sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Oposição ignora sinal de Alcolumbre sobre anistia do 8/1 e mantém mobilização

 Foto: Joedson Alves/Arquivo/Agência Brasil

Invasão aos poderes em 8 de janeiro21 de fevereiro de 2025 | 06:55

Oposição ignora sinal de Alcolumbre sobre anistia do 8/1 e mantém mobilização

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Senadores e deputados federais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizaram a declaração do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sobre a anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro e prometeram manter pressão para que o tema entre em pauta no Congresso.

Alcolumbre marcou posição sobre o assunto na quarta-feira (20), horas após a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o ex-presidente por tentativa de golpe: disse que a anistia não está em debate nem é assunto dos brasileiros.

“Isso [anistia] não é um assunto que nós estamos debatendo. Quando a gente fala desse assunto, a todo instante, a gente está dando de novo a oportunidade de nós ficarmos, na nossa sociedade, dividindo um assunto que não é um assunto dos brasileiros”, afirmou.

Mesmo com o recado público à ala bolsonarista do Senado, Alcolumbre foi poupado de críticas. Um senador do PL diz, reservadamente, que a fala não muda o diagnóstico de antes. Alcolumbre, segundo ele, não deve ser o fiador da proposta, nem barrar a tramitação futuramente.

A possibilidade de tentar votar a medida primeiro no Senado foi descartada pela oposição há meses, diante do cenário reconhecidamente hostil, mas a avaliação é de que o projeto de lei pode ganhar tração na Câmara dos Deputados com pressão popular.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RS), disse não estar preocupado com o Senado neste momento. Para ele, a fala de Alcolumbre foi um gesto para o governo. “O Davi é artista. Meu amigo pessoal”, afirmou.

“Eu estou preocupado em votar aqui [na Câmara]. Depois lá, onde a briga é outra. Ele pode falar o que ele quiser. Na hora que eu aprovar aqui, você vai ver o que vai acontecer do outro lado [Senado]”, disse, acrescentando que quem pauta não é o presidente, mas o colégio de líderes.

A oposição também promete fazer barulho em torno da pauta por meio da Comissão de Direitos Humanos do Senado. Segundo relatos, Bolsonaro falou rapidamente do uso do colegiado para esse fim com a nova presidente, senadora Damares Alves (Republicanos-DF) —que foi ministra no governo anterior.

Damares já afirmou a pessoas próximas que pretende chamar a atenção para o projeto de lei por meio de audiências com a participação de familiares dos presos e advogados, além de visitas ao sistema penitenciário.

Um motorista de carreta condenado a 14 anos de prisão e foragido da Justiça desde o ano passado se tornou a referência de parlamentares da oposição para pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar a anistia.

Na semana passada, deputados levaram a esposa dele, Vanessa Vieira, e seus filhos à Câmara para pedir “misericórdia” a Motta. “Ele foi condenado a 14 anos, mas não cometeu nenhum crime”, disse a mulher sobre Ezequiel Ferreira Luis, 43, preso em flagrante em 8 de janeiro.

Entre aliados do presidente Lula (PT), a percepção é de que Alcolumbre “colocou a bola no chão” e deixou claro que, mesmo com o barulho de Bolsonaro, a anistia não está na ordem do dia nem tem votos para ser aprovada.

Senadores governistas afirmam taxativamente que o projeto de lei não será aprovado nesta legislatura. Um parlamentar ouvido pela reportagem nesta quinta (20) disse que não foi Alcolumbre quem enterrou o projeto, mas sim as provas trazidas à tona sobre a trama golpista.

Segundo um interlocutor do presidente do Senado, ele quis deixar claro que o Congresso, sob seu comando, deve se dedicar a projetos que possam melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, evitando polêmicas —e que a anistia não está entre as prioridades do país.

Minutos depois da declaração, o presidente da Casa abriu a sessão plenária —a primeira desde a eleição— dizendo querer discutir problemas reais. Alcolumbre fez um longo discurso de união e afirmou que o Senado quer demonstrar pacificação e moderação.

Na Câmara, as falas do senador foram usadas por deputados críticos à ala mais pragmática da direita que busca fechar acordo com o centrão. Reservadamente, parlamentares avaliaram que essa é uma demonstração clara de que não dá para confiar no grupo.

“Se a anistia de 8 de janeiro não faz parte do Brasil, o que é o mundo para ele?”, disse o deputado Bibo Nunes (PL-RS), autor do projeto de lei que muda a Lei da Ficha Limpa para tentar salvar Bolsonaro da inelegibilidade.

Pouco antes de ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), Bolsonaro defendeu a anistia e o enfraquecimento da ficha limpa, em visita ao Senado. “Acho que na Câmara já tem quórum para aprovar a anistia”, afirmou.

Thaísa Oliveira e Marianna Holanda/Folhapress