domingo, novembro 03, 2024

Em 2020, o “Mauro Cid” de Trump também tinha um “minuta do golpe”


Read the memo from Trump aide's office making the case to fire Defense  Secretary Mark Esper - ABC News

John McEntee era uma espécie de “Mauro Cid” de Donald Trump

Bruno Boghossian
Folha

John McEntee chegou à Casa Branca em 2017 como o sujeito que carregava a pasta de Donald Trump. Tinha a confiança do presidente e uma mesa na antessala do Salão Oval. Era uma versão civil e turbinada de Mauro Cid, o notório ajudante de Jair Bolsonaro. Guardava segredos e seguia as ordens do chefe.

O auxiliar foi ganhando influência. Segundo a revista The Atlantic, McEntee fazia reuniões com advogados que trabalhavam para melar as eleições de 2020, coisa que alguns assessores se recusavam a fazer.

Às vésperas da invasão do Capitólio, ele enviou ao gabinete do vice-presidente um documento que o incentivava a declarar a vitória de Trump — um tipo de minuta do golpe.

PLANOS DE TRUMP – McEntee conhece um aspecto central dos planos de Trump para um segundo mandato em caso de vitória na terça-feira (5). Na reta final do primeiro governo, o assessor era o responsável por vigiar funcionários e expulsar dissidentes.

Agora, ele integra o Projeto 2025, grupo que criou um pacote radical com a previsão de um expurgo na administração pública, para reduzir os limites aos poderes do presidente.

A plataforma de Trump tem como pressupostos uma guinada autoritária, a desfiguração de leis, a construção de um círculo de lealdade absoluta e a asfixia de agentes capazes de resistir a suas ideias. São todas ferramentas essenciais para planos de deportação em massa, perseguição de adversários e, eventualmente, o prolongamento de sua permanência no poder.

MAIS OBSTÁCULOS – Em seu primeiro mandato, Trump enfrentou mais obstáculos internos do que gostaria. O secretário de Defesa recusou um pedido para atirar contra manifestantes, o secretário de Justiça abandonou a conspiração para reverter a derrota do republicano em 2020, e o vice-presidente ignorou pressões para roubar aquela eleição. Trump  agora  trabalha para evitar que isso se repita.

O ex-presidente não esconde seus desejos. Fala abertamente em eliminar o que chama de “Estado profundo”, promete distorcer leis antigas para perseguir imigrantes e sugere usar a força do governo para punir seus rivais. Se vencer, provavelmente dirá que obteve o aval das urnas para governar como um autocrata.