segunda-feira, março 17, 2025

Bolsonaro perde batalha para demonstrar força e pega leve com Lula

 

Por POLÍTICA JB com Agência Esado
redacao@jb.com.br

Publicado em 17/03/2025 às 07:59

Alterado em 17/03/2025 às 07:59

Jair Bolsonaro prometeu receber 1 milhão de pessoas, depois 500 mil, reuniu bem menos gente que nos atos anteriores. Foram 18,3 mil, segundo o Monitor do Debate Político do Cebrap/USP Adriano Machado/Reuters



Por Ricardo Corrêa - “Ainda dá tempo” disse Jair Bolsonaro, do alto do trio elétrico no qual comandou o evento deste domingo, 16, em Copacabana. Foi pouco depois de afirmar: “Se algo, na covardia, acontecer comigo, continue lutando”. E também depois de lembrar que no ato de 7 de Setembro de 2022, ali mesmo no Rio de Janeiro, “tinha mais gente”. Se o objetivo principal da mobilização era mostrar força ou reforçar que se Bolsonaro for preso poderá acontecer “tudo”, como sinônimo de caos social, como afirmou Silas Malafaia no mesmo palco, o resultado não veio como o esperado.

O ex-presidente que prometeu receber 1 milhão de pessoas, depois 500 mil, reuniu bem menos gente que nos atos anteriores. Foram 18,3 mil, segundo o Monitor do Debate Político do Cebrap/USP. O de 7 de setembro na Paulista reuniu 45 mil. O de fevereiro, 185 mil. O da mesma Copacabana em 21 de abril do ano passado, 32,7 mil. E, mesmo online, a transmissão oficial deste domingo não passou de 29 mil pessoas simultâneas assistindo no ápice de seu discurso. Bem abaixo dos padrões alcançados pelo ex-presidente no passado.

Há um sinal de que até seus apoiadores estão cansando, o que pode sugerir um incômodo com uma pauta distante da realidade do brasileiro. Oficialmente, o evento tinha dois motes. O principal era a anistia aos condenados pelo 8 de janeiro, que ganhou atenção de Bolsonaro na primeira parte de seu discurso. O segundo era o “Fora Lula em 2026", pois o ex-presidente vetou o pedido de impeachment de Lula agora. E em seu discurso reforçou a tese de que não quer nem pensar no petista fora do poder, pois acha que é melhor deixar a gestão sangrar sem derrubá-la. Daí um discurso morno em relação ao ex-presidente. Tanto dele quanto da maioria dos seus aliados. O alvo permanente foi Alexandre de Moraes.

A exceção à parcimônia com Lula se deu com Flávio Bolsonaro, que chegou a chamar o presidente de ladrão, e Tarcísio de Freitas, que, embora tenha feito um discurso enfático por anistia, explorou os problemas econômicos do país, em especial na inflação de alimentos. “Prometeram picanha e não tem nem ovo”, disse o governador de São Paulo, lembrando de um tema que, esse sim, poderia engajar o cidadão

Como em eventos anteriores, foi Malafaia o encarregado de usar as palavras mais duras contra o STF e Moraes, em especial. A quem chamou nominalmente de “criminoso” e “ditador” antes da ameaça de que algo poderia acontecer se houver a prisão de Bolsonaro. Um flerte perigoso com a coação no curso do processo.

Das mãos de Malafaia, Bolsonaro recebeu o microfone para citar mulheres presas pelos atos de 8 de Janeiro, reclamar das condenações altas impostas a elas pelo STF, mas para pouco depois dar uma guinada para defender sua própria liberdade. No discurso, repetiu frases quase inteiras de discursos feitos em fevereiro e setembro do ano passado para acusar o TSE de parcialidade em 2022 e de perseguição.

E passou a falar de um futuro em que demonstrou pouca esperança de reverter o cenário jurídico que pode levá-lo à prisão. “Não vou sair do Brasil. (...) Vou ser um problema pra eles preso ou morto, mas deixo acesa a chama da esperança da libertação do nosso povo”. Neste ponto, em tom muito semelhante ao que Lula usava às vésperas de ser preso pelas acusações da Lava Jato.

Os eventos esparsos estão mostrando Bolsonaro perdendo capacidade de mobilização. A cada vez que vai para as ruas, leva menos gente, ainda que haja sempre muitos apoiadores para recebê-lo. Com pressa em razão do acelerado ritmo do processo que pode condená-lo ainda este ano, ele resolveu ampliar a convocação. Em uma espécie de ‘tour final’ para tentar, com o argumento da defesa do projeto da anistia, salvar a própria pele. Por isso terminou o discurso já fazendo as convocações para os eventos de 6 de abril em São Paulo e, na sequência, para um evento no Nordeste, ainda sem data, provavelmente em Aracaju.

No palco cercado por bandeiras dos Estados Unidos (eram quatro, incluindo duas em um banner com a foto de Trump, contra duas do Brasil), Bolsonaro escreveu no discurso e em suas entrelinhas um pedido de que não seja abandonado. Um dos últimos antes de enfrentar um destino traçado.