Desde que assumiu o poder, Trump anulou decisões judiciais sobre sua própria tentativa de golpe, em janeiro de 2020, perseguiu adversários políticos, interviu na autonomia das universidades, censurou e coagiu cientistas e intelectuais, prendeu e deportou ilegalmente estudantes e imigrantes, além de cortar em mais de 80% a ajuda humanitária internacional – o que pode levar a 14 milhões de mortes até 2030, segundo a revista científica Lancet.
Também se retirou de todos os fóruns internacionais e promoveu a militarização da Europa, enfraquecendo a paz e os acordos sobre o clima, imprescindíveis para garantir a saúde do planeta. Com mentalidade predatória, sem espaço para a solidariedade nem visão para o futuro, aliou-se incondicionalmente aos setores que ameaçam a vida e a democracia no mundo todo: Big Techs, petrolíferas, indústria financeira e militar.
Todos esses elementos estão presentes na agressão política e comercial de Trump contra o Brasil. Sim, as Big Techs estão por trás da ofensiva dos Estados Unidos, inconformados com a exigência da Justiça brasileira, materializada na figura de Alexandre Moraes, de respeito à nossa legislação.
Também se deve às Big Techs, associadas às empresas de cartão de crédito americanas, a investida contra o Pix, invenção tecnológica do Banco Central que promoveu a inclusão bancária de dezenas de milhões de brasileiros e a libertação de pequenos comerciantes das taxas cobradas pelos cartões de crédito internacionais.
Mais do que isso: o Pix tem potencial para se tornar um meio de pagamento regional, “ampliando a influência brasileira, o que sempre incomodou os Estados Unidos”, como observou Natalia Viana em sua última coluna.
Natalia, que mais uma vez é motivo de orgulho para toda nossa equipe pela conquista de um dos prêmios de jornalismo mais importantes do mundo, o Maria Moors Cabot, vai além. “Trata-se de mais um capítulo na frente de batalha que tem as criptomoedas como componente importante nas ações do governo Trump: o futuro do dinheiro no mundo digital”, cravou a jornalista.
É nesse contexto que faz sentido incluir o Brics, bloco fundado e liderado pelo Brasil, entre os motivos da vingança de Trump contra o Brasil. Explorado pela direita, como fator que justificaria os ataques, porque seria um bloco hostil aos Estados Unidos, o papel real do Brics é oferecer mais uma alternativa de diálogo entre países em um momento de destruição do multilateralismo.
Vale lembrar que foi exatamente a proposição de que os países do bloco – que inclui China e Rússia – pudessem negociar em outra moeda, que não o dólar, que provocou a declaração de Trump de que os países do Brics seriam “anti-americanos”, apesar de incluir membros que são aliados fiéis dos Estados Unidos, como a Índia e a Arábia Saudita – essa um claro anti-exemplo de respeito aos direitos humanos. |
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