sábado, março 16, 2024

Depoimentos de militares incriminam Bolsonaro, e não há mais como escapar


O que Bolsonaro quer ao escolher Braga Netto como vice

Braga Netto era o chefão, mas é Bolsonaro que levará a culpa

Carlos Newton

São quatro depoimentos de militares, com informações que se amoldam, montando uma trama sólida que incrimina Jair Bolsonaro na tentativa de golpe de estado. Primeiro, foi o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente; em seguida, o general de quatro estrelas Estevam Theóphilo; depois, o ex-comandante do Exército, Freire Gomes; e, por fim, o ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Junior.

Mauro Cid e Estevam Theóphilo depuseram como investigados no chamado inquérito do fim do mundo, aquele que pretende prender todo mundo e não acaba nunca. Mas os ex-comandantes Freire Gomes e Baptista Junior participaram apenas como testemunhas, e há uma diferença quilométrica entre as duas situações.

NEGAR O ÓBVIO – Como dizem no jargão policial, agora é “batom na cueca”, as provas se avolumam e não adianta negar o óbvio. Em tradução simultânea, ficou absolutamente claro que houve um plano detalhado para anular a eleição de 2022 e deixar o petista Lula da Silva fora do poder.

As peças estão se encaixando à perfeição. Mostram que houve duas falhas definitivas na última mudança dos comandantes da Forças Armadas no governo Bolsonaro, executada a 31 de março de 2022, em pleno aniversário da revolução de 1964.

O verdadeiro comandante do golpe – já falamos isso 500 vezes aqui na Tribuna – era Braga Netto e não Bolsonaro. Com tod certeza, quem errou na avaliação de Freire Gomes foram Braga Neto e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Na ocasião, eles escolheram entre os oficiais de quatro estrelas aqueles que mais demonstravam aversão a Lula.

AVALIAÇÃO ERRADA – Acertaram na mosca ao indicar o almirante Almir Garnier para a Marinha, mas deram um tiro no pé ao escolher o general Freire Gomes para comandar o Exército e o brigadeiro Baptista Filho para a Aeronáutica.

O mais importante, por óbvio, era ter à frente do Exército um general tremendamente antipetista, e Freire Gomes foi mal avaliado. Por mais que demonstrasse desprezo a Lula, o general Freire Gomes era um oficial exemplar e legalista. Somente participaria de um golpe (contra Lula ou qualquer outro presidente) se houvesse eleições manipuladas ou crime semelhante contra as instituições democráticas.

Assim, a deposição de Lula somente não ocorreu devido à nomeação de Freire Gomes. Embora fosse legalista, o brigadeiro Baptista Junior não teria como evitar o golpe sozinho e talvez fosse até levado a aderir, caso sofresse pressão do Alto Comando da Aeronáutica.

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P.S. 1 –
 Além de terem errado na avaliação do general Freire Gomes, a dupla Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira cometeu outro grande erro, que foi fatal para impedir o golpe. Mas não vamos falar disso agora. Depois eu conto, como dizia meu grande amigo Maneco Müller, o “Jacinto de Thormes”. 

P.S. 2 – Nos depoimentos dos militares, poucas contradições. A mais importante é sobre as idas do general Estevam Theóphilo ao Alvorada. Ele foi duas vezes com o general Freire Gomes e uma vez sozinho, diz ele com autorização do então comandante, que não confirma essa versão. (C.N.)