quarta-feira, janeiro 29, 2025

Colômbia mostra que é praticamente impossível enfrentar abusos de Trump


Hélio Schwartsman
Folha

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, até que tentou peitar Donald Trump na questão dos voos de repatriação em que os deportados viajam algemados e são submetidos a outros tratamentos degradantes absolutamente desnecessários. A valentia do colombiano não durou um dia.

Como resposta à negativa de Bogotá de receber os voos, a Casa Branca anunciou que iria impor uma tarifa alfandegária de 25% a produtos colombianos, que passaria a 50% na semana seguinte. Petro rapidamente recuou e Washington suspendeu as sanções.

TRUMP TROGLODITA – Em relações internacionais, Trump age como um troglodita. A questão que se coloca para o mundo então é a de como lidar com um valentão não cooperativo. Não é um problema novo.

Como descendentes de primatas gregários, convivemos com esses dilemas há milhões de anos. Eles já estão bem mapeados pela biologia matemática.

Simplificando a história, a cooperação só é possível se conseguirmos disciplinar quem não sabe viver em grupo. E o modo de fazê-lo é através de respostas que envolvem algum tipo de reciprocidade, direta ou indireta. Na literatura, as estratégias vencedoras ganham nomes como “tit-for-tat” e “win-stay, lose-shift”.

PUNIR TRAPACEIROS – Uma das marcas dessa teoria dos jogos que já vem embutida em nossas mentes é a disposição que temos em punir trapaceiros mesmo que precisemos pagar um preço por isso. Vários experimentos psicológicos mostram que temos essa tendência.

Basicamente, Petro teve a intuição correta, mas só a Colômbia não basta. Para enquadrar Trump, vários países teriam de agir de forma coordenada. Imagine todas as nações latino-americanas bloqueando as deportações, o Panamá fechando o canal para navios americanos, a Dinamarca e a Groenlândia mandando Washington desativar a base aérea de Thule, e vários países impondo taxas a produtos americanos.

É mais ou menos zero a chance de isso acontecer. Os próximos anos serão marcados pelo bullying diplomático. Minha aposta, porém, é a de que a democracia americana mais uma vez sobreviverá a Trump.