domingo, fevereiro 09, 2025

Derrapada de Lula sobre inflação não é apenas problema de marketing


Alta dos preços: Lula diz que inflação de alimentos deve ser solucionada em  breve

Como não sabe o que fazer, Lula então começa a embromar

Fabiano Lana
Estadão

A gestão de Sidônio Palmeira como ministro da propaganda do governo Lula 3 parece ter o vício da frivolidade cibernética que marca o espírito de nossos tempos. Aparentemente haverá mais atenção a vídeos tiktokers com o presidente, bonés com slogans edificantes, descontração e até mesmo trilhas sonoras de fundo.

Mas está longe de tocar nas feridas que têm como consequência os problemas de popularidade da gestão.

ENORMES DESAFIOS – Sidônio tem alguns desafios que talvez nem as mais modernas técnicas de comunicação do mundo conseguirão enfrentar a contento. O primeiro é que o País está cindido.

Há uma torcida apaixonada e muitas vezes irracional a favor ou contra líderes políticos com traços populistas. O amor a um é exatamente proporcional à repulsa ao outro. Traduzindo: quem gosta de Lula não gosta de Bolsonaro e vice-versa.

É algo que tem a ver com afetos, com necessidade de ter um líder a seguir (quase) cegamente, e outras coisas das profundezas da alma humana que é de difícil tratamento superficial. Enfim, como falar para todo mundo e não apenas com a turma que pensa igual?

DURA REALIDADE – O outro desafio é algo chamado realidade. Termos como real, verdade, ou correlatos são de difícil definição. Mas podemos provisoriamente chamar de real como a barreira que impede de realizar nossas fantasias – pessoais, profissionais, amorosas, e, no caso, políticas.

Que comunicação pode dar conta de um problema que incomoda tanto como a inflação de alimentos? Talvez nenhuma. A não ser que os preços voltem a se tornar estáveis.

Mas aí temos outra questão que Sidônio está lidando agora. O conceito de economia do PT mistura certo negacionismo quanto às limitações da economia com propostas que são intrinsecamente inflacionistas – como por exemplo o crescimento econômico a partir da expansão do Estado, mesmo que por meio de déficits públicos.

SEM PRIORIDADE – Quando há mais de 30 anos o PT votou contra o Plano Real foi mais do que picuinha de oposição. Combater inflação, o que exige contas equilibradas, de certa maneira nunca foi uma prioridade do petismo.

Não é à toa que o maior inimigo do Brasil para tantos é o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que aumentava os juros com o intuito oficial de derrubar os preços.

Talvez por conhecer bem sua turma que Lula – sempre às voltas com contradições e ambiguidades – colocou como presidente do Banco Central em seus dois primeiros governos um banqueiro internacional tucano.

LEMBREM DILMA – No governo Dilma Rousseff, quando, pela primeira e única vez, houve consonância entre ministro da Fazenda e presidente do Banco Central com o pensamento tradicional do petismo sobre economia, a consequência foi uma das maiores crises de todos os tempos.

A fala de Lula em que traz uma visão cândida sobre inflação – em que pede para nós escolhermos os produtos mais baratos, o que aliás sempre fazemos, foi apenas uma recaída da visão tradicional do petismo sobre economia.

O problema – muito mais do que ter-se tornado uma estratégia de comunicação – é que, quando a tese do PT sobressai, a história nunca acaba bem.