sexta-feira, março 07, 2025

A c A carta, os puxa-sacos, os conservadores e até a esquerda

 

Por ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO

Publicado em 07/03/2025 às 11:45

Alterado em 07/03/2025 às 11:45


'Todas as cartas de amor são ridículas'
                                                                   Fernando Pessoa, na pessoa de Álvaro de Campos



Sou de uma época na qual a gente não tinha celular. Televisão era um objeto raro e, para fazer uma ligação interurbana, era necessário ir até a telefônica e consultar uma telefonista. Eu era um apaixonado por cartas. Como adorava escrever, as cartas eram a melhor maneira de me comunicar. Certa vez, em Paris, na rua de Cherche-Midi, eu estava almoçando na casa do Gérard Depardieu e relatei a ele um episódio que, para mim, é muito mais interessante do que o clássico romance francês que jogou seu nome para a glória mundo afora, com seu personagem Cyrano de Bergerac. Entre um copo e outro do vinho Cyrano, produzido pelo artista, eu contei uma história que havia ocorrido comigo quando eu morava em Patos de Minas. Ao final, o Depardieu me disse: “faça um roteiro dessa história que eu faço questão de filmar”.

Eu morava no interior e não tinha dinheiro para viajar nas férias. Recebia em casa os primos. Certa vez, um desses primos ficou um mês lá e, desde o primeiro dia, apaixonou-se por uma menina linda que morava em Patos de Minas. Durante todo o tempo, ele se dedicou, em vão, a uma paixão não correspondida. Nem mesmo um beijo ele conseguiu. No dia de voltar para São Paulo, ele, desolado e triste, pediu-me: “Kakay, eu não sei escrever. Faça uma carta para eu mandar para ela”. Eu escrevi uma longa carta, romântica e sedutora. Ele chegou em casa, passou para a letra dele e mandou a carta. Em 5 dias, eu recebo, surpreso, a visita da menina com a correspondência nas mãos. Ela me pediu para ler e me disse: “se ele tivesse conseguido me dizer o que escreveu, eu teria namorado com ele”. E, então, veio a surpresa: “Kakay, você pode responder para mim?”. Durante um ano, eu me correspondi comigo mesmo! Fui apimentando as cartas e, nas outras férias, quando meu primo chegou em Patos, eles, no primeiro dia, começaram um tórrido romance. Que durou só 5 dias, pois ela me disse que o cara das cartas só existia por escrito. Depardieu se apaixonou pela história. Anos depois, fazendo análise com o psicanalista francês Éric Laurent, em Paris, eu contei essa história e ele me disse: “foi aí que você se apaixonou por você”.






Com a proximidade do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do ex-presidente Bolsonaro, de sua inexorável condenação e de sua prisão, a ultradireita se prepara para ocupar o vazio deixado pelo líder extremista. E eles não usam carta, preferem ocupar, às vezes criminosamente, as redes sociais.

Um Senador teve a desfaçatez de pedir, em uma mensagem gravada, que os Estados Unidos da América invadam o Brasil!! Parece inacreditável, mas é verdade. E o Senado nada fez para apurar a evidente quebra de decoro. Outro Deputado se uniu aos Congressistas norte-americanos de direita para conspirar contra o Supremo Tribunal. Tudo gravado e divulgado para atingir a massa acéfala e raivosa. Daqui para as eleições, a aposta será, sem dúvida, no recrudescimento do extremismo que cresce no mundo todo.

No Brasil, o único que pode derrotar novamente o fascismo é, com certeza, o presidente Lula. Sua reeleição passa a ser uma questão de sobrevivência. Assim como somente ele conseguiria vencer Bolsonaro, que tentava a reeleição em 2022, teremos igualmente uma guerra da democracia contra a barbárie. E o projeto passa, mais uma vez, por uma aliança ampla para derrotar a extrema-direita. A reeleição é bem mais fácil. Em 2022, parecia impossível. Mas é necessário critério, vontade, trabalho e inteligência. Muitos acham que não existe uma direita mais civilizada, mas o fato é que a união com o conservador Geraldo Alckmin, político sério, ético e confiável, foi uma força enorme no último pleito eleitoral. Se o Alckmin resolver tentar o governo de São Paulo, nós podemos buscar em Minas Gerais nosso Senador Rodrigo Pacheco. Só não podemos perder as eleições. E somente o Lula poderá derrotar a força avassaladora fascista. É preciso ter a humildade de estarmos todos juntos. Vamos discutir o Brasil. Do impetuoso ao puxa-saco. Até o bajulador tem um papel neste momento de crescimento da violência política. Em regra, o político, que normalmente tem um ego maior do que o meu, não precisa muito do adulador, mas, nesta hora de preocupante crescimento das forças intolerantes, faz-se necessária a união em torno do Lula.

Relembrando o velho Churchill, na defesa de um mundo livre das barbáries de Hitler: “Nunca tantos deveram a tão poucos”.

 

Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, é advogado

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