sábado, novembro 16, 2024

Atentado falhou, mas obriga o país a tratar radicais como radicais

Publicado em 15 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet

Explosão em Brasília: relembre crimes de lobos solitários no Brasil

Era o plano de um desequilibrado, que falhou totalmente

Bruno Boghossian
Folha

O atentado na praça dos Três Poderes foi o quarto ataque político radical no país em dois anos. Desde dezembro de 2022, bolsonaristas depredaram Brasília no dia da diplomação de Lula, tentaram explodir um caminhão no aeroporto da capital e protagonizaram a invasão golpista de 8 de janeiro. Para os padrões brasileiros, não é pouca coisa.

Os detalhes do ataque de quarta-feira (13) sugerem que o responsável pelas explosões era um homem desequilibrado, encharcado por um conspiracionismo violento, uma doutrina de radicalização e o mais puro fanatismo antipolítico.

DERRUBAR O COMPLÔ – Um distúrbio grave pode ter sido o gatilho para a execução do plano, mas o conspiracionismo, a radicalização e o fanatismo estão aí.

A marcha extremista se baseia na ideia de que é preciso derrubar um complô institucional. Deixou de fazer parte do submundo da vida nacional há tempos para se tornar uma corrente alimentada à luz do dia, cortesia de plataformas digitais que valorizam conteúdo incendiário, de políticos instalados no centro do poder e de militares que deram guarida a esses devaneios.

Nem todos os brasileiros banhados nesse caldo chegam até a radicalização violenta. Milhões reforçam sua adesão a uma filosofia dura de descrença institucional, milhares vão aos quartéis para lançar os dados de uma revolução armada e centenas tentam provocar uma ruptura com as próprias mãos. Um “lobo solitário” pode fazer estragos maiores ou menores.

É PRECISO PUNIR – Inscrita no mainstream, essa cultura oferece conforto aos que acreditam numa ameaça existencial, representatividade àqueles que têm sede de soluções radicais e poder para os que se aproveitam de suas bandeiras. Punir quem estimula e pratica crimes com o amparo desse ideário é a única maneira de estabelecer limites.

A naturalidade com que gente importante encarou a campanha por uma anistia para o 8 de janeiro agora parece um delírio coletivo.

O país terá que tratar radicais como radicais, na medida de seus atos, do sujeito que planejou explodir um aeroporto à multidão que tentou estourar uma intervenção militar, passando pelo presidente que ficou um mandato inteiro executando um plano de golpe de Estado.