terça-feira, março 19, 2024

Braga Netto mandou pedir dinheiro ao PL para financiar os “kids pretos”


Os kids pretos

Foram os “kid pretos” que comandaram o vandalismo

Malu Gaspar
O Globo

Entre as muitas mensagens captadas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, uma em específico está sendo tratada como pista relevante para ajudar a rastrear os financiadores dos atos golpistas do 8 de janeiro.

É o diálogo em que Cid oferece ao major Rafael Martins de Oliveira auxílio de R$ 100 mil para ajudar a bancar a ida de um “pessoal” para Brasília para manifestações bolsonaristas.

“KIDS PRETOS” – As próprias mensagens indicam que o “pessoal” era um grupo de kids pretos, como são chamados os integrantes da tropa de elite do Exército, formada para atuar em missões confidenciais de alto risco e em operações de guerrilha urbana, insurgência e movimentos de resistência. O apelido de kid preto tem a ver com a cor do gorro usado por esses militares.

O que não está escrito na mensagem, mas Cid esclareceu em seu último depoimento, foi que ele recorreu a Braga Netto para conseguir o dinheiro – e o general mandou que procurassem o PL para pedir recursos.

A informação fez com que a PF voltasse a mira para Braga Netto e o partido, onde ele mantinha uma sala e uma equipe, atuando como responsável pela logística e na montagem de palanques regionais para o bolsonarismo.

A PEÇA-CHAVE – Para a PF, Braga Netto é o personagem mais importante para elucidar se e como o grupo ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro organizou e fomentou os ataques golpistas de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes, quando o plano de dar um golpe de Estado antes da posse de Lula fracassou.

Parte do trabalho envolve descobrir quem pagou a viagem dos “kids pretos” para Brasília, já que a PF acredita que esses oficiais formados nas forças especiais do Exército orientaram a ação dos invasores.

De acordo com fontes ligadas à apuração, imagens das câmeras de segurança da Esplanada e depoimentos dos vândalos que estavam no meio do tumulto naquele dia indicam que havia “kids pretos” em vários pontos estratégicos da Praça dos Três Poderes.

NO COMPUTADOR – As mensagens captadas pela PF no celular de Mauro Cid também indicam que os auxiliares de Bolsonaro contavam com os “kis pretos” para a organização de atos, disseminação de fake news e a própria organização da trama golpista.

Vários delas estão no computador de Braga Netto apreendido na sede do PL. É nesse aparelho que a PF está vasculhando que os investigadores esperam encontrar provas de que o general que já foi ministro da Defesa e da Casa Civil e depois virou vice na chapa pela reeleição em 2022 também coordenava a captação de recursos para o golpe.

As mensagens captadas no celular de Cid mostram que entre novembro e dezembro, quando as discussões sobre a decretação de um golpe de Estado foram feitas no Palácio do Planalto, ele e dois egressos das Forças Especiais, entre eles o major Rafael Martins de Oliveira e o coronel Bernardo Romão Correa Neto, fizeram reuniões com kid pretos em salões de festas de edifícios residenciais na Asa Sul de Brasília onde moram militares que integravam o governo Bolsonaro.

REUNIÃO NA ASA SUL – Uma delas, em 12 de novembro, aconteceu na mesma quadra onde morava Braga Netto, na Asa Sul de Brasília. A PF sustenta que o major Rafael era o “interlocutor” de Cid na coordenação de diversas estratégias adotadas pelos investigados para execução do golpe de Estado.

Nas mensagens, ele pede orientação sobre os locais onde manifestantes devem se concentrar e pede dinheiro para custear a viagem do “pessoal” com “hotel”, “alimentação” e “material”, condensados num documento intitulado “Copa 2022”.

Saber como, quando e por quem esse dinheiro foi distribuído é tarefa prioritária para os investigadores para avançar na apuração dos responsáveis pelo 8 de janeiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Malu Gaspar está dando show, mostrando que a PF já “comprou” a tese da Tribuna da Internet, de que o verdadeiro líder do golpe era Braga Netto. Aliás, o Exército também “comprou” esta tese e se prepara para tomar a patente de Braga Netto, para declará-lo “morto” e pagar pensão à sua mulher. Ou seja, Braga Netto morreu e não sabe. Como dizia Ibrahim Sued, em sociedade tudo se sabe. (C.N.)