Publicado em 15 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet
Bernardo Mello Franco
O Globo
A polícia ainda vasculhava os arredores do Supremo em busca de explosivos quando Jair Bolsonaro, logo ele, fez um apelo à “pacificação nacional”. “Já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente”, escreveu.
O capitão classificou o atentado de quarta-feira como um “fato isolado”, executado por alguém com “perturbações na saúde mental”. “Isso tem de ser tratado como o que foi: um ato de loucura de uma pessoa”, reforçou seu escudeiro Ciro Nogueira.
AGIU SOZINHO? – As investigações dirão se o chaveiro Francisco Wanderley Luiz agiu mesmo sozinho ao levar bombas para a Praça dos Três Poderes. O ato pode ter sido solitário, mas não foi isolado. Está ligado à espiral de violência política que começou com faixas pedindo um novo AI-5 e culminou na intentona golpista do 8 de janeiro.
O catarinense frequentava fóruns de extrema direita na internet. Gostava de se exibir de verde e amarelo e de publicar ameaças a políticos e juízes. Era um fanático a serviço do ódio, como os que explodiram torres de energia e depredaram prédios públicos após a derrota do Mito na última eleição presidencial.
O homem-bomba chegou a se candidatar a vereador pelo PL. Depois do fiasco nas urnas, passou a clamar por golpe e ditadura em portas de quartéis.
MATAR MORAES – Segundo a ex-mulher, ele acalentava o plano de matar o ministro Alexandre de Moraes. Acabou tirando a própria vida para não ser preso.
As explosões devem dinamitar as chances de uma anistia aos golpistas. Prestes a ser indiciado pela PF, Bolsonaro tentava costurar um acordão para escapar da Justiça. Ontem seus aliados admitiam que a articulação foi pelos ares com o ato terrorista.
O capitão semeou extremismo para colher apoio a seu projeto autoritário. Eleito presidente, usou os poderes do cargo para incitar a tropa contra a imprensa, o Congresso e o Supremo. Agora posa de pacifista para se descolar dos seguidores que ficaram pelo caminho, como o chaveiro que morreu fantasiado de Coringa.