quarta-feira, janeiro 29, 2025

Especialista diz que Trump “não sabe lidar com complexidade de um país como os EUA” e avalia contexto político brasileiro e latino

 

Especialista diz que Trump “não sabe lidar com complexidade de um país como os EUA” e avalia contexto político brasileiro e latino
Foto: Reprodução/Youtube | Google Maps | Marcelo Camargo/Agência Brasil

A volta da extrema-direita ao poder nos Estados Unidos, representada na figura de Donald Trump, e os possíveis reflexos negativos para o Brasil e a América latina. Esse foi o tema da entrevista que o Bahia Notícias fez com o professor de Direito da Universidade Federal Fluminense, Rogerio Dultra, que explicou como governo norte-americano pode se “estrangular” com suas próprias medidas.  

 

“Trump tem experiência para aprofundar essa radicalização da direita, o que vai paradoxalmente provocar uma dissolução do apoio que ele tem. Porque as causas que ele defende: extradição dos imigrantes, protecionismo vão causar uma derrocada econômica e eleitoral. Essas medidas propaladas e que começaram a ser postas em prática vão prejudicar a popularidade dele nos próximos anos. Estamos tratando de um governo extremista, que não sabe lidar com a complexidade de um país como os EUA”, disse o doutor em Ciência Política.

 

Rogerio destacou a estratégia de autoproteção das grandes empresas de tecnologia com aliança feita em torno do governo Trump. “Empresários como [Jeff] Bezzos, [Elon] Musk, [Mark] Zuckerberg se aliaram ao trumpismo com a finalidade de se fortalecerem e se resguardarem da tentativa de domínio dos outros países sobre as redes sociais. Eles estão se blindando internacionalmente, através do poderio dos EUA”.

 

“Agora, o ponto é se eles vão conseguir dialogar politicamente com Trump por muito tempo, pois esse pessoal das mídias digitais carece de habilidade em articulação política, se acham autossuficientes. E acredito que esse relacionamento vai trazer sérios problemas para a direita internacional”, acrescentou.

 

CONTEXTO BRASILEIRO
Para o especialista, a extrema-direita que alcançou o poder no Brasil com Jair Bolsonaro após uma trajetória que envolveu as manifestações de 2013 e a destituição de Dilma Rousseff, em 2016, não pode ser combatida apenas com as armas institucionais tradicionais.

 

“Nós vimos nas eleições para a prefeitura de São Paulo, o [Guilherme] Boulos abdicar de uma estratégia inovadora da sua campanha ao governo do estado, em que ele se destacou pelo uso das redes, para uma tática mais conservadora nas eleições de 2024, achando erroneamente ter maiores chances na disputa, e isso foi mortal para campanha dele”, afirmou.

 

O estudioso faz ressalvas quanto a mistificação das redes sociais como elemento único no embate contra as forças extremistas. “Traçar uma estratégia de resistência através das redes sociais é uma quimera. Pois é um instrumento que acaba ficando preso na estrutura partidária convencional. Os movimentos sociais - MST, MTST, entre outros - precisam se desgarrar das siglas partidárias e buscar autonomia, sair desse imobilismo criado pela própria esquerda, esta mais preocupada com a viabilidade eleitoral”, concluiu.

 

AMÉRICA LATINA
Apesar das singularidades dos países governados por líderes de extrema-direita na América Latina, o docente acredita que o ponto de convergência na realidade de nações como Argentina, Equador, Chile (ameaçado eleitoralmente pela extrema-direita) e El Salvador está nas redes sociais.

 

“O que unifica a ascensão dessa corrente na América Latina e no mundo são os mecanismos de redes sociais, de manipulação das massas, acho que esse é o ponto em comum da influência dessa nova onda. De modo que afasta o poder dos estados nacionais de ter algum controle jurídico sobre essas redes, capaz de produzir limites”, esclareceu.