terça-feira, novembro 12, 2024

Mulheres desprezaram Kamala e apoiaram o machista Trump

Publicado em 11 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet

Ministras de Lula comemoram candidatura de Kamala Harris - Política -  Ansa.it

Mulheres brancas preferiram votar em Trump, o misógino

Wálter Maierovitch
Do UOL

São muitos os temas para comentários depois da surpreendente lavada eleitoral sofrida pelos democratas, um partido dividido internamente entre radicais e centristas, com pouco espaço para os progressistas.

Mais ainda, o Partido Democrata cedeu à vontade de Joe Biden, num acordo em que constou a desistência em concorrer, em troca da indicação de Kamala Harris. Uma espécie de prêmio de consolação ao abrir mão de disputas primárias.

VOTO FEMININO -O ponto que me chama a atenção —e aterroriza quando estão em jogo a sensibilidade humana e a igualdade de todos— diz respeito à escolha feita pelas mulheres americanas.

Todas essas mulheres eram capazes de perceber que Trump é um estridente misógino e machista. Em outras palavras, ele desvaloriza as mulheres e acha os homens mais capazes.

Um de tantos exemplos está no episódio da sua condenação criminal, com sentença a ser publicada neste mês. Trump mostrou a alma e a cara, ao não assumir a responsabilidade e mentir. Processualmente, considerou e expôs negativamente a empresária contratada para serviços sexuais. Sua equipe de campanha a rotulou de “porn star”. Trump desacatou e desafiou até o juiz presidente das audiências.

ENTRE AS BRANCAS – As mulheres brancas representam 37% do total do eleitorado —é o maior grupo de eleitores dos EUA. Desse grupo, calcula-se, 47% votaram em Kamala Harris. Donald Trump foi bem mais votado, com 52%.

Entre mulheres e homens hispânicos, Trump recolheu 54% dos votos, conforme cálculo da NBC News. Neste caso, é preciso lembrar da bola fora de Trump em comício da Pensilvânia, quando humilhou e ofendeu a honra dos porto-riquenhos. As mulheres afro-americanas também abandonaram Kamala. Idem em relação aos homens afro-americanos.

Tanto as hispânicas, quanto as afro-americanas, a incluir os seus parceiros, foram egoístas, pois votaram com base no discurso contra a imigração de Trump. Esqueceram o passado e sufragaram o presidente eleito.

HEROICA KAMALA – De nada adiantou a origem de Kamala e a sua incansável e heroica luta em defesa da liberdade das mulheres.

Kamala, na sua agenda eleitoral, colocou o aborto como uma das prioridades. Nas eleições do meio do mandato presidencial (“midterm”), Kamala empenhou-se pela manutenção da decisão da Corte Suprema, no chamado “case” Roe X Wade. Idem quando era senadora pela Califórnia, onde, aliás, venceu Trump.

A respeito do “case”, a Corte Suprema entendeu, em 1973, que a Constituição protege a liberdade individual das mulheres e lhes garante a opção de fazer aborto, sem que haja nenhuma restrição por parte dos governos.

ELA E HILLARY – As mulheres americanas, pela segunda vez, deixaram passar a oportunidade de ter uma representante na presidência dos EUA.

Anteriormente, em 2016, já vacilaram com Hillary Clinton. Naquela ocasião, Hillary conquistou apenas 11% de vantagem no eleitorado feminino.

Volto a frisar: desde a eleição de 2016, as mulheres representam 30% do total de eleitores. Hillary teve 45% dos votos das mulheres, e Trump saiu com 47%, na ocasião.

Será que vingou o discurso de Trump quando afirmou que “Deus poupou a sua vida para salvar a América”? Essa frase, no X de Elon Musk, teve 2 bilhões de visualizações.

PANO RÁPIDO – James Madison, o pai da Constituição americana promulgada em 1787, escreveu o capítulo dos Direitos e Deveres. Tinha em mente a liberdade, a igualdade e o Estado laico. As mulheres, na sua maioria, trocaram os ideais de Madison pelo engodo de Trump, que o interesseiro Musk elogiou: “You are the media now (“você é a mídia agora”).

Na obra intitulada “A Constituição Americana e o seu Criador”, publicada com tradução brasileira em 1963, as duas autoras, Katharine Wilkie e Elizabeth Moseley, concluíram: “Na sua juventude, [Madison] sonhou com uma nação unificada, cujo povo fosse livre. Na maturidade, elaborou a Constituição. Nela, estavam contidos os ideais da sua juventude. Todos os anos da sua vida foram dedicados a esses ideais e ao país que amou e tão bem soube servir. Sem a menor dúvida, foi um homem que conseguiu realizar os seus sonhos”.

As mulheres americanas preferiram Trump, um misógino e hedonista, a Kamala. Ofenderam a memória de Madison.