentar o negócio. Ainda assim, o episódio deixa um rastro de desconforto institucional difícil de ignorar.
INDEPENDÊNCIA – Em democracias maduras, a independência entre Poder Judiciário, órgãos reguladores e mercado financeiro é um ativo central. Quando essa fronteira parece borrada, mesmo que por iniciativas individuais e sem desfecho prático favorável, o dano não é apenas reputacional, mas sistêmico.
O caso do Banco Master, mais do que um episódio isolado, tornou-se um símbolo dos riscos que surgem quando relações pessoais, interesses privados e decisões públicas se aproximam demais, exigindo transparência plena e critérios rigorosos para preservar a credibilidade das instituições.