Publicado em 12 de fevereiro de 2025 por Tribuna da Internet
Trump quer assumir as ricas jazidas minerais da Ucrânia
Wálter Maierovitch
do UOL
Como sabe até a mitológica deusa romana Libertas, entronizada monumentalmente em Nova York, o neopresidente Donald Trump errou ao afirmar, levianamente, que acabaria com a guerra na Ucrânia em 24 horas.
No momento, existem dúvidas quanto a ter havido em novembro passado, como anunciado por Trump, uma ligação telefônica ao presidente russo Vladimir Putin para acertos futuros sobre a guerra. Para muitos, Trump inventou o telefonema para poder sustentar o tal prazo de 24 horas.
Perguntado pelo repórter do New York Post, ele respondeu: “É melhor que não lhe diga”.
NEM SIM NEM NÃO – A desconfiança veio à tona porque Trump sustentou ter mantido, entre sábado e domingo passados, conversa telefônica com Putin. O Kremlin não confirmou e, com a estratégia de sempre, também não desmentiu.
O presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, preocupou-se e entrou em campo para avisar, com sutileza, seu desejo de participar do tão propalado encontro entre Trump e Putin sobre a Ucrânia. Já teme levar bola nas costas e não vê lógica de ficar fora de conversa que envolve seu país.
“Não podemos permitir que alguém decida qualquer coisa por nós”, frisou Zelensky.
VISÕES DIFERENTES – Trump e Putin têm visões diferentes e, ao que tudo indica, inconciliáveis para se chegar ao fim da guerra.
Trump tem visão mercantilista e míope. Ele, como se fosse um corretor à cata de comissões e não presidente dos EUA, quer receber, em troca da paz, o contido em “terras raras” ucranianas: lítio, urânio e outros minerais. A expressão “terras raras” é do próprio Trump.
Talvez Trump ainda não tenha sido informado que essas reservas encontram-se bem próximas dos russos – -em região próxima ao Donbass (bacia carbonífera do Donests), área pretendida pela Rússia.
10% DO TERRITÓRIO – Putin, que cinicamente afirmou estar preocupado com as mortes na guerra e para lá enviou norte-coreanos como ‘bucha de canhão” (pelo despreparo, morrem como moscas, disse um general ucraniano), quer garantir uma fatia de mais de 10% do território ucraniano, a ser integrado a já conquistada Criméia.
Segundo Trump, na conversa telefônica do final de semana, Putin teria dito: “Toda aquela gente morta. Jovens, belas pessoas. São como os vossos filhos, dois milhões deles”.
Mas e ao contrário do imaginado por Trump, o interesse de Putin não está nos mortos e não se resume às conquistas territoriais. E Zelensky sabe bem disso.
AS EXIGÊNCIAS – Putin não abrirá mão da neutralidade da Ucrânia, ou seja, jamais quer vê-la integrando a Aliança Atlântica (Otan).
Mais ainda, Putin quer a Ucrânia sem exército e armas. E, lógico, não quer assumir nenhuma garantia de que não realizará novas anexações.
Trump não tem a mínima visão de estadista. É apenas um empresário, de visão mercantilista, como afirmei acima.
UCRÂNIA VENDIDA – Zelensky, que já percebeu tudo, pisa em ovos. Numa reunião somente entre Trump e Putin, ele tem certeza que sairá vendido –junto com a Ucrânia.
Zelensky pretende, e esta é a razão da resistência à invasão russa, uma Ucrânia livre, autônoma e independente.
Para a inteligência ucraniana, e Trump não sabe, o presidente russo já projetou investir 10% do PIB na guerra. Putin está calculando a guerra como de longo prazo, depois da gritante falha de informação quando imaginou uma invasão concluída em poucos dias e com aplausos dos ucranianos.
MAIS SOLDADOS – Para os 007 ucranianos, Putin projeta utilizar mais 100 mil novos soldados nos combates.
Keith Kellogg, 80 anos e assessor da Trump para a guerra na Ucrânia, revelou à mídia norte-americana ser preciso uma centena de dias para o governo trabalhar com a tentativa de colocar fim à guerra.
Disse isso porque Trump tomou posse no dia 20 de janeiro e o prazo trombeteado já escoou.