sexta-feira, outubro 25, 2024

Partidos de esquerda vivem momento complicado em vários países do mundo

Publicado em 24 de outubro de 2024 por Tribuna da Internet

Charge do JCaesar | VEJA

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Hélio Schwartsman
Folha

O fraco desempenho do PT e de legendas que lhe são próximas nas eleições municipais está levando muita gente a falar em crise da esquerda e a cobrar desse campo político uma espécie de reforma ou atualização de agenda. Reluto um pouco em extrair uma mensagem inequívoca de um amontoado de pleitos locais que são, em sua maioria, decididos mais por questões de zeladoria do que de posicionamento ideológico.

 Mas, se olharmos para uma série histórica mais ampla de eleições e para o que está acontecendo em outros países, acho que dá para falar que a esquerda vive um momento complicado.

CERTO E ERRADO – Gostaria de destacar dois elementos que podem estar contribuindo para essa situação, um que eu classificaria como erro e outro como acerto.

O erro, a meu ver, é que a esquerda pendeu demais para o lado das questões identitárias e com isso matou ou ao menos enfraqueceu sua bandeira maior, que era a igualdade política de todos os cidadãos.

Não estou obviamente afirmando que racismo e discriminações variadas não sejam um problema. São. Mas penso que precisamos abordá-lo com uma pegada universalista. As diferenças que existem entre as pessoas são, para usar um vocabulário aristotélico, acidentais, não essenciais como o discurso identitário parece sustentar.

DEMOCRACIA – O acerto é que a maior parte da esquerda dá sinais de ter aderido de verdade ao jogo democrático. Até os anos 1980 ainda era comum ouvir de esquerdistas que a democracia burguesa era uma farsa e que eles só participavam de eleições para ter uma chance de assumir o poder.

Essa desejável institucionalização da esquerda, contudo, acabou cedendo para a extrema direita o espaço de discursos de contestação e ruptura, que, talvez por uma questão hormonal, têm forte apelo estético para parte dos jovens.

Em 2022, os jovens penderam para Lula, mas neste ano eles ajudaram a impulsionar a votação de Pablo Marçal. É o que vemos em outros países. O voto dos mais novos foi fundamental para a eleição de Milei e explica os números crescentes de partidos de extrema direita em países europeus.