quinta-feira, outubro 23, 2025

MP quer demolir mansão ilegal do presidente da Câmara de Brasília

Publicado em 22 de outubro de 2025 por Tribuna da Internet

Vista aérea da casa de Wellington Luiz, no Park Way. Ao fundo, o reservatório da Caesb, proprietária de todo o terreno que aparece na imagem. — Foto: Arquivo pessoal

A mansão foi erguida em terreno que pertence à estatal Caesb

Marcos Amorozo
g1 DF — Brasília

O Ministério Público do Distrito Federal recomendou a demolição imediata de todas as construções de uma mansão localizada na Quadra 27, no Park Way. A área é ocupada desde os anos 1990 pelo atual presidente da Câmara Legislativa do DF, Wellington Luiz (MDB), e pela esposa dele, Kilze Beatriz Montes Silva.

Segundo a promotoria: o terreno pertence à Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb); a ocupação por particulares é ilegal; a construção não tem licenciamento; o imóvel não pode ser regularizado.

MANOBRA – O MP diz ainda que a tentativa recente de licitação do imóvel foi uma manobra para burlar decisões judiciais e beneficiar diretamente o casal. A recomendação foi enviada à Secretaria DF Legal – que pode executar a demolição sem precisar de aval da Justiça.

O MP também orientou a Terracap (órgão do governo do DF que cuida de licitações de imóveis) a suspender o edital. E disse para a Caesb reaver a posse da área, cancelando qualquer tentativa de cessão ou alienação.

A Terracap suspendeu oficialmente a licitação em 20 de agosto e intimou Kilze Beatriz para se manifestar. A Caesb e o DF Legal pediram mais prazo para responder.

ILEGALIDADE – “A principal ilegalidade do edital consiste no desvio de finalidade do ato administrativo, pois a concessão de uso foi um ‘arranjo jurídico’ proposto pela Caesb para regularizar a ocupação ilegal do deputado Wellington Luiz”, afirmou ao g1 Laís Cerqueira, promotora de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística.

Em notas enviadas ao g1, a Caesb disse que “acompanha regularmente todas as ações, ainda em curso” e que prestou esclarecimentos ao Ministério Público do DF.

Já o DF Legal afirmou que chegou a multar Wellington Luiz, mas, em respeito ao processo em andamento na Justiça, não marcou data para cumprir a ordem de demolição. E a Terracap afirmou que atua na venda e na concessão dos imóveis de vários órgãos do DF, que licitou “dezenas de lotes” da Caesb só em 2025 e que o critério para essas vendas é “exclusivo da Caesb”.

SEM VEDAÇÃO – Ainda segundo a Terracap, “não há vedação para que servidores e/ou diretores do Biotic participem da concorrência para aquisição desses imóveis.”. O g1 entrou em contato com Wellington Luiz na última semana, mas não obteve retorno.

Wellington Luiz e Kilze Beatriz passam a ocupar irregularmente uma área pertencente à CAESB, no Park Way. A ocupação ocorre sem autorização formal e permanece por décadas.

Por mais de 20 anos, o deputado distrital e a esposa viveram no local sem serem questionados. Mas em outubro de 2017, a CAESB notificou extrajudicialmente o casal para desocupação da área, com prazo de 30 dias.

USUCAPIÃO – Em novembro do mesmo ano, o casal ajuíza ação de usucapião extraordinária , tentando obter a posse definitiva da área por meio judicial.

Em junho de 2019, a Justiça do DF julgou improcedente a ação de usucapião. O juiz entendeu que não é possível transferir a área com esse argumento, porque o lote é um bem público.

O Tribunal de Justiça do DF negou provimento à apelação do casal. A decisão confirma a sentença de 2019 e reforça que a área não pode ser adquirida por usucapião.

AVANÇOS NO CASO – Em 2025, houve uma série de “avanços” no caso. Em 4 de fevereiro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirma a impossibilidade de usucapião. A decisão é definitiva e reconhece que bens de sociedade de economia mista com destinação pública não podem ser usucapidos.

Em 7 de março, Kilze Beatriz é nomeada diretora da BIOTIC S.A., estatal controlada pela Terracap. A nomeação é vista como movimento estratégico para tentar reabrir o caso pela via administrativa.

E, em 2 de junho, a Terracap publica o Edital nº 08/2025, incluindo a área ocupada pelo casal como “sem destinação específica” e disponível para licitação. A descrição contradiz decisões judiciais e documentos oficiais.

PRIMEIRO ITEM – Na página 5 do edital 08/2025 da Terracap, o primeiro item é o terreno da Caesb onde o deputado Wellington Luiz construiu a casa.

Em 18 de junho, data prevista para realização da licitação. Kilze Beatriz figura como vencedora do certame, apesar de estar legalmente impedida por ocupar cargo de direção em estatal ligada à Terracap. Em 12 de agosto, o MP do DF publica a uma recomendação apontando falsidade na descrição do edital e defendendo a anulação dos atos administrativos.

Enfim, em 20 de agosto a Terracap publica comunicado suspendendo a licitação do imóvel constante do Item 1 do Edital nº 08/2025.

ALTO LUXO – A mansão de 585 metros quadrados – construída por Wellington Luiz há quase 30 anos em parte de um terreno originalmente pertencente à Caesb – se destaca pela imponência e pela estrutura voltada ao conforto máximo.

Do alto, é possível ver piscina, campo de futebol gramado, jardins extensos com palmeiras e árvores frutíferas.

A estrutura inclui áreas de convivência, caminhos internos e uma vegetação abundante que cerca o imóvel. Sem vizinhos, a única construção nas redondezas é a estação de tratamento da Caesb, verdadeira dona de todo o lote.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Wellington Luiz pertence a uma categoria de homem público que abunda no Brasil e serve a seus próprios interesses, em detrimento dos interesses da coletividade. Era policial civil e se elegeu deputado distrital prometendo combater a corrupção e a criminalidade. Acabou virando presidente da Câmara Distrital e tem participado ativamente de todos os governos corruptos da capital, que não dá sorte com políticos. (C.N.)