segunda-feira, fevereiro 17, 2025

Lula ainda lidera todas as pesquisas

EDITORIAL


Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 16/02/2025 às 16:58

Alterado em 16/02/2025 às 16:58


Toda pesquisa eleitoral é diferente de outra. Por diferença de metodologia, amostragem, pela época e o teor das perguntas. Mesmo quando feita pelo mesmo instituto, uma pesquisa não pode ser comparada com a outra, porque os momentos, a situação que leva o entrevistado (presencial ou por telefone) a reagir desta ou daquela forma (às opções de resposta) varia de um momento para outro. Se as rádios, TVs e as redes sociais passam a semana focando em crimes (as notícias mais fáceis de serem produzidas, pois há copiosos Boletins de Ocorrência país afora, e o popular e rasteiro jornalismo de B.O. explora muito isso), uma pesquisa pode apontar a segurança pública como a primeira ou segunda preocupação do brasileiro.

Porém, pelo enorme peso no orçamento das famílias (22%), a preocupação número 1 das famílias brasileiras é o preço dos alimentos. Em seguida vêm o atendimento à saúde (que se estende à carestia dos remédios e ao saneamento básico, cuja carência influi na saúde geral), a educação, o transporte público e a segurança. A evolução dos preços em supermercados, feiras-livres, farmácias e comércio em geral influi muito na aprovação ou desaprovação dos governos.

E os preços da alimentação estão no pior momento. Turbinados pela alta do dólar (havia um temor mundial contra as tarifas de importação do governo Trump), subiram 1,06% em outubro, 1,55% em novembro e 1,18% em dezembro, acumulando 3,88% nos últimos três meses do ano passado, praticamente a metade do aumento de 8,22% da alimentação em domicílio em 2024. Mas o dólar já refluiu quase 10% nas cotações desde o pico de 17 de dezembro. E o início da colheita da maior safra agrícola da história (325 milhões de toneladas de grãos) a partir de fevereiro, já está desacelerando a inflação dos alimentos. Em janeiro caiu para 0,96%, mas ainda não devolveu a escalada provocada pela alta do dólar nas carnes, no café e nas frutas exportadas, influenciadas pela cotação em dólar.

O mês de fevereiro ainda deve apontar nova alta da inflação mensal. É que, se em dezembro e janeiro houve baixa na tarifa de energia elétrica, pelo bônus da energia de Itaipu (30% do abastecimento nacional), em fevereiro virá o repique. A LCA Consultores está esperando alta de 1,33% no IPCA, o índice oficial de inflação, com aumento de 0,69% em Alimentação e Bebidas (metade da média do último trimestre do ano). Os vilões serão a Habitação, com alta de mais de 4%, puxada pelo aumento da energia elétrica (negativa no mês anterior) e a alta de mais de 5% nas despesas com Educação (matrícula e material escolar).

Portanto, uma pesquisa feita no final deste mês ou no começo de março, com os resultados ruins – mas passageiros - da inflação pode jogar a aprovação do governo Lula no chão. Sobretudo se as TVs e mídias só entrevistarem representantes do PL, de Jair Bolsonaro, que faz a oposição mais radical ao presidente Lula.

Os números do último Datafolha, que apontaram queda da aprovação do governo Lula para 24% e crescimento da reprovação para 41%, mas com os 32% de conceito regular (se fosse numa nota escolar, Lula passaria de ano sem segunda época) são reflexo do momento e podem piorar.

O que surpreende é que, apesar de tudo – e o entrevistado não consegue distinguir o que é culpa do governo, do Congresso ou do Judiciário nos problemas que sente no bolso –, o presidente Lula ainda se mostra competitivo e lidera todas as pesquisas para a eleição de 2026. Que, por sinal, está muito longe para que se façam avaliações a serem levadas a sério. Mas políticos que ficaram atrás de Ciro Gomes (9%, apesar do aparente ostracismo) e do cantor sertanejo Gusttavo Lima devem abrir o olho. A inclusão do cantor em pesquisa eleitoral ocorreu porque ele declarou intenção de ser candidato a presidente. Sua afinidade com a administração pública se resume a arrancar milionários patrocínios das prefeituras em “shows” de feiras do agronegócio país afora.