segunda-feira, março 25, 2024

Vamos esquecer os 60 anos do golpe de 64, como se não tivessem ocorrido?

Publicado em 25 de março de 2024 por Tribuna da Internet

Passeata dos Cem Mil, Rio de Janeiro

As atrizes comandaram a passeata dos 100 mil, no Rio

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

31 de março é um aniversário. Sessenta anos do golpe. Vai passar sem nada? Muitos militares e civis gostariam de comemorar. Lembram-se das ordens do dia que os comandantes militares emitiam, mesmo depois da volta de democracia? As vítimas da ditadura teriam, obviamente, não o que comemorar, mas muito a lembrar. E cobrar. E investigar.

Parece, porém, que Lula patrocinou um acordo. Os militares não falam nada, os democratas e as vítimas da ditadura não comemoram o fim da ditadura, nem pedem julgamentos e busca da verdade. Muito ruim. Trata-se de uma volta ao final dos anos 1970, início dos 80, quando se negociou a abertura.

IMPUNIDADE – A base dessa negociação foi a anistia ampla, geral e irrestrita, que garantiu a impunidade dos que haviam participado da ditadura, incluídos os torturadores e assassinos de presos políticos.

Dirão: mas os esquerdistas subversivos também foram anistiados. Sim, mas já haviam sido presos, exilados, torturados e assassinados. Não há simetria aqui. Foi apenas um jeito de garantir a impunidade e, pois, a retirada dos militares.

Destruíram a democracia, arrasaram os direitos humanos, e tudo bem? Se tivessem sido julgados na forma da lei, como na Argentina, certamente não teríamos passado pela recente tentativa de golpe. O acordo de hoje repete essa assimetria. Diferença importante: o julgamento dos participantes do golpe de 2022. A ver.

PLANO REAL – E temos um verdadeiro aniversário de vida: os 30 anos do Plano Real. Voltaremos ao tema.

Mas fica um registro: Lula, beneficiário da estabilidade do Real, não pode comemorar. Na época foi contra o plano econômico. Por isso, agora, nada a declarar.

Mas a população brasileira pode comemorar 30 anos sem inflação descontrolada. Como seria o Brasil sem o Real? Fácil, olhem para a Argentina.