Publicado em 21 de dezembro de 2025 por Tribuna da Internet

Sóstenes diz que R$ 430 mil foram de venda de imóvel
Pedro do Coutto
Na manhã da última sexta-feira, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação de busca e apreensão que coloca sob intenso escrutínio a atuação de um dos parlamentares mais visíveis do Partido Liberal (PL) na Câmara dos Deputados.
Em endereço ligado ao deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da bancada da legenda na Casa, foram encontrados R$ 430 mil em dinheiro vivo, acondicionados em uma sacola dentro de um armário de um flat em Brasília.
A apreensão faz parte da chamada Operação Galho Fraco, que investiga possíveis desvios de verbas públicas provenientes da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP) — um mecanismo destinado a cobrir despesas do mandato, mas frequentemente alvo de controvérsias por falhas de fiscalização e potencial de uso indevido.
MANDADOS – Para além do montante em espécie, a operação cumpriu sete mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, autorizados pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). As investigações envolvem não apenas o líder do PL, como também o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) e assessores ligados aos parlamentares, e apuram indícios de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no manuseio e ocultação de recursos públicos.
Autoridades da PF apontam que a investigação, iniciada em dezembro de 2024, já conta com indícios de atuação coordenada entre agentes políticos, servidores e pessoas físicas para desviar e ocultar verbas públicas.
Em resposta à repercussão, Sóstenes Cavalcante afirmou que os valores encontrados são fruto da venda de um imóvel de sua propriedade e que não teria conseguido depositar o dinheiro em conta bancária em razão de sua intensa rotina parlamentar.
“PERSEGUIÇÃO” – O parlamentar reiterou que a origem da quantia é lícita e reafirmou que a falta de tempo, devido às atividades legislativas, o impediu de fazer o depósito bancário. Negou qualquer irregularidade e classificou a ação como perseguição política. No entanto, a narrativa oficial enfrenta ceticismo crescente, e a PF trabalha com análises periciais que podem rastrear a origem das notas e confirmar ou contradizer a versão apresentada.
O episódio tem repercutido no cenário político nacional, justamente em um momento em que a opinião pública se mostra cada vez mais atenta a casos de potencial uso indevido de recursos públicos. O fato de um líder partidário ser flagrado com elevada soma em espécie, atrelado a investigações sobre o uso da cota parlamentar, reacende debates sobre transparência, responsabilidade fiscal e o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle e prestação de contas no Congresso.
ESCLARECIMENTOS – À medida que as investigações avançam, crescem também as expectativas por explicações completas e pelo fortalecimento institucional na fiscalização das verbas públicas. A existência de dinheiro vivo na residência de um parlamentar não pode ser reduzida a mero detalhe ou a falha administrativa, sobretudo quando se trata de um agente político que ocupa posição de liderança.
Num contexto em que a sociedade exige ética e clareza, torna-se difícil sustentar justificativas baseadas na “correria” para justificar o não depósito de valores tão elevados, ignorando regras básicas de rastreabilidade financeira.
Se figuras centrais do Legislativo normalizam condutas que se afastam do padrão esperado da administração pública, isso expõe uma desconexão preocupante com o compromisso de resguardar o bem coletivo. A minimização da gravidade de situações como essa enfraquece narrativas de integridade e responsabilidade, pilares indispensáveis ao exercício do mandato.
PADRÃO – A repetição de casos semelhantes ao longo dos últimos anos indica que não estamos diante de episódios isolados, mas de fragilidades estruturais no controle do uso de verbas parlamentares. Enquanto justificativas frágeis continuarem sendo usadas como escudo e não houver responsabilização proporcional, a mensagem transmitida é a de que parte do poder político se considera acima das regras que valem para o resto da sociedade.
O fortalecimento da confiança democrática exige mais do que discursos inflamados: requer investigações eficientes, transparência irrestrita e responsabilização efetiva. Sem isso, o custo não será apenas financeiro — será o desgaste contínuo da credibilidade institucional, abrindo espaço para descrédito generalizado e contribuindo para a corrosão progressiva da representação política no país.