segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Hugo Motta e Davi Alcolumbre mantêm poder do Centrão no Congresso


Alcolumbre e Mota representam a continuidade de dinastias políticas

Pedro do Coutto

O Senado e a Câmara dos Deputados elegeram neste sábado Davi Alcolumbre e Hugo Motta, respectivamente, como seus novos presidentes. Os dois eram os favoritos em suas disputas. A previsão de analistas é que as mudanças vão manter o Congresso forte e independente do governo de Lula da Silva que deve continuar tendo dificuldade para avançar suas propostas no Legislativo em 2025, um ano decisivo para tentar melhorar a sua avaliação e fortalecer os seus planos de reeleição. A expectativa é que pautas econômicas, como a ideia de mudar regras do Imposto de Renda, possam ser aprovadas, mas à base de muita negociação e concessões, enquanto propostas com mais resistência na oposição, como a ideia de regular as redes sociais, continuem travadas.

Em seu discurso, Alcolumbre afirmou: “Para mim, governar é ouvir, liderar e servir. É disso que o nosso país precisa agora. Uma liderança que una e não que divida”, disse O presidente Lula parabenizou Alcolumbre nas redes sociais: “Um país cresce quando as instituições trabalham em harmonia. Caminharemos juntos na defesa da democracia e na construção de um Brasil mais desenvolvido e menos desigual, com oportunidades para todo o povo brasileiro”.

DISCURSO – Hugo Motta, levou 444 votos dos 513 possíveis (499 deputados votaram). Em seu discurso de vitória ele citou mais de uma vez Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 e repetiu a frase célebre do parlamentar: “Tenho ódio e nojo à ditadura”.

“Não existe ditadura com parlamento forte. O primeiro sinal de todas as ditaduras é minar e solapar todos os parlamentos. Por isso, temos de lutar pela democracia. E não há democracia sem imprensa livre e independente.” Ele terminou com uma referência ao filme Ainda Estou Aqui, indicado ao Oscar e focado na época da ditadura militar: “Em harmonia com os demais poderes, encerro com uma mensagem de otimismo: Ainda estamos aqui!”.

Tanto Alcolumbre quanto Motta são lideranças do Centrão — classificação que abarca partidos predominantemente conservadores, mas que costumam apoiar governos de diferentes tendências políticas em troca de cargos e acesso a verbas públicas. Os dois costuraram uma ampla aliança, que vai do PT de Lula ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, e contam com o apoio dos atuais presidentes das duas Casas, o deputado Arthur Lira e o senador Rodrigo Pacheco.

DIÁLOGO – Motta deve ter um diálogo melhor com o Palácio do Planalto do que Lira, mas isso não será garantia de mais facilidade nas votações. Já Alcolumbre deve dar mais dor de cabeça por ter um estilo mais confrontacional e um apetite maior por cargos e verbas públicas do que Pacheco.

Sem dúvida, o grande vitorioso nas eleições de Alcolumbre e Hugo Mota foi o Centrão, demonstrando que o bloco possui uma força suprapartidária no cenário político e de poder, ratificando que sempre que precise restituir líderes nessa caminhada, serão capazes de colocar-se  em posição de destaque para tornar-se um instrumento importante.

A vitória de ambos criou também uma nova realidade política no país que é o fortalecimento das bases que a partir de agora dividem as escalas do poder com Lula de um lado e com Bolsonaro de outro, embora Lula continue absoluto no PT, enquanto Bolsonaro está dependendo do PL e de um leque de apoios para que escolha alguém nas urnas de 2026. As urnas dirão qual será esse nome. A sucessão do próximo ano, portanto, já começou.