segunda-feira, outubro 28, 2024

Eleições municipais exibem um Brasil rumo ao “conservadorismo de direita”

Publicado em 28 de outubro de 2024 por Tribuna da Internet

AVANÇO DO CENTRÃO NA MÁQUINA ESTATAL, TORNA SITUAÇÃO DE LULA DIFÍCIL E PREOCUPANTE - Cariri é Isso

Charge do Erasmo (Arquivo Google)

Malu Gaspar
O Globo

As pesquisas indicaram que Jair Bolsonaro teria derrotas importantes neste domingo, e a esquerda, minguadas chances de vitória. Mas, independentemente dos resultados e de algumas surpresas que sempre ocorrem em disputas acirradas, o quadro que se forma ao final deste ciclo eleitoral é o de um Brasil de direita sim, mas principalmente conservador.

O grande número de reeleições – oito em cada dez prefeitos se reelegeram no primeiro turno – é um indicativo disso. O crescimento dos partidos do Centrão, na esteira da despudorada distribuição de emendas, é outro.

DIREITA ORGANIZADA – O fato de que o PL de Jair Bolsonaro fez o maior número de vereadores em capitais no Brasil e de que o PSD de Gilberto Kassab, que flerta mais com a direita que com a esquerda, ter feito o maior número de prefeituras, demonstram que a direita aprendeu a se organizar.

Essa organização se reflete na possibilidade de vitória nas 15 capitais onde haverá segundo turno. Em todas elas, de Norte a Sul, há um representante da direita ou da centro-direita. Já a esquerda ficou encolhida, e está na disputa em apenas seis capitais – onde não lidera, mas está em empate técnico ou em segundo lugar.

No primeiro turno e agora, estão vencendo os prefeitos bem avaliados e o discurso da direita não-extremada.

CONSERVADORISMO -Debates sobre costume estiveram, em maior ou menor grau, presentes nas disputas, em geral onde o bolsonarismo precisava se contrapor à esquerda de forma mais enfática. Sentindo o conservadorismo do eleitorado, até candidatos de esquerda, como Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá (MT), adotaram um discurso mais conservador, e procuraram ou demonstrar moderação ou evitar ao máximo temas como legalização das drogas, aborto, Venezuela, ideologia de gênero.

Chama a atenção, porém, que candidatos que representavam rupturas radicais ou surfaram em um discurso muito extremado também tenham tido dificuldades de se impor.

Tudo isso indica que componente ideológico tem seu peso – especialmente o antipetismo e antiesquerdismo genérico –, mas até um certo ponto. Ao que parece, o eleitor está fazendo por conta própria uma espécie de retrofit do conservadorismo em que se mantém o direitismo, mas se abandona a caricatura.