domingo, fevereiro 23, 2025

Momento para Trump taxar agronegócio é péssimo para os Estados Unidos

Publicado em 23 de fevereiro de 2025 por Tribuna da Internet

Mauro Zafalon
Folha

Donald Trump escolheu um péssimo momento do agronegócio dos EUA para retomar a guerra comercial contra os principais parceiros do país. O Usda (Departamento de Agricultura) acaba de fechar os números do setor de 2024, e o resultado é desastroso.

No primeiro mandato de Trump, essa atividade havia registrado o primeiro déficit comercial desde 1959. Nos anos recentes, o poder de exportação do país perde força, e as importações crescem. Estas superaram, pela primeira vez, os US$ 200 bilhões de janeiro a dezembro de 2024. O saldo nas negociações com produtos agrícolas foi negativo em US$ 37 bilhões.

SETOR GIGANTE – O agronegócio total dos EUA continua gigante, com transações de US$ 456 bilhões entre exportações e importações, mas é um dos que mais sofrem quando Trump se coloca como xerife do mundo.

As transações comerciais do agronegócio brasileiro são bem menores e movimentaram US$ 184 bilhões no ano passado. O Brasil, no entanto, é um importante fornecedor para os EUA, mas as chances de receber retaliações são limitadas.

Os americanos sempre tiveram grande déficit comercial com os brasileiros nesse setor. Desde o início dos anos 2000, conforme dados do governo americano, os EUA exportaram US$ 20,9 bilhões para o Brasil e importaram o correspondente a US$ 91,2 bilhões.

GRANDE CONSUMO -As exportações brasileiras se concentram em produtos os quais os americanos consomem muito e não conseguem repor com produção própria. Nesse setor não tem como fazer a “America Great Again”.

Nessa linha do tempo das relações comerciais, o café está no topo da lista, e os americanos gastaram US$ 26,4 bilhões no Brasil com esse produto desde o início deste século. No ano passado, as importações somaram US$ 2,1 bilhões no Brasil.

Outro produto brasileiro que vem ganhando força no mercado americano é a carne bovina, cujas importações feitas no Brasil somaram US$ 1,37 bilhão no ano passado. Esta já tem uma tarifa de 26,4% e vem ocupando espaço devido à queda na produção nos EUA.

SUCO DE FRUTAS – Outro item importante da balança comercial brasileira com os EUA é o de suco de frutas, que já é taxado e atingiu US$ 1,14 bilhão em 2024. A produção mundial cai, mas a americana tem ritmo ainda maior de desaceleração.

O setor de açúcar, que poderia ser bem mais ativo na relação comercial entre os dois países, já tem fortes barreiras. Mesmo assim, o Brasil é o principal fornecedor, com receitas de US$ 598 milhões em 2024, segundo o Usda.

Os americanos são dependentes também de produtos florestais brasileiros e importaram US$ 1,6 bilhão em 2024. O etanol, um dos itens que entraram nessa discussão de tarifas, tem uma importância limitada em relação ao volume financeiro dos principais da lista.

MENOR VOLUME– O comércio de etanol entre os dois países começou na década de 1990 e já chegou a 2 bilhões de litros anuais tanto de compra brasileira como da americana.

Agora, os volumes são menores. Em 2024, o Brasil exportou 333 milhões de litros para os EUA e importou 105 milhões, segundo o Usda. Nesse produto, a tarifa brasileira de importação de 18% é bem maior do que a americana de 2,5%.

O problema de os EUA colocarem tarifas nesses produtos brasileiros que estão no topo da lista é que outros países fornecedores dos mesmos produtos já estão na mira de guerra comercial de Trump, como México e Canadá, os dois maiores parceiros americanos.