A Quarta-feira Santa, celebrada na Semana Maior da fé cristã, marca um momento profundamente dramático e decisivo: a traição de Judas Iscariotes. Nesta data, a liturgia e a meditação cristã se voltam ao momento em que Judas resolve entregar Jesus por trinta moedas de prata, iniciando o caminho que leva à Paixão. É um dia que nos convida à reflexão interior: o que habita o nosso coração? Somos fiéis ou traidores da missão que Deus nos confia?
Cada um tem sua missão neste mundo: uns são jornalistas, outros políticos, outros ainda difundem a Palavra de Deus. Em meio a tantos chamados, também existem os ímpios e os pobres de espírito e de dignidade. Judas nos lembra que não basta ter um chamado: é preciso ser fiel a ele.
Judas e a liberdade mal utilizada
Judas foi chamado, escolhido por Jesus, conviveu com o Mestre, ouviu seus ensinamentos, testemunhou milagres e partilhou da intimidade do grupo dos Doze. Ainda assim, seu coração se desviou. A Quarta-feira Santa nos lembra que a traição não nasce de fora, mas de dentro: é fruto de uma liberdade mal direcionada, de um amor que se esfria, de uma alma que cede ao orgulho e à ganância.
O gesto de Judas nos interpela: quantas vezes também nós trocamos Jesus por “trinta moedas”? Quantas vezes preferimos os valores do mundo ao Reino de Deus? Sua traição não deve ser olhada apenas com condenação, mas com humildade e arrependimento, pois somos todos vulneráveis à infidelidade.
O Cristo entre dois ladrões
No Calvário, a cena final é profundamente simbólica. Jesus é crucificado entre dois ladrões (Mt 27,38), cumprindo a profecia de Isaías: “Ele foi contado entre os criminosos” (Is 53,12; Lc 22,37). Seus inimigos pensavam em humilhá-lo ao máximo, mas, ao contrário, a cruz se tornou o trono do Salvador. Entre dois pecadores, um se perde e o outro se salva, revelando o mistério da liberdade humana diante da misericórdia divina.
Um dos ladrões zombou de Jesus, mas o outro, conhecido como o “bom ladrão”, fez uma das orações mais tocantes do Evangelho: "Lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino" (Lc 23,42). Essa súplica humilde, feita em meio à dor e à condenação, revela que nunca é tarde para se voltar a Deus.
Fidelidade e profundidade espiritual
A Quarta-feira Santa nos convida a uma tomada de posição: ou seguimos Jesus com fidelidade, mesmo diante da cruz, ou o traímos com nossas pequenas e grandes omissões. Para viver este dia com profundidade espiritual, somos chamados à oração sincera, à confissão das nossas faltas, à meditação da Paixão do Senhor e ao silêncio contemplativo.
Jesus foi condenado injustamente, embora fosse inocente. Nós, pecadores, muitas vezes somos culpados — e ainda assim Ele se oferece por nós. Sua cruz é nossa salvação, sua entrega é nosso resgate. Diante disso, o mínimo que podemos oferecer é uma vida que responda com fidelidade e amor à imensidão do seu sacrifício.
Conclusão
A Quarta-feira Santa é um convite ao exame de consciência. Que tipo de discípulo sou eu? Tenho traído Jesus com minha vida? Ou sou aquele que, mesmo entre quedas, busca ser fiel? Que este dia nos encontre com o coração aberto, desejosos de seguir o Senhor até o fim, certos de que Ele nos olha com misericórdia — até mesmo quando estamos na cruz com Ele.
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