Publicado em 7 de janeiro de 2025 por Tribuna da Internet
Jamil Chade
do UOL
Há quatro anos, um personagem marcou história. Vestido como um Viking, Jacob Chansley fez parte da ofensiva contra o Capitólio, num abalo à democracia americana. Durante a invasão, ele deixou um bilhete com ameaças ao então vice-presidente Mike Pence. Ele seria condenado a 41 meses de prisão e já está solto,.
Nesta segunda-feira, em declarações ao jornal New York Times, ele insiste que “experimentou a tirania em primeira mão”. Segundo ele, o dia 6 de janeiro de 2021 foi “uma armação”.
NOVO SIGNIFICADO – Ele não está sozinho em sua afirmação e o presidente eleito Donald Trump costura uma ofensiva para dar um novo significado para a data e transformá-la num gesto de resistência. O republicano, durante a campanha eleitoral, chegou a qualificar o 6 de janeiro como “um dia do amor”.
Hoje, ele volta ao poder numa posição ainda mais predominante. Confirmado nesta segunda-feira pelo Congresso americano, Trum agora promete “agir muito rapidamente” para perdoar os autores dos ataques de 6 de janeiro.
Para diplomatas estrangeiros na capital americana ouvidos pelo UOL, o esforço de apagamento do que ocorreu naquele dia deve servir como um alerta ao mundo da operação da extrema direita.
PREOCUPAÇÃO – “O mundo acompanha com preocupação o que ocorre na democracia que se apresenta como modelo a todos”, afirmou um embaixador de um país europeu, na condição de anonimato.
“Se aquelas cenas não são suficientes, o que será?”, questionou outro diplomata.
Desde 2021, mais de 1.580 réus foram acusados e cerca de 1.270 foram condenados em uma investigação extensa que resultou em mais de 660 sentenças de prisão. Esses julgamentos resultaram em sentenças pequenas, com poucas exceções como no caso do ex-presidente dos Proud Boys, Enrique Tarro, que pegou 22 anos de cadeia.
HAVERÁ ANISTIA? – Mas tudo isso deve ser anulado a partir da volta de Trump ao poder. Numa coluna publicada no Washington Post, nesta segunda-feira, o presidente Joe Biden alerta que existe uma ofensiva para tentar “apagar” o que ocorreu em 6 de janeiro de 2021.
“Não podemos aceitar uma repetição do que ocorreu há quatro anos”, escreveu o ainda presidente Joe Biden.
“Quatro anos depois, ao deixar o cargo, estou determinado a fazer tudo o que puder para respeitar a transferência pacífica de poder e restaurar as tradições que há muito respeitamos nos Estados Unidos”, escreveu Biden. “A eleição será certificada pacificamente. Convidei o novo presidente para a Casa Branca na manhã de 20 de janeiro e estarei presente em sua posse naquela tarde”, disse.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não há comparação com o 08/01 de Brasília. Em Washington, instigados por Trump, milhares de manifestantes escalaram as paredes do Capitólio, quebrando janelas e chutando portas. “A apenas alguns quarteirões de distância, uma bomba foi encontrada perto do local onde se encontrava a nova vice-presidente, ameaçando sua vida. Agentes da lei foram espancados, arrastados, deixados inconscientes e pisoteados. Alguns policiais acabaram morrendo em decorrência disso”, relatou Biden. E outra diferença foram as condenações, quase todas muito pequenas, de apenas poucos anos ou meses. Quem se declarava culpado pegava apenas 20 dias de prisão, bem diferente do 08/01, com suspeitos julgados como “terroristas” e pegando 17 anos, uma vergonha mundial. (C.N.)