Publicado em 15 de fevereiro de 2025 por Tribuna da Internet
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Trump fala em ‘morte’ do bloco após ameaçar países com tarifas
Pedro do Coutto
Em meio à ofensiva do presidente americano, Donald Trump, contra o Brics, a Presidência do Brasil do bloco se comprometeu a desenvolver uma plataforma que permita aos países-membros usarem suas próprias moedas para o comércio entre eles, o que poderia abrir caminho para substituir, em parte, o dólar como moeda do comércio internacional.
“De forma a cumprir o mandato estabelecido pelos líderes do Brics na Cúpula de Joanesburgo em 2023, a Presidência do Brasil dará continuidade aos esforços de cooperação para desenvolver instrumentos de pagamento locais que facilitem o comércio e o investimento, aproveitando sistemas de pagamento mais acessíveis, transparentes, seguros e inclusivos”, diz o documento.
GUERRA COMERCIAL – A medida contraria os interesses do governo dos Estados Unidos, que iniciou uma verdadeira guerra comercial com a elevação de tarifas para alguns mercados e produtos, incluindo o aço e o alumínio, mercadorias que o Brasil exporta para o país. Antes de se reunir com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que faz parte do Brics, o presidente Trump disse que o bloco estaria “morto” depois das ameaças que fez de taxar em 100% as importações dos países que substituam o dólar. Por sua vez, o documento da Presidência brasileira do Brics afirma que o “recurso insensato ao unilateralismo e a ascensão do extremismo em várias partes do mundo ameaçam a estabilidade global e aprofundam as desigualdades”.
O documento completa dizendo que “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado o potencial do Brics como espaço para construção das soluções de que o mundo tanto precisa. Mais do que nunca, a capacidade coletiva de negociar e superar conflitos por meio da diplomacia se mostra crucial. Nosso agrupamento dialoga com todos e está na vanguarda dos que defendem a reforma da governança global”.
Será necessário que o Brasil deixe mais claro para o mundo o que significa esse tipo de mecanismo de pagamento em moeda local, uma vez que também não quer criar atritos com os EUA. Até que ponto a criação de mecanismos para pagamento em moeda local no âmbito do Brics representa, ou não, uma alternativa ao dólar ? É preciso que isso seja dito.
HEGEMONIA – Os Estados Unidos buscam preservar a sua hegemonia econômica global, que tem no dólar como moeda internacional uma das suas principais vantagens. Por outro lado, os países do Brics defendem que o uso de moedas locais para o comércio traz benefícios econômicos e reduz fragilidades externas, pois os países não precisariam recorrer sempre ao dólar para o comércio exterior.
Há muito o que se fazer para enfrentar esse período Trump. Se, de fato, o Brics conseguir avançar em facilitar o comércio interno dentro do bloco, à revelia das tarifas impostas, avançando nos descontos de transações de crédito e no financiamento do comércio em moedas locais, podemos ter um avanço significativo. O Brasil ainda promete fortalecer a recém-criada Rede de Think Thanks sobre Finanças e a cooperação em infraestrutura, tributação e aduanas, assim como aprofundar a Parceria Brics para a Nova Revolução Industrial.
A regulação da Inteligência Artificial é outra agenda da Presidência brasileira no Brics. No documento que detalha as prioridades da Presidência brasileira, o país se compromete ainda a promover a defesa da reforma das instituições financeiras internacionais, em especial, do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.
TARIFAS – O anúncio de Donald Trump sobre a criação de tarifas recíprocas para países que impõem taxas de importação sobre produtos dos EUA, como o etanol brasileiro, reforça a sua estratégia de reduzir os déficits comerciais e implementar o ‘American first’. Porém a medida acirra ainda mais a tensão comercial, especialmente entre os membros do Brics, ameaçados de taxas de até 100% e que já vêm enfrentando desafios relacionados à competitividade e ao uso do dólar.
O impacto das tarifas poderá desestabilizar ainda mais as economias emergentes, como o Brasil, elevando o valor do dólar e prejudicando a balança comercial. Além disso, esse movimento pode levar o Fed a subir os juros, o que agravaria a fuga de capitais para os EUA e afetaria a estabilidade econômica global.
INFLAÇÃO – Com a possibilidade de uma guerra comercial em grande escala, a inflação global tende a aumentar, especialmente nos EUA. Isso pode dificultar ainda mais o trabalho do Federal Reserve em atingir sua meta de inflação de 2%, já que a elevação dos custos de insumos básicos tende a pressionar os preços, forçando o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa e a realizar novos aumentos de juros.
Para o Brasil, essa situação pode resultar em uma valorização do dólar e na desestabilização das relações comerciais, prejudicando a competitividade das exportações e afetando o fluxo de capitais internacionais. O aumento das taxas de juros nos EUA atrai investidores para os títulos públicos americanos, valorizando o dólar frente a outras moedas e criando um cenário de instabilidade para economias emergentes como a brasileira. As próximas semanas podem ser decisivas neste cenário internacional de incertezas e confrontos.